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O intelectual venezuelano Ricardo Hausmann, professor da Escola de Governo da Universidade de Harvard, foi o primeiro a vocalizar a necessidade de uma Intervenção Internacional no país, tema já abordado em reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU, onde a Caritas apresentou o número chocante: 300 mil crianças podem morrer de fome nos próximos meses.

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A grande questão prática é como promover uma operação eficaz sem transformar a região em um barril de pólvora. Hausmann, que já ocupou cargos importantes no governo quando a atual oposição a Maduro estava no poder, entende que este grupo político tem legitimidade para liderar a transição e estabilizar o país.

Não é esta a visão dos antigos líderes estudantis venezuelanos, coordenadores do Rumbo Libertad, que vieram para o Brasil assim que tiveram suas cabeças colocadas a prêmio por Nicolás Maduro, por organizarem os protestos populares do ano passado e conseguirem o apoio das Forças Armadas.

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Em entrevista exclusiva ao blog A Protagonista, Roderick Navarro diz que apenas uma ruptura total com a antiga forma de fazer política e liderar a Venezuela seria capaz de estabilizar o país.

Nós, na Venezuela, propomos uma ruptura total com a classe política do nosso país. Também propomos uma ruptura total com os intelectuais que defendem esses políticos, e os jornalistas que defendem esses políticos, e os empresários que financiam esses políticos, e os sindicatos que ajudam esses políticos, e também com os artistas que promovem esses políticos. É ruptura total.

O Rumbo Libertad, encabeçado por Roderick Navarro e Eduardo Bittar, fez seu centro de operações no Brasil desde que os dois chegaram ao país junto com a procuradora-geral Luisa Ortega, que rompeu com Maduro e foi destituída de seu cargo. Os coordenadores do movimento têm uma ordem de captura do governo Venezuelano e se organizam para obter apoio internacional e organizar a resistência dentro de seu país.

Aqui contamos com segurança e com o acesso à imprensa livre do mundo livre e também com as organizações internacionais e os atores políticos internacionais que querem ajudar o povo venezuelano. (…) Estamos cumprindo um papel, uma missão pelos nossos companheiros na Venezuela que estão lutando e, no momento em que nós consigamos tudo aquilo a que nos propusemos para voltar às ruas, então voltaremos ao país apesar de todos os riscos que isso significa.

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Roderick Navarro defende uma Intervenção Humanitária na Venezuela, com base em crime de Lesa-Humanidade cometido pelo regime de Maduro.

“É um crime de Lesa-humanidade o que faz o castrismo em Venezuela porque, já disse Delcy Rodriguez (presidente do Parlamento), Tareck El Aissami, representante do Hezbollah na América Latina e vice-presidente da Venezuela, já disse Padrino López, que é o chefe das Forças Armadas, já disse Diosdado Cabello, que é o representante do narcotráfico na Venezuela, eles dizem que na Venezuela não há uma emergência humanitária, que não há uma crise humanitária e disseram da seguinte maneira. ‘Temos de negar que uma crise humanitária existe porque, senão, o império nos vai invadir.’ Estas são as palavras do chavismo.”

Não tomar conhecimento de que estão aniquilando nossas crianças por falta de alimentos e também parte importante de nossa população por falta de remédios, isso já é um crime de Lesa-humanidade.

Há uma distância entre a teoria e a prática: os países interessados em apoiar uma intervenção precisam de uma garantia de que os venezuelanos serão capazes de manter a estabilidade após a queda de Maduro. Sem isso, a região se transforma em uma zona de guerra, com consequências humanitárias que podem ser ainda piores do que o caos que se vê agora.

Para que isso seja possível, nós, venezuelanos, temos de cumprir uma tarefa fundamental, temos de gerar confiança em nossos aliados internacional para que eles saibam que, na Venezuela, há uma equipe de pessoas, mas também há um plano de governo que pode ser executado no momento em que Maduro seja tirado do poder. Se essas duas coisas não estão muito claras para a comunidade internacional, mas também para os venezuelanos, esta intervenção humanitária não vai poder acontecer. Porque quem vai governar não é a coalizão de países que ajuda a nossa sociedade, é uma tarefa de responsabilidade dos venezuelanos.

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O Rumbo Libertad lançou um programa de governo de transição com as ações mais urgentes a serem tomadas em 7 áreas diferentes do governo assim que Maduro saia do poder. Está em busca de novas lideranças para formar um governo de transição e contribuir para a consolidação do plano.

A prática da intervenção só seria possível com apoio militar de outros países.

“O que aconteceria se houvesse uma Intervenção Humanitária? Seria com a doação de toneladas de alimentos para a população, além da entrada de toneladas de remédios de todo tipo, para começar. Mas também isso tem de ter apoio militar, de uma coalizão de países, por quê? Porque estamos falando da presença do terrorismo islâmico, Hezbollah, que tem guerrilhas urbanas assessoradas pelos iranianos, estamos falando das FARC como guerrilha, eles controlam territórios com armas dentro do nosso território, também está presente a guerrilha do ELN.”

As Forças Armadas da Venezuela, segundo Roderick Navarro, não poderiam nem proteger a população nem impedir que a intervenção se transformasse em um conflito grave.

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É que o alto mando militar da Venezuela está envolvido na atividade do narcotráfico e o segundo escalão está envolvido em todo um processo de clientelismo político por meio da criação de empresas de alimentos que geram cadeias de corrupção. É o mesmo modelo que existe em Cuba. Então são os baixos oficiais, os mais jovens dentro das nossas Forças Armadas, que são patriotas e estão a favor da resistência civil venezuelana, precisam do apoio de militares internacionais que possam ajudar a derrotar o inimigo, neutralizá-lo.

Para o coordenador do Rumbo Libertad, a Venezuela perdeu muito tempo envolvendo o povo em uma polarização artificial entre esquerda e liberais, quando ambos os grupos representam elites políticas, econômicas, midiáticas e culturais que podem até se opor, mas têm algo em comum: se consideram um degrau acima do povo.

Nós, na política, temos o papel de promover essa luta, mas também queremos que todas essa novas referências que surgiram na juventude, que está cansada do castrismo, que está cansada de todos esses jornalistas, intelectuais, políticos e artistas que não apresentam nada novo para o nosso país, decidimos nós fazer o que é novo para a Venezuela.

O slogan do Rumbo Libertad é “Liberdade ou Nada”. Seus líderes falam em paz e estabilização, mas organizam táticas de desobediência civil e intervenção que necessariamente implicarão conflito.

Sem o conflito não vai haver paz, não pode haver paz, porque a paz sem liberdade não existe.

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Confira a entrevista completa de Roderick Navarro: