Foto: Mauro Pimentel/AFP| Foto:

Aceitar como válida – ou até mesmo legítima – qualquer observação que vincule a aceitação de Sergio Moro para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro com a sua atuação na Lava Jato e supostas pretensões políticas para 2022 não é só fazer o jogo da esquerda: é fazer-se instrumento de uma artimanha ideológica que tenta atribuir à operação aquilo que a esquerda quer que ela seja: uma grande conspiração da direita para prender Lula, impedi-lo de ser candidato e destruir as chances do PT de voltar ao poder. O lulopetismo é, de fato, um delírio.

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Essa é, aliás e desde o início, a tese que a esquerda, capitaneada pelo PT, tenta vender publicamente. Quem a amplifica e se esforça para legitimá-la travestida de análise imparcial dos fatos são os intelectuais e a intelligentsia do antigo regime petista, fauna e flora que reúne políticos, professores universitários, comentaristas políticos, jornalistas e repórteres. Se você achava que tinha lido de tudo o que é equivocado na grande imprensa durante a eleição, deve estar vendo agora que nada é tão esquerdado que não possa mais esquerdar.

Incapazes de raciocinar fora de um esquema mental que se provou desatualizado e inadequado para o atual momento do país, quando não estritamente orientado por um vínculo ideológico, o grupo que ainda tem influência na opinião e na política comete contra Moro um erro de natureza similar ao que cometeu ao analisar a candidatura de Bolsonaro, a sua vitória e o que pensa e deseja a numerosa parcela da sociedade que o elegeu.

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Mesmo quando diziam ser falsa a narrativa do PT, os comentaristas que citavam a hipótese já contribuíam para colocá-la no debate e para alimentar a máquina petista de destruir reputações. Foram muitos os que, a pretexto de negar o que estava sendo declarado aos quatro cantos pelos esquerdistas, colaboraram como instrumentos de propagação dessa mentira. Ainda mais quando se dizia que a decisão de Moro contribuía, sim, para reforçar a acusação dos petistas, como se os petistas tivessem credibilidade e legitimidade para acusar alguém de qualquer coisa.

Outros jornalistas, como Janio de Freitas, fizeram, em vão, um malabarismo verbal para garantir que a aceitação de Moro arranhou o seu prestígio e fortaleceu o “projeto autoritário e reacionário de Jair Bolsonaro”. Considerando que não há qualquer dado empírico que confirme tal afirmação, e o próprio Freitas se contradiz ao dizer que Moro fortalece Bolsonaro (só se pode fortalecer alguém quando se tem prestígio para tal), suspeito que Moro teve seu prestígio arranhado apenas dentro do grupo do qual faz parte o comentarista, que não definiu nem demonstrou o que será essa mistura de autoritarismo com reacionarismo do próximo governo eleito.

Ardilosamente, Freitas colocou sob suspeita as decisões do juiz federal no âmbito da Lava Jato e cobrou dos magistrados que terão a responsabilidade de julgar os recursos contra as decisões por Moro já proferidas uma postura diferente daquela que o colunista chamou de “temerosa, oportunista, facciosa”. Num só artigo, ele lançou suspeições sobre o trabalho do juiz-símbolo do combate à corrupção e de todos os demais desembargadores do Tribunal Regional Federal que ratificaram as condenações.

Além das “análises”, houve também quem usasse o espaço no jornal para difundir ataques formulados por entidades petistas como se fossem posições sérias e insuspeitas. Foi o caso da nota assinada pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ) e publicada pela jornalista Monica Bergamo em sua coluna. Essa associação serve como satélite do petismo no mundo jurídico e agiu para ratificar a tese da condenação de Lula como sendo uma prisão política, mas é tratada desde sempre como se fosse um grupo independente com reputação para atacar quem quer que seja. A nota toda é um ataque ideologicamente enviesado contra Moro. A narrativa é a mesma: ao aceitar o convite de Bolsonaro, o juiz federal assinou uma confissão pública de que esteve a todo momento atuando politicamente em favor da candidatura vitoriosa. No passado, quando Bolsonaro era considerado carta fora do baralho, essa mesma esquerda acusava Moro de estar a serviço do PSDB.

Tudo parece ser um ataque coordenado para minar as escolhas do presidente eleito depois das tentativas de minar a sua campanha: foi assim com as escolhas de Hamilton Mourão para vice e de Paulo Guedes para ministro da Fazenda. Várias foram as “reportagens” que abriram mão de informar para convencer o leitor de que Bolsonaro era o cão (fascista, homofóbico, misógino) chupando manga.

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Uma coisa é fazer críticas oportunas aos poderes que estarão concentrados nas mãos de Sergio Moro no Ministério da Justiça. É dever dos analistas fazê-lo, assim como, se for o caso, apontar caminhos mais adequados. Porque, por mais bem-intencionados que Bolsonaro e Moro possam ser, a concentração de poder e o seu exercício sem os devidos contrapesos podem provocar consequências negativas imprevistas e anabolizar o Megatério que é o Estado brasileiro.

Outra coisa é, entretanto, ocultar uma clara intenção de atacar sistematicamente um presidente, suas escolhas e seus escolhidos sob o disfarce de análise isenta e de jornalismo imparcial. Não é problema comentaristas, analistas e jornais terem posições políticas definidas e pautar seus trabalhos a partir de suas ideologias e visões de mundo, mas essas informações devem ser de conhecimento pleno dos leitores: pelo bem da honestidade intelectual e da integridade do jornalismo.