Ovos de Dinossauro na Sala de Estar: o desafio da abordagem

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É como ser criança e estar em loja de jujubas quando nós, jornalistas, nos deparamos com pessoas que têm boas histórias para contar. São os ditos personagens, termo que a premiada jornalista Eliane Brum condena pelo seu artificialismo, mas que é um chavão em redações Brasil afora.

Creio eu, foi o caso do jornalista-cineasta curitibano Rafael Urban, que ontem (21) mostrou ao público de uma Cinemateca lotada o curta-metragem Ovos de Dinossauro na Sala de Estar.

Em apenas 12 minutos, Urban teve de se virar para escolher a melhor abordagem para uma história pra lá de curiosa. A ela.

Ragnhild Borgomanero nasceu na Alemanha, e em 1966 se casou com o diplomata italiano Guido Borgomanero. Apaixonado por paleontologia, gemologia e história universal, Guido – que foi cônsul geral da Itália para o Paraná e Santa Catarina entre 1974 e 1984 –, coletava fósseis e gemas do mundo todo. Guido faleceu em 2005, aos 83 anos, e com a esposa ficou a maior coleção particular de fósseis da América Latina, da qual faz parte um ninho de ovos de dinossauro que fica ali, em uma casa no Alto da Rua XV. Eis uma boa abordagem.

Ragnhild Borgomanero: figuraça.

Mas o que poderia ser o principal recorte do curta, obviamente, é a própria Ragnhild. Dona de um humor peculiar, algo entre a ironia britânica e a sistemática alemã, Rag é, na melhor das palavras, uma figuraça.

Espontânea e elegante – ela faz suas próprias roupas, que renderam empolgados comentários femininos –, a senhora de 78 anos tem uma sagacidade incomum. Aprendeu a mexer com os programas Photoshop e Premiere para digitalizar o acervo de fotos de seu marido, por exemplo, também ótimo fotógrafo. É bonito de ver.

Mas o que resulta ao final dos 12 minutos é a grande joia conquistada pelo casal: o amor, enfim. Em todas as cenas, Guido está presente e Rag faz questão disso. Seja quando ela mostra fotos antigas tiradas pelo marido; quando surge na tevê um violino que deu a Guido de presente; quando toca de maneira delicada nos ovos de dinossauro que estão na sala de estar e principalmente quando ensina os “meninos” que uma grande relação se constrói assim, de maneira intensa e verdadeira. Urban optou – ou foi cordialmente cooptado – a fazer esta escolha de abordagem, a mais natural de todas.

E há que se lembrar. Ovos de Dinossauro na Sala de Estar foi realizado com incentivo do Edital Filme Digital – Ficção, Documentário e Animação, do Fundo Municipal da Cultura (FMC), e teve um orçamento de R$ 12 mil. Trabalho heroico o do Urban e de toda a sua equipe. GGGG