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Duda Salabert é uma mulher transgênero (portanto, geneticamente do sexo masculino). Ela também foi a primeira candidata trans ao Senado Federal, pelo estado de Minas Gerais. Felizmente, perdeu – não por sua identidade de gênero (quem se importa?), mas porque era filiada ao PSOL. A sigla significa “Partido Socialismo e Liberdade”, o que inspirou o professor Eduardo Wolff a apelida-lo de Partido do Círculo Quadrado tamanha a antítese entre os valores expostos no nome da legenda.

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Quem com lacre lacra, com lacre será lacrado

Em entrevista ao jornal O Globo, a ex-candidata Duda Salabert anunciou sua desfiliação: “Deixo o PSOL por não concordar com a transfobia estrutural do partido. Enquanto mulher transexual, não posso endossar uma estrutura que se apropria da luta e da identidade trans para privilegiar figuras e candidaturas já privilegiadas”.

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Em sua “Teoria do Privilégio”, a professora feminista Peggy McIntosh argumenta que “o privilégio se dá em função de aspectos econômicos e sociais mais vantajosos”. A origem desses privilégios não seria política, mas circunstancial (aspectos econômico-sociais) ou natural (aspectos físicos). Só que além da dose-padrão de vitimismo – rotulando como privilegiados (logo, opressores) todos aqueles que não são transgêneros – Duda Salabert sobe o tom e denuncia a apropriação da narrativa trans por aqueles que não têm “lugar de fala” na questão da disforia de gênero. Sim, é o bug-nosso-de-cada-dia da lacrosfera progressista escancarada em flagrante autofagia.

Para a ex-filiada, os PSOListas estão tirando uma casca da causa trans e extraindo dividendos eleitorais disso. No diagnóstico, ela está corretíssima: a esquerda fomenta a divisão social com pautas identitárias e incentiva a vitimização de minorias das quais seus agentes via de regra fazem parte. Mas isso os torna políticos oportunistas, não transfóbicos estruturais.

Transfobia, ou melhor, dinheiro público

Para embasar sua lacração, Duda Salabert provoca: “Se o partido divulgar a média dos valores investidos em candidaturas trans e compararmos à média das candidaturas não-trans, fica clara a transfobia. O valor é ínfimo.”

É um caso clássico de casa de ferreiro, espeto de pau: aparentemente, o PSOL se esqueceu de implantar cotas-trans e socializar os recursos partidários. Em outras palavras, não distribuiu a verba pública do Fundo Eleitoral de forma equânime – e, na qualidade autodeclarada de vítima da transfobia PSOLista, Duda acredita que deveria ter recebido um naco maior do dinheiro do pagador de impostos.

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O endosso de Ciro Gomes
A reportagem do O GLOBO afirma que “Ciro Gomes já teria demonstrado interesse na filiação da professora ao PDT”. Na mesma semana, vejam o que esse mesmo candidato derrotado à Presidência falou: “Agora Bolsonaro diz aos grupos de interesse o que eles querem ouvir. Por exemplo, para os amigos dele aí, esses corruptos da comunidade judaica, que acham que, porque são da comunidade judaica, têm direito de ser corruptos”.

A resposta da Confederação Israelita, que busca reparação judicial por essa fala antissemita, foi precisa: “Não vemos Ciro ligar outras minorias ou grupos à corrupção no Brasil. Se pretende ser visto como um político despido de ódios e preconceitos, cabe ao ex-governador se retratar das infelizes declarações contra os judeus brasileiros”.

Até para alguém com a elasticidade moral de um Ciro Gomes, é impossível posar de defensor dos oprimidos com colocações como essa sobre a comunidade judaica. Fica patente que a filiação de um quadro LGBT seria fruto de mero oportunismo político e não da convergência de princípios e valores.

Aliás, não podemos deixar de agravar a incoerência e impropriedade de Ciro Gomes citando um de seus infames discursos nesta última campanha Presidencial: “Eu estou é muito preocupado, porque lá do Sul para cá é muito forte a força desse discurso nazista, desse discurso violento, desse discurso do ódio”.

Na Disneylândia da contradição, Lênin faz as vezes de Pinocchio: “xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz”. Fico imaginando se a Confederação Israelita está mais indignada com a população do Sul do Brasil ou com as falas de Ciro Gomes.

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