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Quem declara que consome droga no Brasil é um jovem homem solteiro da classe A. Este é um dos perfis traçados pelo estudo "O estado da juventude: drogas, prisões e acidentes", divulgado nesta terça-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O trabalho tem como base a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, de 2003, que entrevistou 182 mil pessoas. Deste total, 0,06% se declarou espontaneamente consumidor de drogas, principalmente maconha, cocaína e lança-perfume:

- Os problemas ligados à juventude são um mistério. A sociedade tem falhado nisso. Temos perdido um contigente muito grande de jovens para as drogas e para a violência. Falta uma política voltada especificamente para isso. Então, que liberem ou se reprima efetivamente as drogas - explica o economista da FGV Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.

De acordo com o levantamento, 86% dos consumidores de droga têm entre 10 e 29 anos contra 39% do conjunto da população. Além disso, 99% são do sexo masculino contra 49,82% da população em geral. E 62% (5,8% no geral) são da classe A. Em média, eles gastam com drogas por mês R$45.

Marcelo Neri fez um paralelo com o filme "Tropa de elite", em que universitários de classe alta são retratados como um dos fomentadores do tráfico de drogas. O economista da FGV, no entanto, faz uma ressalva em relação ao seu estudo dizendo que a percepção de impunidade pode fazer com que os usuários mais ricos tenham menos medo de se expor que os mais pobres e que moram em áreas de risco.

Em seu estudo, que também traça um perfil do presidiário e das vítimas de acidentes de trânsito, Marcelo Neri defende que os governos estaduais tenham autonomia para elaborar políticas direcionadas aos jovens em pelo menos três áreas: ensino médio, segurança pública e trânsito.

- No Brasil quando se muda uma legislação, muda-se a legislação nacional, ao contrário de outros países, como os Estados Unidos. Seria muito importante que deixassem os estados mudarem o parâmetro da sua legislação estadual sobre trânsito e violência para a gente até aprender em termos nacionais e ter uma noção do impacto da medida - disse o economista, lembrando que na cidade paulista de Diadema o índice de violência e acidentes de trânsito caiu após a instituição da lei seca.

Campanhas de trânsito devem ter homens jovens como alvo

A pesquisa reforça a importância de se ter os homens jovens como os principais alvos de campanhas educativas de trânsito. Com base em informações do Datasus, do Ministério da Saúde, o estudo mostra que hoje morrem quatro vezes mais homens que mulheres em acidentes de trânsito. Marcelo Neri diz que agora o dito popular "mulher ao volante, perigo constante" tem que ser adaptado:

- Tem que haver políticas (de trânsito) voltadas só para os rapazes porque as moças, felizmente, não são parte desta estatística. Muda um pouco o adágio popular. O que os dados mostram é que "rapazes ao volante, perigo constante".

O estudo conclui que a entrada em vigor do novo Código Nacional de Trânsito, em 1998, reduziu em 5,8% as mortes no trânsito. Por outro lado, as estimativas apontam que o aumento de 1% da proporção de homens entre 15 e 29 anos é responsável por aproximadamente mais 0,30 mortes de trânsito por 100 mil habitantes.

- Acho que o Estado brasileiro começa a acordar para isso, proibindo bebida em rodovias e em lojas de conveniências, pensando em aumentar multas, etc - explica Neri.

Também no caso do trânsito, o economista da FGV defende mais autonomia dos estados para legislar nesta área:

- Falta experimentar inovações na legislação. E se elas são vindas da parte dos estados, elas têm uma grande vantagem. Você não tem que acertar o alvo de primeira porque, se você errar, não estará penalizando todo mundo.

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