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Lula foi visto como um dos ícones da retomada da democracia no Brasil. E não foi à toa. Como sindicalista, teve um papel importante no combate ao regime dos generais. Como político, ajudou a fundar um partido de centro-esquerda que teve também papel importante na redemocratização. Para quem viu esse Lula, é difícil vê-lo agir agora contra alguns dos princípios básicos da democracia.

Como, por exemplo, ficar irritado com a presidente Dilma, como parece que está, pelo fato de que a Polícia Federal está investigando a sua família. Em público, o ex-presidente não falou sobre o tema. Mas  nos bastidores tem ficado cada vez mais claro que ele culpa a presidente por isso. Assim como muitos petistas criticam o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ter “perdido as rédeas” da Polícia Federal.

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Um das grandes avanços da democracia moderna é o seguinte: o fato de que o Estado é totalmente impessoal. A Justiça tem uma venda nos olhos justamente porque, no ideal, deveria ser assim: julgar as pessoas sem saber de quem se trata. Sem se importar se é parente de alguém.

Na vida real, o posto da democracia é o sujeito que pergunta se você “sabe com quem está falando”. Há muito disso: quem ache que linhagem, cargo ou amizades podem deixá-lo livre da lei. Na poesia, nada exemplifica melhor do que o poema de Manoel Bandeira, do sujeito que quer ir para Pasárgada porque “lá é amigo do rei”. “Lá tenho a mulher que quero, na cama que escolherei.”

Na democracia, não há rei, e o amigo do presidente (ou do banqueiro, do empreiteiro, do deputado) não deve ter qualquer vantagem sobre o resto de nós.

A Polícia Federal não deve ter rédeas mesmo. E, nisso, os governos petistas trouxeram imensos avanços. Foi depois da passagem de Lula pelo governo que a PF tomou as atuais proporções e começou a investigar os amigos dos reis. O que talvez o ex-presidente não tivesse em mente era que isso ia se voltar contra o feiticeiro. Voltou-se.

Em 2009, quando já estava no sétimo ano de presidência, Lula já dava mostras de que pensava como o personagem de Bandeira. Acreditava no rei e nos amigos do rei. Deixou claro quando disse que Sarney, investigado, não podia ser visto como uma pessoa comum.

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“Sarney tem história suficiente no Brasil para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”, dizia.

Se Lula não quiser que ele e sua família quiserem ser tratados como “pessoas comuns”, há duas opções: convencer Dilma a retroagir a democracia brasileira ou mudar-se para Pasárgada. Numa democracia, os amigos do rei, ou do ex-rei, podem acabar mesmo numa cela da PF. Acontece.

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