O povo mostra na prática que quer mudanças, mas a cabeça do político profissional não assimila. Alberto Fraga chegou à Câmara dos Deputados em 1997, ainda ligado à função de Coronel da PM de Brasília, cuidando da segurança da casa. Logo depois virou suplente de deputado e engatou mais de duas décadas de cargos públicos.
É próximo de Jair Bolsonaro, que já fez diversas declarações a seu favor, mas pediu para pegar leve nessa história de ter cargo no governo. A boataria, não desmentida pelo parlamentar, fazia dele um quase-ministro nos dias após a eleição.
Só não esteve no parlamento defendendo o porte e uso de armas de fogo no período de 2010 a 2014, quando foi Secretário dos Transportes do Distrito Federal, cargo que lhe rendeu uma condenação em segunda instância por concussão. O Tribunal de Justiça o condenou por pedir e receber R$ 350 mil para conseguir que uma cooperativa firmasse contrato com o governo distrital.
Não é a primeira condenação. Há outra, lendária em Brasília, por porte de arma de fogo. Era um Smith & Wesson – revólver calibre 357 Magnum, de uso restrito, carregado, encontrado em seu flat, no Golden Tulip, o mais chique de Brasília e preferido dos parlamentares pela proximidade com o Congresso Nacional. Ele também guardava 283 munições da arma de uso restrito e 1112 munições para outras armas – isso mesmo: mil cento e doze.
Conhecedor do assunto, surpreendeu todo mundo ao usar politicamente a tragédia em Campinas para dar, no plenário da Câmara de onde está se despedindo, um veredicto inusitado: a culpa é da Rede Globo de televisão.
“De tanto a Rede Globo de televisão trazer para o país notícias de um lobo solitário de lá dos Estados Unidos que, de forma enlouquecida pega uma arma e sai atirando nas pessoas. De tanto a Globo insistir nessa questão porque é a favor do desarmamento do povo brasileiro, agora começam a surgir casos no Brasil. Quero lamentar o que aconteceu em Campinas, onde um louco, após assaltar um banco, um assalto frustrado, pega sua arma, atira contra 8 pessoas levando a óbito 4 delas.” – discursou o deputado algumas horas após o massacre.
Se ninguém entendeu por que a culpa é da Globo – eu nem sabia que nenhum outro órgão de imprensa noticiava massacres internacionais -, menos gente entendeu de onde o deputado tirou a história do assalto a banco frustrado, que não aconteceu. Mas Alberto Fraga não tem medo de errar:
“Eu digo sem medo de errar: esse tipo de atitude deve-se à repercussão que a Rede Globo de televisão traz casos de Estados isolados americanos para aqui servir de exemplo no Brasil.” – sentencia o deputado Alberto Fraga sobre o massacre em Campinas.
Não consta que um massacre como o que se viu, perpetrado de maneira fria e seguido de um suicídio, seja um caso simples de explicar como alguém que copia algo visto na TV. Ninguém chega a esse nível de barbárie porque viu uma notícia. O deputado, que é policial experiente, sabe bem.
Apenas uma nota, para demonstrar o quanto é complexa a personalidade humana: Alberto Fraga é autor de várias leis, algumas delas importantíssimas. Foi ele quem teve a ideia de tipificar o crime de sequestro relâmpago, o que facilitou o combate a essa modalidade. Ele também é o criador da licença-maternidade para mães adotivas.
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