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Dias atrás, em uma entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, o procurador símbolo da Lava Jato, Deltan Dallagnol, ousou repetir o que construir sua fama na era petista: desafiar autoridades eleitas pelo povo quando silenciam diante de potenciais casos de corrupção. O problema é que agora ele cruzou uma linha sagrada para a militância que até então o adorava: criticou Jair Bolsonaro.

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Não é segredo para ninguém, até porque ele próprio diz com todas as letras, que o presidente da República não economiza esforços para proteger os filhos. O problema é que, como ele, os filhos são políticos tradicionais e fisiológicos de longa data, gente de antes da Lava Jato. Esses tipos não se conformam com essa novidade brasileira: investigar poderoso e prender corrupto. Daí todas as ações do presidente da República contra a Polícia Federal, o COAF e até o ministro Sergio Moro.

Quem votou em Jair Bolsonaro é livre para apoiar esse tipo de ação, todas as pessoas são livres para ter suas próprias opiniões. No entanto, ninguém tem direito de possuir os próprios fatos.

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Deltan Dallagnol disse à Gazeta do Povo o mesmo que tem sido repetido por muitos bolsonaristas: a promessa de ser implacável com a corrupção parece ter ficado na campanha. A bandeira abraçada em discursos está deixando a desejar na prática.

Bastou a mais mínima crítica, ainda que óbvia e centrada nos fatos, para que o namoradinho dos lavajatistas fosse jogado ao inferno pelos digital influencers do bolsolavismo. Conclusão uníssona e inequívoca: Deltan Dallagnol é esquerdista.

Isso mesmo. Aquela coisa toda que vocês viram na Lava Jato, incluindo prisão de inúmeros figurões da esquerda e as mensagens reveladas pela Vaza Jato, era toda uma grande armação. Na verdade, Deltan Dallagnol era, o tempo todo, apenas um esquerdista infliltrado que se virou do avesso para colocar Lula na cadeia com o objetivo de.... de... de... de quê mesmo?

Não importa, nação brasileira. Se os seguidores dessa patota já acreditam que pode haver dúvida sobre o fato de a Terra ser plana, não precisam de comprovação de nenhuma maluquice. E, voilà, começou o assassinato de reputação de Deltan, o esquerdista.

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Caso todos eles estivessem certos, quem seria o direitista da vez? Glenn Greenwald? Afinal, a maior carga contra Deltan Dallagnol veio dele. Algo que me intriga é por que pessoas que colocaram a maior lupa e pente fino na Vaza Jato - com razão - simplesmente acreditam na palavra de gente que é useira e vezeira de se desdizer. Ainda que eu não entenda, é o que acontece.

Você pode amar ou odiar Deltan Dallagnol. Você pode ser do time que, como eu, nem acha saudável para a democracia que ele seja visto como mais do que um funcionário público. Mas ninguém pode negar a covardia do assassinato de reputação que a direita bolsonarista está fazendo com ele, sob o silêncio covarde e cúmplice de gente que só tem um lugar ao sol na política e na comunicação graças à Lava Jato.

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É preciso não ter um pingo de decência para calar diante do que os bolsonaristas fazem com Deltan: espalham ilações e mentiras tentando fazê-lo dobrar a espinha diante da força da corrupção.

De toda essa salada, temos um fato: não existe mais coexistência entre bolsonarismo e lavajatismo. A quem durante muito tempo afagou no peito as duas bandeiras, sinto dizer que chegou a hora de fazer a escolha. Os bolsonaristas voltaram suas baterias contra a Lava Jato. Serão tratados da mesma forma que os petistas quando fizeram isso? Duvido. Corrupção boa de combater é sempre a do outro.