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O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante entrevista coletiva.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante entrevista coletiva.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

É papel dos ministros da economia tentar atrair investimentos externos para o país e, neste sentido, a viagem de Paulo Guedes aos EUA é meritória, especialmente se considerarmos o caos deixado pelo seu governo nos índices de renda, emprego, inflação, crescimento do PIB, entre outros. Quem quebrou as pernas do país, que ao menos consiga uma muleta.

O Posto Ipiranga, o doutor pela Universidade de Chicago, o ex-banqueiro de inegável sucesso, poderia ter mostrado aos investidores e principais agentes econômicos do mundo como o Brasil vai voltar a crescer e se tornar o melhor destino para bilhões de dólares em busca de oportunidades, tão necessários e escassos por aqui. Mesmo que o momento atual não seja animador, ao menos que se mostrasse, de forma convincente e persuasiva, como seremos, de uma vez por todas, o país do futuro.

Lamentavelmente, o Paulo Guedes que se viu foi o militante político, o bolsonarista radical, o arauto de um cenário que só existe nas narrativas oficiais. Seu discurso, é preciso registrar com pesar, era um castelo de cartas que não resiste ao primeiro sopro de realidade.

Como disse Reagan, o problema não é o que você não sabe, mas o que você acha que sabe mas não é bem assim. No quadro pintado pelo ministro, o Brasil é um sucesso de vacinação que supera os EUA, o que deve gerar sentimentos contraditórios nos "patriotas" anti-vacina. Vamos aos fatos.

Segundo o Our World in Data, 72% dos brasileiros receberam ao menos uma dose de vacina contra o novo coronavírus, contra 65% dos americanos. O que o ministro não mencionou é que estes números foram conquistados apesar de seu governo, que não economizou esforços para protelar a compra de vacinas, espalhar desinformação, criar falsas expectativas sobre tratamentos ineficientes, demonizar o trabalho de governadores e prefeitos, entre outras medidas negacionistas. Como se não bastasse, o número mais baixo dos americanos não se deve à falta dos imunizantes, mas ao insano movimento anti-vacina daquele país.

Guedes também disse que as projeções e análises dos especialistas em relação ao Brasil estão erradas porque eles, tão inocentes, se deixaram contaminar pelo "barulho político". E quem causa o tal political noise? Segundo o ministro, todas as principais autoridades do país contribuem, como se fosse o Brasil fosse uma grande praça com crianças brincando sem supervisão. Ele realmente acredita que alguém não sabe quem causa a instabilidade política no país? O tal barulho político é um fenômeno meteorológico natural? Ele evidentemente não citou que a depreciação do real, com tantas consequências nefastas para a vida de quem não tem dinheiro em off-shores, é explicada em parte pela ação do seu chefe.

O ministro ainda disse que, a despeito do estardalhaço, as instituições do país funcionam e que temos uma "democracia vibrante", seja lá o que isso signifique. Não há como discordar que as instituições democráticas do Brasil têm mostrado uma resiliência admirável, mas esta solidez é diariamente testada pelos ataques frontais do presidente ao parlamento, ao judiciário, ao sistema eleitoral, aos programas de vacinação implementadas pelas autoridades locais com a orientação das melhores práticas utilizadas em todo mundo. O Brasil é democrático apesar do governo a que Guedes pertence.

Guedes foi apresentado como um técnico, mas age cada vez mais como esbirro das narrativas do governo, assim como Marcelo Queiroga, entre outros. A importâncias destas viagens é inegável, mas é preciso mais que discursos para atrair capital de qualidade para o Brasil. O FMI, o G20 e os fóruns econômicos internacionais não cabem no cercadinho.

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