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O doleiro Alberto Youssef ao chegar para depor na sede da Justiça Federal em Curitiba nessa segunda-feira (10) | Albari Rosa / Agência de Notícias Gazeta do Povo
O doleiro Alberto Youssef ao chegar para depor na sede da Justiça Federal em Curitiba nessa segunda-feira (10)| Foto: Albari Rosa / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Propina para Costa teria sido de R$ 3,8 mi para compra de Pasadena

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa recebeu propina equivalente a R$ 3,8 milhões para aprovar a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). De acordo com investigadores da Operação Lava Jato, ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, o valor recebido pelo executivo para que "não atrapalhasse" o negócio foi de US$ 1,5 milhão (um milhão e meio de dólares), e não de reais, como foi divulgado até agora.

Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal, após firmar acordo de delação premiada em busca de reduzir sua pena, o ex-diretor confessou ter recebido dinheiro para que não fosse contra a compra da refinaria, ocorrida em duas etapas, entre 2006 e 2012. Os investigadores tentam descobrir agora se outros dirigentes da estatal receberam suborno.

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Os doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater foram interrogados na tarde desta segunda-feira (10) na Justiça Federal de Curitiba envolvendo investimentos na empresa londrinense Dunel Indústria pelo ex-deputado José Janene, filiado ao PP e morto em 2010, envolvendo o caso do mensalão. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Janene teria recebido indevidamente uma quantia de R$ 1,1 milhão no esquema conduzido por Marcos Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A suspeita da investigação é que a Dunel era usada para lavar o dinheiro recebido por Janene. Youssef e Chater são suspeitos de usar empresas de fachada para justificar o repasse de R$ 1,1 milhão à Dunel.

Além dos dois doleiros, também foram ouvidos Ediel Viana da Silva e Carlos Alerto Pereira da Costa. Os quatro são réus na ação penal que trata dos crimes de lavagem de dinheiro de recursos do mensalão - a Ação Penal 470 e que mostrou que recursos públicos do Banco do Brasil e dos Correios foram usados no primeiro governo Lula para comprar o apoio político no Congresso Nacional. Entre os condenados nesse caso no julgamento concluído no ano passado estão o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.

O advogado de Youssef, Tracy Reinaldet, que acompanhou a audiência, afirmou que todos os réus concordaram em falar, abrindo mão do direito de permanecerem calados. "O Alberto Youssef colaborou com a Justiça mais uma vez, como vem fazendo nos últimos tempos. Esse é o intuito dele", disse o advogado. Em relação ao teor do depoimento, Reinaldet destacou os investimentos na empresa Dunel Indústria e Comércio, atribuídos a seu cliente. "O objetivo de hoje (segunda) foi esclarecer os fatos em relação a dois investimentos em uma empresa chamada Dunel, que supostamente teriam sido realizados por Alberto Youssef", afirmou. De acordo com Reinaldet, Youssef não teria realizado os investimentos na empresa. "O Youssef operava juntamente com o ex-deputado José Janene. O investimento não era propriamente dele", afirmou.

"Eu não fiz nenhum investimento na Dunel", disse Youssef em seu depoimento à Justiça e disponibilizado no processo na noite dessa segunda-feira (10). "O que aconteceu nesse caso é que eu havia emprestado um dinheiro ao Carlos Habib Chater e na hora de devolver eu pedi que ele depositasse esse dinheiro para comprar os equipamentos para a Dunel a pedido do senhor José Janene", completou.

O advogado de Carlos Habib Chater, Roberto Brzezinski Neto, não quis comentar o teor do depoimento de seu cliente. "O Carlos [Habib Chater] prestou depoimento e se defendeu das acusações", se limitou a dizer o advogado.

Em seu depoimento, Chater confirmou a versão de Youssef de que o investimento na Dunel foi um pagamento de empréstimo. "Isso foi uma devolução de empréstimos que eu havia pego com o seu Alberto Youssef", afirmou. "A Angel fez algumas operações para socorrer o posto", completou. Ele acrescentou que não tinha conhecimento da relação entre Youssef e Janene.

Chater disse que os empréstimos de Youssef e outros doleiros ocorreram por causa da má situação financeira do Posto da Torre. "Eu na verdade apagava incêndio todos os dias. Eu acordava às 6 horas da manhã e dormia às 21 horas só pensando em como não fechar o meu negócio. Hoje eu estou aqui respondendo esses processos por um problema financeiro, porque eu não quis olhar a realidade e fechar o meu negócio", afirmou o réu.

Ediel Viana da Silva, apontado como braço direito de Chater, disse em seu depoimento que emprestava para Chater a conta de sua empresa, Angel Serviços Terceirizados, por causa da situação financeira do Posto da Torre. "O posto sempre teve situação financeira complexa", disse. Ele negou ter conhecimento da origem do dinheiro que passava por sua conta.

Carlos Alberto Pereira da Costa, que atua na própria defesa no processo, não falou com a imprensa. Durante o depoimento, o advogado afirmou que era apenas advogado da CSA. "Na CSA eu era um funcionário. Fui convidado para atuar como advogado da empresa em 2006", disse. Sobre os recursos investidos na Dunel, Costa esclareceu que a CSA foi emprestada pelos proprietários para Janene. "O senhor José Janene detinha recursos, mas eram informais. Então o seu Claudio e seu Rubens [supostos proprietários da empresa] disponibilizaram a empresa CSA para que fossem feitos os investimentos", explicou. Ele também confessou que sabia da existência de contratos falsos. "Existia a necessidade de formalizar pela CSA também a comprovação do investimento na Dunel", disse.

Carlos Costa também afirmou à Justiça Federal que os proprietários da CSAsabiam do esquema. "O seu Rubens detinha todo o conhecimento, sabia da operação, sabia de onde vinham os recursos e qual a necessidade disso".

Entenda o caso

Os interrogatórios dessa segunda-feira (10) dizem respeito à ação penal que trata da prática de lavagem de dinheiro pela movimentação, dissimulação e conversão em ativos lícitos de recursos originários do esquema mensalão. Segundo a denúncia, o ex-deputado José Janene teria recebido indevidamente uma quantia de R$ 1,1 milhão no esquema conduzido por Marcos Valério.

Deste valor, cerca de R$ 537 mil teriam sido transferidos de contas controladas por Carlos Habib Chater. Outros R$ 618 mil teriam origem na empresa CSA Project Finance Consultoria, controlada por Youssef. O dinheiro teria sido investido na empresa londrinense Dunel Indústria, que teria sido usada para ocultar e dissimular a origem ilícita dos recursos investidos.

Ediel Viana da Silva é acusado de ser laranja de Chater na empresa Angel Serviços Terceirizados, usada no esquema. Carlos Alberto Pereira da Costa é acusado de ser laranja de Youssef na empresa CSA.

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