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Tataco (à esquerda), com o técnico Limoglio e o meia Washington, na premiação dos melhores da Terceira Divisão do Rio

Após uma pausa de dez dias, retomo hoje as atividades jornalísticas, a começar aqui pelo Bola no Corpo. E nada como voltar das férias com uma boa história para contar. Já de olho na próxima temporada, o Paraná está avaliando dois jogadores em teste na Vila Capanema. Um é Gilvan, volante que se destacou com o Grêmio Metropolitano na segunda divisão do Paranaense. O outro é Tataco, um dos protagonistas da história mais bacana do futebol brasileiro em 2011, a do Carapebus, clube que jogou a terceira divisão do Rio de Janeiro.

Carapebus é um distrito de Macaé, cidade do Norte fluminense. Seu clube, a Associação Atlética Carapebus, fundado em 2006, estava inativo até o fim de 2010, quando o prefeito da cidade chamou o técnico Luciano Lamoglia para formar uma equipe que pudesse disputar a Terceirona. Lamoglia juntou alguns jogadores da região, garimpou outros pelo Brasil e conseguiu um patrocinador que bancasse as despesas com transporte, hospedagem e o salário mínimo de R$ 545 que cada jogador receberia.

Sim, receberia, pois na véspera da estreia o patrocinador pulou fora e Lamoglia reuniu o elenco para dispensar todo o grupo. A reação dos jogadores foi surpreendente. Todos se dispuseram a cumprir seus contratos e jogar mesmo sem receber salário. Rapidamente a fama do time 0800 se espalhou pelo Rio de Janeiro. Tanto nas ruas como dentro de campo os jogadores ouviam piadas e provocações de torcedores e adversários.

A realidade não ajudava a aliviar a situação. Lamoglia acomodou os dez jogadores de fora da região em sua quitinete. Lá eles dormiam no chão, sobre colchões, e faziam refeições que às vezes se resumiam a arroz, feijão e salsicha. Por ser de Carapebus, Tataco juntava-se ao grupo apenas na véspera dos jogos, quando a população da quitinete subia para 24 pessoas.

No começo Tataco teve problemas para convencer a mulher Lorhane, que várias vezes pediu para ele largar o time que não lhe pagava salário. Além de não receber, Tataco ainda dava dinheiro para comprar água, papel higiênico ou outros suprimentos em falta na república improvisada. E ainda ajudava o seu time com gols. Foram 15 no campeonato, cinco deles nos dois jogos contra o América de Três Rios, que garantiram o acesso heroico ao clube e um lugar ao artilheiro na seleção da Terceirona, escolhida pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro.

O mesmo apetite de gols Tataco demonstrava no comando do ataque do Sapecado, campeão da liga de futebol amador de Carapebus. Em julho, ele chegou a vestir a camisa 9 do Carapebus em um jogo da Terceirona, contra o Goytacaz, e logo depois, no mesmo estádio, fez dois gols e deu três assistências com a camisa do Sapecado.

A maratona rendeu uma punição de 31 minutos ao jogador. Foi o tempo que Lamoglia manteve Tataco no banco na partida seguinte do Carapebus, contra o Duquecaxiense, clube cujo dono é o músico Gabriel Pensador. Tataco saiu do castigo para fazer o gol da vitória da AAC.

Agora, aos 24 anos, Tataco – que já disputou até concurso de Garoto Verão em Carapebus – tem a chance da sua vida no teste que realiza na Vila Capanema. Se for aprovado, poderá ajudar o Paraná não apenas com os seus gols, mas com um exemplo raro de amor ao futebol e a um clube. Pela linda história no Carapebus, torço muito para Tataco dar certo com a camisa tricolor.

Confira o SporTV Repórter sobre a história do Carapebus. Parte das informações deste post foram extraídas do programa.

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