O PT sofreu derrotas expressivas em 2014 e 2016 no estado de São Paulo. Viu diminuir sua bancada de deputados federais e estaduais, perdeu no primeiro turno a eleição para o governo e para a prefeitura da capital e também deixou de comandar cidades de grande porte – como as do Grande ABC, berço do partido. Além disso, um arquirrival petista, José Serra (PSDB), tirou de Eduardo Suplicy a vaga no Senado.
O quadro de devastação – ou de “tsunami antipetista”, na definição de membros da própria legenda – abriu questionamentos sobre se o PT terá forças para obter na eleição de 2018 um resultado satisfatório no estado em que foi fundado. O mau desempenho até o momento do pré-candidato do partido ao governo, Luiz Marinho, ajuda a reforçar os maus presságios. O ex-prefeito de São Bernardo do Campo tem ficado atrás de João Doria (PSDB), Paulo Skaf (PMDB) e Márcio França (PSB) na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes.
Integrantes do partido, no entanto, acreditam que o pior já passou. Eles apontam pesquisas que revelam um aumento na preferência dos brasileiros pelo PT. Um dos levantamentos, divulgado em abril, mostra que o PT é a sigla favorita de 20% dos eleitores. O patamar dá ao partido, com folga, a liderança no quesito. “O PT voltou a ser o partido com a maior preferência dos partidos brasileiros. A gente está em franca recuperação, o que mostra uma boa perspectiva do ponto de vista eleitoral para esse próximo período”, destacou o presidente do PT da capital paulista, Paulo Fiorilo.
Outro componente que traz otimismo aos petistas é a desilusão dos brasileiros com a gestão de Michel Temer. Quase como um mantra, a frase “vocês não diziam que era só tirar a Dilma que tudo ia melhorar?” (ou variações dela) é repetida pelos petistas para abordar a impopularidade do governo do emedebista e o fato de problemas como o desemprego não terem sido reduzidos.
“O PT não é mais o partido que vai ser responsabilizado pela situação econômica, pelo desemprego, por isso ou aquilo. Muito pelo contrário. Hoje, as pessoas pensam o PT como o partido que pode dar esperança de melhorias, de fazer o país voltar a crescer, ter distribuição de renda, o que se perdeu nesses anos de governo Temer”, afirmou a líder petista na Assembleia Legislativa de São Paulo, Beth Sahão.
Desafios eleitorais
Entre as ações que o PT vai adotar para tentar reverter o mau momento em São Paulo está o lançamento de duas candidaturas ao Senado. Geralmente, os partidos cedem um dos postos às legendas coligadas, mas os petistas apostarão no favorito Eduardo Suplicy e no ex-secretário Jilmar Tatto. “Nossas alianças estão nos permitindo indicar os dois nomes. Isso pode ser revisto mais para a frente, mas é como vamos agora. O Suplicy está bem colocado. É uma vaga praticamente certa, é só a gente não errar no processo de campanha. E vamos com Jilmar Tatto buscar a segunda vaga”, disse o presidente do PT no estado, o pré-candidato Luiz Marinho.
Marinho, que foi também ministro no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicou que o partido deve apostar em nomes que estão fora da Câmara para reforçar sua bancada de deputados federais – evitando, assim, o retrocesso de 2014, quando a legenda elegeu seis parlamentares a menos do que na eleição anterior. Nomes como os ex-ministros Alexandre Padilha e Carlos Gabas, o ex-prefeito José de Filippi e a vereadora paulistana Juliana Cardoso estão entre as alternativas.
O pré-candidato relembra que em 2014 o partido fez o que ele chamou de “aposta corintiana” para inflar a bancada – o então ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, que acabou sendo o deputado mais federal votado da legenda naquela ocasião. “E nós esperávamos que ele tivesse ainda mais votos”, disse. Sanchez voltou a comandar o Corinthians e tem sinalizado que não deve concorrer à reeleição.
Ao falar da própria pré-candidatura, Marinho adota o discurso típico dos concorrentes, com confiança e a ideia de que o fato de a disputa ser em dois turnos contribui para que a briga esteja aberta. “Tudo pode acontecer nesse processo eleitoral. Desde o ‘João Sem Palavra’ [João Doria, do PSDB] estar no segundo turno ou não estar. É difícil dizer quem vai para o segundo turno. O PT tem um tamanho e tem toda a condição de disputar com quem tiver que encarar”, afirmou.
Do lado de quem combate o PT em São Paulo, a ótica de quem comanda o partido é de que os petistas seguem com um eleitorado cativo e uma força considerável, mas com pouco fôlego para reverter o quadro ruim.
“O PT não tem condições de disputar as eleições com nenhuma perspectiva de vitória em São Paulo. E acho que até mesmo a eleição do Suplicy, que todo mundo dá como certa, não deve ocorrer”, declarou o deputado federal Alex Manente (PPS-SP). “A gente não subestima nenhum adversário. Mas o PT está muito mais fraco do que já foi”, ressalvou o também deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP). “O PT é um partido esfacelado no estado de São Paulo”, destacou, de forma ainda mais incisiva, Major Olímpio, pré-candidato ao Senado pelo PSL, o partido de Jair Bolsonaro.
No entanto, todos os opositores reconhecem a força eleitoral do ex-presidente Lula – mesmo com ele estando preso e com possibilidades apenas remotas de ter seu nome nas urnas. Entre os petistas, a crença na capacidade de Lula é maior e o discurso de que o partido não deve trabalhar com “planos B” ainda prevalece. No entanto, Luiz Marinho deixa uma ressalva no ar: “se realmente não for possível que ele dispute, o ideal é que o próprio Lula indique quem ele acredita que deve ser o candidato a presidente”.
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