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Racismo contra brancos é impossível: há 20 anos, nem o PT engolia uma tese dessas
| Foto: Midjourney

Respondendo às perguntas de Gabriel de Arruda Castro para a matéria “Ao negar racismo contra brancos, esquerda abandona defesa da igualdade” pude ter clareza quanto às transformações da universidade no Brasil e nos Estados Unidos. Divido as minhas reflexões com os leitores, portanto.

Uma pergunta concernia ao quão recente é importação, pela esquerda brasileira, da ideia de que brancos não podem ser vítima de racismo. Pude dizer que é recentíssima porque a Cartilha do Politicamente Correto publicada em 2003 pelo primeiro governo Lula afirmava expressamente que “existe no Brasil preconceito racial contra pessoas brancas”. Por isso a cartilha condenava expressões como “branquelo”, ofensivas para “membros das colônias europeias no Sul do País”. Quando João Ubaldo Ribeiro denunciou a Cartilha, ela logo virou um filho feio sem pai, e Lula correu para fazer pouco caso dela. (Escrevi sobre a Cartilha aqui.) Assim, podemos dizer que a ideia de que brancos não podem sofrer racismo não existia no Brasil no século XX.

Isso não quer dizer que o neorracismo negro não tenha uma história mais longa entre nós. Por neorracismo negro entendo a ideia de que a maneira correta de combater um (sempre exagerado) racismo branco se dá por meio de um racismo negro. Essa ideia existe no Brasil desde Florestan Fernandes, financiado pela Fundação Ford e fundador do PT. (Que aliás era branco, a propósito – já escrevi sobre Florestan aqui.) Foi Florestan que inaugurou a tese de que o Brasil é mais racista do que os Estados Unidos, porque o racismo aqui é velado etc., mas não me recordo de ele ter tirado essa conclusão de que é conceitualmente impossível ser racista contra um branco no Brasil. No mais, vale recordar que a Fundação Ford é reconhecida pelo governo dos Estados Unidos como organização filantrópica, à qual se pode doar e abater do imposto. Há um conflito de interesses evidente em afirmar que o Brasil é inferior aos EUA em matéria de relações raciais recebendo dinheiro desse país.

Que eu me lembre, a ideia de que se pode (ou até se deve) xingar um branco pela cor sem ser racista começou na década passada como coisa de influencers negras e mulatas no Facebook. Djamila Ribeiro é a mais famosa, e hoje fica falando de moda e maquiagem. Sua produção bibliográfica vende por ser manual de RH woke. Stephanie Ribeiro, outra influencer da época, também fica falando de moda e maquiagem. Após o affair Marcelle Decothé, foram psolistas e influencers que correram para defender a assessora – que, como mostrou o Prof. Wilson Gomes (também na internet), há anos vivia manifestando ódio ou desprezo por brancos. Tudo normal na lacrosfera, que passou a década de 2010 inventando conceitos como “palmitagem” e perseguindo subcelebridades de pele escura e sexo masculino que namorassem moças brancas.

As influencers tinham financiamento? Só descobriríamos se os envolvidos contassem. Meu chute é que as ONGs tenham mirado em jovens negras e mulatas que gostavam de moda e maquiagem, e depois expandido para rapazes femininos que também gostam de conversar sobre moda e fofocar sobre celebridades. Em suma: miraram num grupo bem pouco propenso a se encontrar em diretórios de partido para discutir política institucional.

Isso tudo era panelinha de internet. Quanto ao conceito acadêmico de racismo estrutural, creio que o marco, no Brasil, seja Sílvio Almeida mesmo. Mas ele trata do conceito como se fosse uma abóbora, estivesse lá e ninguém tivesse inventado. Se pesquisarmos "structural racism", encontramos como autor do conceito um tal Carl E. James, de Toronto, que nem verbete na Wikipédia tem.

O mesmo se dá com alguns lugares comuns da internet. Por exemplo: já ouviu que é privilégio branco entrar no mercado sem ser seguido pelos seguranças? A autora disso é uma tal Peggy McIntosh, uma feminista branca que não tem grandes méritos intelectuais reconhecidos sequer no movimento feminista. Anos atrás, tratei de como o progressismo usa ideias de autores menores como se fossem fatos da natureza.

O racismo negro é, hoje, um movimento de pedintes que ficam esmolando vaguinha em empresas privadas e em concursos públicos. E é um movimento largamente financiado pelo grande capital ocidental.

Na internet, temos um ponto comum com os EUA, onde também há essa dinâmica de influencers introduzirem tendências que vão virar política institucional promovida por governos alinhados com Soros e similares. E eu creio que a ideia de que é impossível cometer racismo contra brancos seja recente até mesmo na esquerda dos EUA.

Os Panteras Negras eram revolucionários socialistas e racistas: socialistas que admiravam a Coreia do Norte e racistas que pretendiam criar um Estado negro separado dos brancos (eles se diziam “black separatists”). Esse separatismo negro não deixa de estar conforme à tradição dos EUA, já que até os abolicionistas duvidavam da coexistência das raças e chegaram a criar a Libéria, na África, para despachar os negros “de volta”.

O neorracismo woke é consideravelmente diferente do racismo dos Panteras, porque não tem a menor pretensão de ser revolucionário. No máximo, os ongueiros fazem um quebra-quebra instagramável que só tira o sono dos donos dos pequenos e médios comerciários: vide os "protestos" do BLM. O racismo negro é, hoje, um movimento de gente que pede vaga em empresas privadas e em concursos públicos. E é um movimento largamente financiado pelo grande capital ocidental.

Isto nos leva à segunda (e última) pergunta, que é pela consequência do wokismo para as universidades. Decerto, uma consequência é a sua queda na irrelevância. Mas, pensando um pouco, fica difícil dizer se a irrelevância das universidades no primeiro mundo não foi, antes, uma causa da sua captura pelo wokismo. É porque as universidades já não garantiam emprego que elas foram pressionadas a ofertar lacração, que é um gargalo imposto por grandes empresas.

Vejamos. O ensino superior foi um importante mecanismo de ascensão social. Por uma série de razões que incluem a estagnação econômica e o aumento do custo de vida, não é mais. A classe média já está sendo esmagada nos EUA e na Europa. Quem contribui alegremente para isso? As grandes empresas que patrocinam o wokismo. O melhor exemplo disso talvez seja a recente notícia de que, desde 2020, atendendo às “manifestações” do BLM, as grandes empresas dos EUA praticamente pararam de contratar brancos. Ora, os brancos ainda são três quartos da população dos EUA; e os EUA ainda são um país de grande classe média.

O que podemos ler nesses dados é uma interrupção programada na oferta de empregos para o estadunidense de classe média, preferindo talvez imigrantes (que não raro aceitam trabalhar por menos) e pobretões (que viram aspones em algum cargo de “diversidade e inclusão”). Ora, os mesmos patrocinadores e incitadores do BLM usaram o BLM para “atender à demanda dos negros” (ainda que a maioria dos negros estadunidenses na verdade seja contra o movimento) e estrangular a classe média tradicional, majoritariamente branca e nascida no país. É a mesma ladainha que o europeu já ouvia: se você não quer ter o seu emprego tomado por um imigrante morto a fome, você é racista.

Agora vamos dar uma marcha ré no tempo. Com o Reuni do ministro Haddad, governo Lula 2, as universidades federais brasileiras passaram a imitar o ensino superior paraestatal dos EUA, no qual há cursos inúteis que só servem para atender à demanda arbitrária de RH lacrador. Digo que é um sistema paraestatal porque, no frigir dos ovos, quem o financia é o erário dos EUA, por meio da dívida estudantil. Na melhor das hipóteses, o erário dos EUA financia por meio das dívidas subsidiadas; na pior, “perdoando” as dívidas, como Biden fez por lá. Bolsonaro fez o mesmo por cá, já que a passagem de Haddad pelo MEC criou essa imensa dívida estudantil com universidades privadas vagabundas de capital estrangeiro. Ninguém nem sequer cogita deixar essas universidades inúteis levarem um calote e quebrarem.

Vejam bem: se houver um oligopólio de geradores de emprego; e, ao mesmo tempo, um estoque infinito de trabalhadores (coisa que a política de open borders garante), esse oligopólio pode lançar as exigências de contratação mais irrazoáveis – pedindo, por exemplo, nível universitário para trabalhos onde isso não é necessário. No Brasil, a exigência de diplomas remete a sindicalismo, porque temos um histórico de sindicatos trabalhistas poderosos. Nos EUA, porém, quem tem poder é o concentradíssimo mercado financeiro.

Se todo dono de capital exigir que o povo faça cursos universitários apenas para cumprir tabela, as universidades vagabundas vão ter clientes para sempre, e, por conseguinte, vão continuar rentáveis para os acionistas e hedge funds. Ora, o grande empregador e o especulador são a mesma pessoa. É plausível que a inflação de diplomas seja, portanto, fabricada pelos oligopolistas para lucrar com ação de Uniesquina.

Há outra espécie de gargalo inventada pelos oligopolistas. Quando o “bacharelado em gênero e diversidade” foi criado na UFBA, eu não podia imaginar que existe demanda para isso no mercado – mas a verdade é que esse tipo de profissional é, basicamente, uma criação de RH woke. E RH, vale lembrar, é justamente o órgão responsável por contratação nas grandes empresas.

A depender da sua profissão, ser woke aumenta as chances de contratação. É o caso de TI, por exemplo – e TI é justamente a área que salvou muita gente da classe média que não tinha como ganhar dinheiro na sua profissão original, ao menos no Brasil.

No Brasil, o gargalo para contratação não pode ser tão grande quanto nos EUA e Europa, haja vista a falta de qualificação da população em geral e a exígua imigração de profissionais qualificados. Assim, se as universidades não estão garantindo emprego e, ao mesmo tempo, ainda geram dívida, o jovem brasileiro vai preferir aprender algum ofício prático (ou então virar traficante) a entrar numa universidade. As inscrições no Sisu, que serve de vestibular para públicas e privadas, vêm caindo ano após ano.

No entanto, o Brasil não dita tendência no Ocidente; o Brasil segue. Em 2009, criava em plena Bahia, um estado agrário, um curso feito sob medida para o RH de uma Big Tech do Vale do Silício (o tal do “bacharelado em gênero e diversidade”). Nos EUA, que ditam a tendência, é provável que o wokismo das universidades seja uma demanda estudantil, porque o estudante reconhece – corretamente – o wokismo como uma condição necessária para ser contratado. Necessária, mas não suficiente, como mostra o pós BLM.

Então eu creio que haja um círculo vicioso: as grandes empresas demandam wokismo para contratação; a classe média vai atrás de wokismo para ser contratada. E a universidade fica rebaixada à condição de emissora de diplomas. Seus professores e intelectuais acabam irrelevantes; quem apita mesmo o debate público é influencer.

Recapitulando: o neorracismo negro, criado nos EUA e espalhado na Europa, serve para os oligopolistas perseguirem a classe média; as universidades, outrora veículos de mobilidade social, foram convertidas em gargalos para contratação por meio de impressão remunerada de diplomas para as massas; o wokismo, por uma demanda artificial de mercado, se tornou mais um gargalo de contratação, e foi imposto às universidades pelos pagantes.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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