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Da coluna Caixa Zero, publicada hoje, na Gazeta do Povo:

Pense rápido: o que todas as eleições para o governo do Paraná têm em comum desde o fim da ditadura? Em todas elas, sem exceção, sempre houve um Dias, um Richa ou um Requião entre os principais candidatos. Desta vez, claro, não será diferente. Osmar disputará o governo contra Beto. Um Richa e um Dias, como sempre.

A tradição começou em 1982. José Richa disputou o governo. Teve o apoio de Alvaro Dias, que disputava o Senado contra Ney Braga. E de Roberto Requião, na época deputado estadual. Os três jogavam juntos, como uma família unida. Em 1986, o trio repetiu a dose: agora, Alvaro ia para o governo, Richa para o Senado. Requião era prefeito.

Em 1990, pela primeira vez a família rachou. Requião e Richa disputaram o governo um contra o outro. Alvaro e Osmar ficaram com Requião. Três contra um, levaram a melhor. Richa, o pai, saiu de cena. Os Dias e Requião foram em frente: em 1994 e 98 sofreram derrotas para o único “forasteiro” a conquistar o governo neste período, Jaime Lerner.

Em 2002, o grupo estava rachado de novo. Requião disputou o governo com um dos Dias, Alvaro. Ganhou. Em 2006, os Dias, rachados até entre si, desta vez, mas com apoio do novo Richa, Beto, que já era prefeito de Curitiba, foram à revanche. Requião ganhou de novo.

Agora, Osmar Dias e Roberto Requião se acertaram novamente, ou pelo menos tentam parecer assim. Têm de fazer as pazes porque precisam enfrentar juntos a disputa eleitoral contra o mais novo inimigo político: Beto Richa. O outro Dias, Alvaro, preterido pelo partido por Richa, terá de escolher de qual lado ficará.

Não há nada mais parecido com uma oligarquia do que a política paranaense nos últimos 30 anos. Desde a redemocratização, três famílias tomaram o poder e lá ficaram. A situação é comum em vários estados do país, embora tenhamos o costume, errado, de imaginar que se reduz ao Nordeste.

Para quem estuda a política local, não se trata de um fenômeno novo. O professor Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, tem um livro clássico sobre o assunto, O silêncio dos vencedores. Mostra que a história da Re­­­pública no Paraná é marcada pela formação de oligarquias.

É claro: o jogo é democrático. Ninguém, aqui como nos outros estados em que isso ocorre, pode dizer que os donos do poder não enfrentam eleições. Por alguns mecanismos importantes, porém, conseguiram manter as chances de ganhar as eleições a seu lado.

Como em todas as oligarquias, também, verifica-se o fenômeno das ligações cada vez mais próximas entre as famílias detentoras do poder. Re­­­cen­­­temente, por exemplo, a filha de Alvaro Dias se casou com o neto de Ney Braga – aquele mesmo que ele venceu na disputa pelo Senado em 1982. Beto Richa é casado com uma herdeira dos Vieira, antigos donos do Bamerindus. Assim, famílias que há 40 anos eram “novas” na política local estabelecem cada vez mais os pés no círculo de poder.

No fim das contas, nossas eleições acabam sendo, pelo menos nos últimos 30 anos, reflexo da conduta desses grupos. Se eles estão todos afinados e contentes uns com os outros, a eleição nem chega a ter graça. Era o que ocorreria se Beto Richa tivesse conseguido o apoio de Osmar Dias, como sonhou.

Se a “grande família” tem uma divergência temporária, os grupos vão para o palanque como inimigos mortais, e temos de escolher entre um lado e outro. É o que acontecerá agora, já que Osmar decidiu não ir com Beto.

Mas podemos ter sempre a certeza de que daqui a pouco estarão todos juntos de novo, com algum arranjo ligeiramente diferente. Não foi o que aconteceu entre Osmar e Requião? Separados há quatro anos por divergências terríveis, disseram cobras e lagartos um do outro. Agora, estão novamente na mesma chapa.

Como uma verdadeira família, Dias, Requiões e Richas brigam, se reconciliam e estão destinados a viver uns com os outros por muito tempo. A nós, tem cabido escolher entre um deles para nos governar a cada quatro anos. Em 2010 será assim. Você prefere um Richa ou um Dias?

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