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Diversas autoridades manifestaram indignação e pêsames diante do assassinato da menininha Ágatha, de 8 anos de idade, que cometeu o crime de existir e passear com o avô em uma Kombi no Rio de Janeiro. Muitos foram apedrejados, obviamente. Nessas horas, é natural que surjam os que estão genuínamente revoltados com a ineficiência crônica das nossas autoridades boquirrotas e também a turma da "virtude ostentação", que precisa fingir indignação contra tudo e todos porque está na moda.

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Há manifestações melhores e piores, cada um dá o que tem. Considero importante que as autoridades se manifestem: a morte de Ágatha não é um efeito colateral, é uma tragédia humana e devemos sim nossos pêsames a essa família.

As autoridades obviamente têm o dever de estancar a matança que destrói famílias há décadas no Rio de Janeiro pelos mais variados motivos. Qualquer que seja o interesse, negócio criminoso ou corrupto da vez, há apenas uma lógica: algumas vidas não valem nada. É dever das autoridades mostrar que toda vida humana tem o mesmo valor e relembrar o povo que devemos nos consternar diante da perda de um dom divino, o mais sagrado, por qualquer que seja o motivo. Ainda que não tenham um pingo de humanidade na alma, nossas autoridades juraram sobre uma Constituição que estabelece a vida como o bem jurídico mais importante no Brasil.

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Houve um movimento do CSI Twitter, um aglomerado de inteligentinhos que ignora a sacralidade da vida humana para se dedicar a investigar, do alto de seu pedestal de leite com pêra, um crime real que esfacelou uma família. Isso cabe às polícias e ao Ministério Público, não a filhotes do ar condicionado e das palavras difíceis com zero experiência prática na área da Segurança Pública.

Está até agora quente o debate sobre quem é o culpado. Seria Witzel e seu fascínio por atirar na cabecinha dos bandidos? Seriam os governadores anteriores, corruptos e lenientes com o crime organizado? Seriam os justiceiros sociais do Leblon, que choram no twitter vidas perdidas enquanto dão dinheiro aos traficantes? Seriam os que se dizem conservadores enquanto têm relações pessoais e profissionais com milícias? Bom, cheguei a ver inteligentinho botando a culpa no cadáver do Brizola, o que não soluciona o crime mas lacra como se perspicácia fosse.

Há ainda uma outra onda, a do duelo sobre o pacote anticrime do Moro em cima do cadáver de uma criança. O próprio ministro, depois que seu projeto foi muito atacado por expandir o instrumento de excludente de ilicitude para situações ilícitas em todo o mundo civilizado, acabou trazendo o assunto à tona. Recebeu apoio de alguns deputados mais deve ver o projeto da inimputabilidade para pessoas armadas ir para o ralo, pelo menos por agora. Não foi lá uma linha muito cristã de atuação, mas não calou diante de uma morte, reagiu com o que tinha no coração naquele momento. Para mim, é melhor que calar.

Na verdade, entendo os motivos que levam as pessoas a todos esses posicionamentos, ainda que discorde de boa parte deles. Cada um reage de um jeito diante da barbárie. Só não entendo o silêncio, a indiferença, principalmente de quem fez toda a carreira política no Rio de Janeiro.

É absolutamente perturbador que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, todos com carreiras políticas feitas graças ao povo do Rio, tenham calado. Sinceramente, não sei como interpretar nem me atrevo. Bolsonaro tem uma filha praticamente da mesma idade da garotinha que foi assassinada, difícil imaginar que nem ele nem a esposa julguem necessário se dirigir publicamente a essa família para externar consternação.

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Aliás, não falaram sobre a menina Ágatha, não falaram sobre outras várias crianças assassinadas nos últimos tempos e, pasmem, nenhuma palavra sobre os dois policiais militares assassinatos em menos de 24 horas no Rio de Janeiro. Não eram defensores da família e da PM?

Mais intrigante que isso são as escolhas de manifestação pública dessas autoridades numa hora em que boa parte do Brasil reflete sobre a segurança e o futuro dos próprios filhos. Witzel deu parabéns ao município de São Gonçalo. Bolsonaro fez diversas postagens com vídeos de Paulo Guedes e Salim Mattar falando de economia. Os filhos tiveram o mau gosto de postar críticas do filme Rambo que viram no final de semana, o mesmo em que a menininha Ágatha foi sepultada.

Não consigo analisar esse silêncio, entender os motivos. Talvez por julgue que toda pessoa tem nem que humanidade dentro de si, nem que seja um pingo, é um mistério para mim o silêncio. Já ouvi gente argumentando que seriam taxados de oportunistas ou aproveitadores, como ocorreu com outras autoridades. Quem tem medo disso pode ocupar cargos tão importantes? Vale a pena calar diante do assassinato de um anjo de 8 anos, não dizer nada à família, para contentar quem iria criticar de qualquer jeito? Não tenho respostas. Há momentos em que o silêncio é mais eloquente que as palavras.