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Zé Mayer bem poderia fazer o papel de Renan Calheiros na CPI que conta até com vilã misteriosa. Só falta o tapa-olho mesmo.
Zé Mayer bem poderia fazer o papel de Renan Calheiros na CPI que conta até com vilã misteriosa. Só falta o tapa-olho mesmo.| Foto: Reprodução/ Twitter

Tenho uma humilde sugestão para melhorar o clima do país. Zé Mayer será retirado do ostracismo aonde o puxadinho do #MeToo o lançou e viverá o Coronel Cristiano Cinza, o maior criador de bodes do sertão do Cariri. O Coronel Cristiano Cinza, tal como o Christian Grey de Cinquenta Tons de Cinza, tem gostos peculiares. Ele tem uma estrutura chamada de “casa de farinha”, muito embora ele não produza farinha alguma. Todos os vaqueiros da região sabem que é para lá que ele leva donzelas indefesas a fim de ver se elas sabem recitar cordéis de cor, sem vacilar.

O público acompanharia a história de três moças: Mayra, Nise e Luana, interpretadas por Juliana Paes, Sabrina Sato e Alice Braga. Essa última será a heroína. Após recitar de cor os versos alexandrinos do cordel do “Cavaleiro da Ciência contra o Dragão do Terraplanismo”, o Coronel usará a verba dos respiradores para fazer uma linda festa de casamento.

A ideia me ocorreu ao ver que o povo está todo muito carente de novelas. Li na Folha a coluna de uma senhorita progressista do sudeste que estava encantada com o desempenho de Renan Calheiros na CPI. O título era: “Vale mais a pena assistir ao Renan Calheiros na CPI do que transar na quarentena”. No corpo do texto, ela descreve a situação da mulher heterossexual solteira há mais de um ano em quarentena, que tem medo de se aproximar fisicamente de outrem, fica em casa sozinha assistindo à CPI e tem medo de “nutrir pensamentos impuros envolvendo o senador Renan Calheiros.” Isso é falta de uma boa novela da Globo, daquelas bem românticas com Zé Mayer e alguma Helena, para as matronas verem se abanando enquanto os velhos babam o físico das atrizes.

A falta de novela também acomete os homens. Um notório jornalista político, também sôfrego expectador da CPI, publicou no seu Twitter uma “enquete relâmpago” com as fotos de uma vovozinha nipônica e de uma morena jovem encimadas pela pergunta: “Caso fosse infectado, a quem você confiaria sua recuperação?”. Por isso escalei Sabrina Sato para o papel. E o fato de não ter situado a história em domínios de Renan serve às fãs de Otto, que também fez um sucesso danado ao destratar a dra. Nise Yamaguchi.

Acadêmicos à procura da “Doutora Luana”

Enquanto os jornalistas descarregavam suas pulsões noveleiras na CPI, médicos e acadêmicos das ciências biológicas se empenhavam em xeretar a vida da namoradinha do Brasil pandêmico. Qualquer acadêmico sabe que cientistas com atividades no Brasil têm que ter o currículo cadastrado na plataforma Lattes, acessível a qualquer um. A doutora Luana não tem.

Digamos então que ela seja um prodígio científico no estrangeiro e nem tenha se dado ao trabalho de fazer um Lattes. Aqui já entra a especialização e eu, que sou de humanas, não faço ideia de como verificar produção acadêmica relevante na área de saúde. Postei nas redes sociais perguntando se ela não tinha mesmo nenhum artigo científico publicado. Uma amiga bioquímica assegurava em privado que não. Velhos babões inundavam os comentários dizendo que a doutora Luana era linda e inteligente. Em meio aos comentários babões, uma captura de tela mostrava dois artigos de L. E. Araújo, enquanto outro dizia que médicos encontraram dois artigos sem nenhuma citação. Também em privado, um professor bolsonarista dizia de boa-fé que um colega dele, também pesquisador, encontrou duas citações da referida Luana.

Presumindo que todas as menções se referissem àquelas duas da L. E. Araújo, repassei-as à amiga bioquímica, que foi olhar os artigos e observou serem resultado de pesquisas feitas num laboratório de Salvador. Ora, a “doutora Luana” nunca mencionou um período de residência na Bahia. Pedindo ajuda, minha amiga ficou sabendo que L. E. Araújo é Luana Evangelista de Araújo (veja o Lattes aqui), uma mestranda da UFBa que estuda tuberculose.

Médicos à procura da “Doutora Luana”

Acadêmicos de humanas não sabem xeretar produção biomédica internacional; acadêmicos de biológicas não sabem xeretar vida de médico. Coube aos médicos, então, procurar CRM e jogar no ventilador das redes sociais o que encontraram.

Este fio do Twitter aqui traz links que podem ser verificados por qualquer um. Como tem foto, podemos constatar que seu nome completo é Luana Silva Rodrigues de Araújo – nada de L. E. Araújo, como descobriram os acadêmicos.

Pois então: Luana S. R. de Araújo se inscreveu pela primeira vez como médica em 2007, começou trabalhando no Mato Grosso, consta como ativa no Rio de Janeiro, mas mora nas cercanias de Belo Horizonte desde 2016. Assim, ou ela não tem pacientes desde 2016, ou atua de maneira irregular desde 2016.

Canta, canta, canta!

Ao cabo, seguindo os rastros da internet, a única atividade cujo exercício se pôde assegurar é a de cantora e pianista, com o nome artístico de Luana Mariano. Escrevo no pretérito porque a prova maio era uma capa do CD “The Lioness” na Amazon, No momento em que escrevo, o disco já foi retirado de catálogo. Mas ainda tem canal do Youtube e dá par vê-la cantando aqui. O canal está às moscas; tem só três vídeos, sendo o mais recente de 2016. Aparentemente em 2016 ela largou a medicina e resolveu virar artista. E não deu certo.

A título de curiosidade, registro ainda que o Prof. Jairo José da Silva, xeretador na qualidade de apreciador de música erudita, aponta que “Lioness”, leoa, é o apelido dado à pianista Martha Argerich pelos seus fãs. Ou seja: a criatura apelidou-se a si própria com um apelido dado por fãs a uma grande pianista. Uma fã de si mesma. E um tanto destituída de senso de realidade.

A pergunta que não quer calar é: que diabos ela estava fazendo em uma indicação do Ministério da Saúde?

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