Não, querido leitor. Você não leu errado. Nesta terça-feira o presidente Jair Bolsonaro, evangélico batizado no rio Jordão em 2016, mas que ainda se diz católico, participou do ato de Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria.
O presidente, com este ato, atende pedido do deputado e cantor gospel Eros Biondini (PROS-MG), que trouxe ao Planalto integrantes da Congregação Mariana e outros grupos católicos, bem como o bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney, Dom Fernando Rifam.
O convite para a ocasião, amplamente divulgado nas redes sociais, grupos de WhatsApp e até mesmo por políticos, no entanto, ia muito além da fé cristã.
Como a situação não é das mais fáceis, e sempre que se está em apuros apela-se a Deus, não seria um mau momento para tentar algo na seara do Vaticano. A tag #OrePeloBrasil ficou entre as mais comentadas do Twitter esta semana.
Entre os textos, outras intenções: teve quem pedisse pelo presidente, mas também houve quem se manifestasse contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e os parlamentares integrantes do Congresso Nacional. Por fim, há quem até pedisse apoio para a manifestação de apoio ao presidente, marcada para o próximo dia 26.
E não para por aí: muita gente lembrou que, segundo a tradição católica, a aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, no ano de 1917, pediu aos pastorinhos para que conseguisse afastar “as guerras e o comunismo”.
O que foi revelado aos pastorinhos à época, foi: “A guerra (Primeira Guerra Mundial) vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. […] Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora dos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz”.
(Retirado de ‘As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, de Antonio Augusto Borelli Machado, Editora Vera Cruz Ltda., 35ª edição, São Paulo, 1993, pp. 46-47.)
De fato, o papa Pio XII consagrou todo o mundo e a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Portanto, já englobava o Brasil naquela ocasião.
Por via das dúvidas, o rito que seria tal como uma ‘reparação dos pecados’ seguiu com inflamado discurso do deputado Eros Biondini, fazendo uma analogia aos atentados vividos pelo papa João Paulo II, em 1981, e por Bolsonaro, durante a campanha, ano passado.
Depois da versão evangélica da pedra angular, protagonizada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, agora os católicos tem sua versão. “Nós remetemos ao livramento que o senhor teve. Alguma mão impediu que aquela faca penetrasse dois centímetros a mais”, afirmou o deputado, quase que aos moldes do que disse o papa após o atentado sofrido anos antes.
Agora basta esperar que o milagre de Fátima elimine o “comunismo”, que parece ser o único e verdadeiro mal atual do Brasil. Pelo menos aos olhos do governo.
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