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No ano passado, a Câmara de Curitiba vivia uma situação escandalosa. Dos 38 vereadores, 30 faziam parte da base do prefeito. Isso significava que mais de 75% dos vereadores apoiavam a prefeitura. A oposição, pequena e isolada, pouco podia fazer, prejudicando uma regra básica da democracia: a de que o Legislativo deve ser fiscal do Executivo.

Pois vejam só. A coisa mudou. O candidato de seis dos oito oposicionistas, Gustavo Fruet (PDT), chegou ao poder. O que se imaginaria? Talvez que os outros 32 fizessem oposição? Afinal, estavam com o grupo anterior, que foi derrotado.

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Não seria bem assim, claro.m Até porque muitos vereadores não se reelegeram, e foram substituídos por novos nomes. No total, são 18 novatos. Mas, mesmo assim: a coligação de Fruet elegeu apenas oito nomes. Os outros 30, como ficam?

Pois uma informação basta para responder isso: o único cargo não preenchido entre todos os de liderança disponíveis na Câmara é o de líder da oposição. Porque, até agora, ninguém parece ter se habilitado à função.

Há apenas uma oposicionista até aqui. Noêmia Rocha, do PMDB, que se reelegeu. É a única representante de seu partido. Se for a líder da oposição, poderá ser líder apenas de si mesma, assim como já ocorre no seu partido.

O PSB, de Luciano Ducci, andou dando a entender que pode virar oposição. O PSC, de Ratinho, parece ter aderido tranquilamente. O DEM e o PPS entraram no barco já no segundo turno. E até o PSDB de Beto Richa, vejam só, está com Fruet.

O que acontece é que ser oposição é difícil. Significa não ser amigo do rei. Não ter acesso a verbas. Fica mais complicado se reunir com secretários, pedir obras, ter seus requerimentos atendidos.

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Ser oposição é viver se aporrinhando, ao invés de aproveitar as benesses de ser amigo de quem tem a caneta na mão. E nossos vereadores se reelegem prometendo o que não têm como entregar: obras. Só consegue quem for amigo do prefeito.

Nossos vereadores sonham com uma eterna Pasárgada, onde, amigos do rei, terão as obras que querem, no bairro que escolherão.

Há uns poucos sujeitos que são talhados para a função. O PT, diga-se o que disser do partido, faz oposição como ninguém. Só o PSol lhe faz sombra na função. Mas agora o PT está na prefeitura. O PDT e o PV, idem,. E os que eram situação antes não parecem ter nem a veia ideológica nem o estômago para mudar de lado. Querem continuar onde estavam, e quem vai lhes negar o direito?

O problema? O problema é que o jogo fica sem equilíbrio. A população elegeu seis vereadores ligados a Ratinho. Mas eles logo passam para o outro lado. Outros 23 eram ligados ao grupo de Ducci. Mas desistiram da função de oposição que seria quase obrigatória.

O que se tem assim não é mais uma Câmara, mas uma imensa repartição em que os pedidos do prefeito viram ordem. Não se faz política: não há contradição, discussão, debate. Tem-se um grupo de despachantes caros que se reúnem para confraternizar e escolher nomes de ruas, pessoas a ser premiadas e pedir antipó na periferia.

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Triste cidade a que não tem uma oposição. Tristes políticos os que não têm posição. Vivem numa Pasárgada ilusória, que renovam a quatro anos. Enquanto isso, quem não é amigo do rei fica do lado de fora, ouvindo a voluptuosa confraternização.

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