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Roberta Sá fala sobre o show Pra se Ter Alegria
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Ao saber que recebia uma jornalista de Curitiba, cidade para onde ainda não trouxe seu show, Roberta Sá disparou: “Estou louca para ir pra lá”. As chances de vê-la por aqui foram renovadas com o lançamento do CD e DVD Pra se Ter Alegria (Universal), que dá novo fôlego à turnê iniciada com o disco Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria.

Roberta conversou com a reportagem por quarenta minutos em um apartamento no bairro carioca do Jardim Botânico. Falou sobre como conduz a carreira e dos parceiros que gosta de ter por perto, como Yamandú Costa e o português António Zambujo, convidados do DVD.

Leia abaixo trechos da entrevista. Tem mais na edição desta quarta-feira (23) do Caderno G.

Flávio Colker
Roberta Sá recebe Marcelo D2 no DVD Pra se Ter Alegria.

Este show celebra o seu início de carreira. Você considera que essa é uma etapa acabada?

Roberta Sá — Depois que essa turnê acabar, vamos ter uma sensação de fechamento sim, porque estamos trabalhando nessa sonoridade e nessas canções desde a minha demo de 2003. “Eu Sambo Mesmo”, “Casa Pré-Fabricada”… A gente convive com essas canções há muito tempo.

Como é a sua relação com os compositores? Conversando com a cantora estreante Beatrice Mazon, ela comentou que você deu a dica de ligar e pedir diretamente. Você ainda precisa pedir?

Claro que preciso. Essa relação cantor-compositor é muito diferente do que era antigamente, quando eles compunham para as cantoras. Hoje isso acontece muito pouco. Eu gosto muito da relação olho no olho ou pelo menos por telefone, senão a gente acaba se comunicando só por e-mail. Geralmente, já vou com alguma coisa na cabeça.

Um tema?

Não um tema, mas o que eu preciso. escutei na rádio uma música do Moreno Veloso (autor de “Mais Alguém”) e liguei para pedir para gravar. Mas a Gal tinha acabado de gravar. Pedi que fizesse outra pra mim, na mesma onda. E ele fez. Às vezes, mandam alguma coisa que não tem nada a ver com a onda, mas que funciona.

Ouvindo os seus dois discos, o primeiro transparece uma preocupação social, na faixa que o nomeia, “Braseiro”, enquanto o segundo, Que Belo Estranho Dia de Amanhã, tem um clima mais festivo. Houve uma mudança de perspectiva?

Acho que houve um amadurecimento de uma sonoridade e de uma parceria do primeiro disco para o segundo, até chegar à sonoridade do palco. Foi um trabalho meu e do Rodrigo Campello de pesquisa de som. Hoje não dá mais para viajar com 12 músicos, é muito caro, fica impossível levar para Curitiba, por exemplo. Então a gente criou uma base com quatro ou cinco músicos. O que era uma limitação acabou virando um conceito.

O que esse segundo disco tem de diferente são mais compositores contemporâneos meus, e isso faz com que se fale mais dos dias de hoje. “Belo Estranho Dia de Amanhã” trata do assunto com outra visão, de outro compositor (Lula Queiroga), mais bem humorada. Era o que eu queria. Não um disco cinza. O que muda é a maneira de olhar para os assuntos. E no DVD a gente priorizou essa segunda visão.

Você se cercou de parceiros como Chico Buarque, Nei Matogrosso, Yamandú Costa e Hamilton de Holanda no DVD. Eles são referências musicais suas?

É um GPS de geração e de influência. Não significa que são só eles. Mas sem dúvida nenhuma esse DVD reúne minhas referências. O próprio Marcelo D2. O Pedro Luís, que não é exatamente da minha geração, mas está produzindo agora. Procuro lançar meu olhar para quem está produzindo e me interessa.

Como se originou a parceria com o Yamandú? Vocês já haviam trabalhado juntos antes?

Pouco. O Yamandú é muito meu amigo. A gente se aproximou nesses últimos dois anos e sempre falava em fazer alguma coisa juntos. Fomos convidados para fazer um show fechado, voz e violão. E a partir dali quisemos fazer mais coisas juntos. Estamos começando um namoro musical e tem sido muito bom, acho ele um gênio.

Não há data prevista para sua turnê passar por Curitiba, mas outro projeto do qual participa, o show em homenagem a Carmem Miranda, está cotado para ir à cidade pelo Circuito Cultural Banco do Brasil. Como é esse projeto?

Foi um convite do CCBB. É um projeto que tem todo ano, ano passado foi sobre o Moreira da Silva. Me chamaram para fazer com o Pedro Luís. São várias duplas, como a Verônica Ferriani com o Pedro Miranda. Estamos rodando o Brasil todo com o repertório da Carmem, comemorando os 100 anos dela, é um privilégio. Canto cinco ou seis músicas, o Pedro também, e a fazemos algumas em dupla. Está bem divertido. Pego um pouquinho das feições e gestos dela, coloco um turbantezinho… (risos). Esse show é bom por isso, é a hora da fantasia.

Você já tinha uma história com o repertório da Carmem?

Já, fiz bastante coisa com o repertório da Carmem este ano, desde o Carnaval. A Carmem é uma grande referência para mim, tanto de movimento como de repertório. Ela gravava as coisas mais bonitas, e do jeito dela.

E esse DVD, deve gerar mais shows?

A gente vai ao Nordeste em outubro e ao Sul, Porto Alegre, em novembro. Quem sabe a Curitiba?

Foi fazendo shows em Portugal que você conheceu o cantor António Zambujo?

Sim, no ano passado. Fomos jantar na casa de um música amigo nosso, o Ricardo Cruz, produtor do disco do Zambujo. Ele colocou o disco e a gente se encantou. No dia seguinte, o Antônio, por sorte, estava cantando em uma casa de fado. Fomos eu e meu empresário João Marcos. Então ele lançou o disco do Zambujo aqui, com participação minha, do Ivan Lins e do Zé Renato, e eu chamei o António para fazer parte do meu DVD. Ele faz com o fado um pouco o que o João Gilberto fez com o samba. Canta de uma forma suave.

Você tinha familiaridade com o fado?

Eu adoro fado. Tem umas cantoras maravilhosas. E a música portuguesa está vivendo esse momento de revitalização — tem rádio só de fado — parecido com o momento que a gente vive de samba.

Já começa a pensar que rumo seguir no próximo disco e a colher composições?

Sempre. Eu tenho esse vício, estar sempre escolhendo repertório. Tenho uns três discos delineados (risos). Falta ver qual vou fazer primeiro. Ainda estou no trabalho embrionário, não sei exatamente para onde vou.

O que você ainda planeja para a sua carreira?

A única ambição que tenho é cantar o resto da minha vida, continuar fazendo discos e shows. E é difícil manter uma carreira. Não sou muito racional na hora de idealizar, sou racional na hora de realizar o trabalho. O público percebe quando está robótico. Tem que ser espontâneo. Está dando certo.

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