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Elliot Page na capa da revista Time: ativismo trans
Elliot Page na capa da revista Time: ativismo trans| Foto: Reprodução

Certa feita conheci uma mocinha muito tímida que usava um imenso decote, com os peitões bem à mostra. Os pontos de interrogação pipocavam na minha cabeça até ela falar que nasceu Jorge.  Aí, sim: o garotinho que sempre andou com as meninas, que sempre se sentira menina, deve ter se angustiado um bocado quando o seu corpo foi tomando um rumo diferente do das amigas. Quando a medicina lhe deu peitos, encheu-se de orgulho. Eis o motivo para deixá-los bem visíveis.

Nós vemos algo parecido na coroa siliconada. Ela estava aflita com os seios murchos até usar de uma solução médica para o problema. Orgulhosa, passa a andar com os peitões recém-conquistados pulando do decote. No entanto, a mesma mulher, quando jovem, era muito mais recatada. Se perguntada pela mudança do comportamento, a coroa diria que os tempos eram outros, que agora ela é mais cabeça aberta, que obedecia ao ex-marido etc. Ou seja: daria uma resposta de feminista do século XXI.

Mas a resposta verdadeira é que tanto ela quanto a moça trans têm em comum o desconforto com o corpo, que está menos feminino do que elas gostariam. Isto as faz muitíssimo diferentes das adolescentes normais, que morrem de vergonha dos seios. Seios marcam o fim dos tempos despreocupados em que as meninas podem correr sem camisa e levar bolada no peito.

Há duas épocas da vida em que as fêmeas da espécie estão brigadas com os seios: quando a idade os faz encher e quando os faz murchar.

Nada de seios para as adolescentes

Enquanto existir adolescência, haverá fêmeas da espécie inconformadas com o surgimento dos seios. Em cima disso, uma nova pseudociência passou a vender às adolescentes a ideia de que elas não precisam ser mulheres. Sequer precisam ser homens para deixarem de ser mulheres. Ideólogos afirmam que os sexos masculino e feminino são meros acidentes biológicos, e que a alma é totalmente apartada do corpo. A separação entre o corpo e a alma, acompanhada da afirmação da liberdade desta última, é algo bastante cristão. Mas a era industrial, no Ocidente, fez com que o homem se achasse onipotente, jogasse fora a ideia de Deus e a substituísse pela de Ciência.

Pois bem. Com essa cosmovisão cristã corrompida e recalcada, ideólogos resolveram que a alma humana não tem nada a ver com o corpo, e que ser homem ou mulher é uma propriedade da alma. Depois, resolveram também que a alma, ilimitada, pode ser não só homem ou mulher, como uma coisa chamada não-binário. Cada alma passa a ser uma coisa tão única e livre, que tem um “gênero” para chamar de seu.

É claro que eles não falam de alma, porque pega mal. Vão dizer que é cultura; que ser homem ou mulher é mera “construção social”; que o capitalismo força os seres humanos a interpretarem papéis de homem, caso nasçam com pênis, e de mulher, caso nasçam com vagina. Mas vejam que, se é cultural, não deveria haver intervenção médica em questão. Se “gênero” é um papel a ser desempenhado na sociedade, então todos deveríamos poder ser homens, mulheres ou não-binários sem tomar hormônio nem fazer cirurgia. Afinal de contas, menstruação e barba não são construções sociais.

Assim, com que felicidade as meninas não receberão a notícia de que sua personalidade é tão poderosa, mas tão poderosa, que pode conter a imagem de um corpo novo, diferente dos rumos premeditados pela natureza? Basta ouvir o Cientista do gênero, e pronto: uma menina especial não vai se tornar uma simples mulher. Vai se tornar outra coisa, mais autêntica, que não tem que lidar com seios nem menstruação.

Menos que uma mulher

O carteiro canadense do qual tratou esta Gazeta está mais inteirado dos malefícios biológicos da mudança de sexo do que qualquer tuiteiro da ideologia de gênero. Ao ver sua filha de 14 quimicamente castrada com bloqueadores hormonais e submetida à testosterona, aprendeu que esses bloqueadores afetam a saúde óssea, e que a testosterona faz com que os transexuais sejam mais propensos a problemas cardíacos. Estes são efeitos biológicos dos quais tratou Abigail Shrier no livro Irreversible damage, cuja editora foi proibida pela Amazon de fazer propaganda na plataforma.

Outros efeitos físicos não mencionados pelo carteiro são o comprometimento do desenvolvimento cerebral e cólicas, além de atrofia e ressecamento vaginais, de modo que é impossível penetração sem dor.

Uma ressalva importante no livro de Abigail Shrier é que as meninas que buscam mudança de sexo hoje não são todas pessoas masculinas que querem se tornar os homens mais plenos possíveis, como o transexual pioneiro Buck Angel. As meninas de hoje querem apenas se evadir da condição de mulher, na esperança de se tornarem alguma coisa nova, única e muito melhor. Vocês podem ver aqui a leviandade com que uma “cirurgiã de gênero” (sic) trata do assunto. Top surgery é o eufemismo deles para mastectomia dupla.

Já mostrei aqui uma atriz nascida em 2001 que se submeteu a uma mastectomia dupla e não fez mais nenhuma intervenção médica. Hoje é uma mulher sem seios que jura ser uma pessoa não-binária (nem homem, nem mulher), e crê que fez uma cirurgia para adaptar o corpo à própria personalidade (a alma).

Ela ao menos teve a sorte de preservar a saúde hormonal. O que se desenha nos países ricos (e nos nichos psolistas no Brasil) é uma crise coletiva de semi-mulheres estéreis, de aspecto assexuado e fisicamente incapazes de prazer sexual. Façam as contas: a vagina foi atrofiada, a mastectomia acaba com a sensibilidade dos mamilos, e fêmeas não têm próstata, cujo estímulo dá prazer a alguns machos da espécie.

Quando montes delas se matarem, os ideólogos entenderão isso como uma prova da transfobia estrutural.

Evasão da velhice

Vamos ao outro nicho de mulheres brigadas com os seios. A canadense Ellen Page era uma atriz ligada ao universo infanto-juvenil. É um tipo que nós, brasileiros, chamamos de mignon: pequena e delicada, bonita mais pelo conjunto do que pelo eventual corpão. Agora está com 34, idade desfavorável para uma mignon que fazia papéis joviais em filmes para crianças e adolescentes.

No fim do ano passado, Ellen anunciou que era Elliot, um trans não-binário pronto para lutar contra a transfobia, e que queria ser tratado com pronome neutro ou masculino. Agora saiu como capa da revista Time após fazer uma dupla mastectomia. Não parece estar tomando testosterona, ou ao menos não o bastante para ganhar um aspecto viril. Pelo teor da entrevista, aprendemos que poder usar cabelo curto é algo de suma importância e definidor da alma de alguém. Daí inferimos que os roqueiros dos anos 80 devem, em retrospecto, ser considerados todos mulheres, com suas cabeleiras, ou não-binários, caso a cabeleira fosse acompanhada de bigode. Marlene Dietrich, se pusesse cartola e calças hoje, seria considerada homem por alguma sumidade dos estudos de gênero, e arrastada para uma clínica de gênero a fim de fazer uma top surgery.

De resto, Elliot se revela feliz por poder ganhar um monte de papéis não-binários para interpretar. Agora não é mais uma mulher relativamente madura, e sim um não-binário parecido com Justin Bieber doente.

Que mais Elliot fará da vida? Ativismo. No Instagram, está defendendo as “crianças trans” contra um projeto de lei do Alabama.

Notem que isso é estimulado pela Time e pelo cinema infantojuvenil. Tudo o que esse nicho apoia é importado por progressistas brasileiros da TV. Se eu tivesse uma filha hoje, não daria Netflix nem celular. Deixaria a TV como algo para ser assistido por todos juntos no sofá, como nos anos 80.

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