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Por que elegemos presidentes contrários ao Plano Real?
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Hoje, ao completar 25 anos, o Plano Real é praticamente uma unanimidade. Não só controlou a inflação galopante que esfacelou a vida financeira de gerações passadas como assentou as bases para o equilíbrio fiscal que ainda buscamos.

Foi devido à estabilidade do Plano Real que também conseguimos vencer um desafio que parecia intransponível: colocar todas as crianças na escola. Aquela escola pública de que se lembram com carinho nossos pais e avós tinha muita qualidade mesmo, mas era para poucos. Em torno de 60% a 70% das crianças tinham acesso. Isso mudou com a possibilidade de planejamento vinda da estabilidade.

Os responsáveis por elaborar e implementar o Plano Real colheram os frutos da empreitada. Mas, por aquelas coisas da política brasileira, os opositores também colheram os mesmos frutos. Desde Fernando Henrique, só elegemos presidentes contrários ao Plano Real.

Vamos lembrar que 1994 era ano eleitoral e, como sempre, o posicionamento de muitos políticos sobre temas de grande relevância pouco tem a ver com o interesse do povo brasileiro. Estão interessados em se reeleger, mesmo que estejam militando por um futuro pior para todos nós.

Some-se ao fogo da eleição o fato de que o país vinha calejado de planos econômicos fracassados que esgarçaram não só a economia, mas também diversas famílias. Era muito mais fácil emplacar numa eleição com um discurso crítico do que entender ou apoiar o Plano Real.

Assim, obviamente, se comportou o PT. Lula era o principal adversário de Fernando Henrique em 1994. De forma irônica, também foi o principal beneficiário da estabilidade trazida pelo Plano Real. Somente porque teve a casa em ordem já na chegada conseguiu implementar as políticas públicas que o tornaram o presidente com maior aprovação ao sair do cargo.

"Eu tenho uma avaliação de que esse plano econômico é um estelionato eleitoral", chegou a dizer Lula em uma entrevista coletiva. Cara-a-cara com Fernando Henrique, ambos rodeados de repórteres, disparou: "Eu vou lembrar uma coisa, quando o Collor lançou o programa dele, imediatamente o povo dava 90% de aceitação do Collor, né? Eu acho que a gente não pode jogar com essa coisa imediata, é preciso ver no longo prazo se a economia brasileira resiste".

Não há registros de declarações de Dilma Rousseff sobre o Plano Real na época em que foi lançado. Anos depois, já candidata à presidência, ela elogiou a estabilidade herdada por seu antecessor. No entanto, o partido de origem dela, o PDT de Leonel Brizola, era contra o Plano Real.

Michel Temer, o único dos presidentes que não foi eleito após o real - foi eleito para vice-presidente de Dilma, não encabeçou chapa - foi ironicamente o único a ter votado a favor em 1994.

Jair Bolsonaro, outro presidente a ter a chance de implementar suas políticas devido ao fim da hiperinflação, também vociferava contra o Plano Real nos idos de 1994. Dizia estar alinhado aos interesses dos funcionários públicos e descrente da eficácia. Aliás, achava até melhor que o país decretasse novamente uma moratória da dívida externa.

Perguntado se acreditava no Plano Real, disparou: "Não, não acredito nele de jeito nenhum. A minha classe não acredita, o servidor público não acredita, todas as esferas... não acredita também". Anos depois, já candidato, explicou que votou contra o Plano Real porque haveria desvantagem para os funcionários públicos federais.

"Isso foi em 94, né? Aquele espaço entre janeiro e fevereiro de 94, dois meses, né? Quando começou o 1o de março, começou a nascer a URV, a média do cálculo do salário dos servidores do Executivo, Legislativo e Judiciário passou a ser diferente. Nós, do Executivo, nós do Exército, eu queria que fosse usada a mesma média para chegar a um valor atualizado um pouco maior. Como eu não tive aceitação, votei contra.", explicou o então candidato à presidência Jair Bolsonaro.

Obviamente as pessoas votam para Presidente da República com base em múltiplos fatores. Não deixa de ser interessante perceber que, apesar de reconhecermos como o Plano Real foi fundamental para o Brasil, ter ficado ao lado dele - e, por tanto, do nosso futuro - jamais foi uma questão importante para avaliar um candidato à presidência.

Fernando Henrique se elegeu a bordo do Plano Real. Depois dele, elegemos apenas presidentes que foram contrários ao real - e o único favorável a chegar à presidência não foi eleito.

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