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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Os vereadores que fizeram um levante na Câmara no fim do ano estão pagando o preço por isso. No plenário, os dissidentes perderam a eleição para a presidência do Legislativo – o cargo ficou nas mãos de Aílton Araújo (PSC), simpático tanto ao prefeito Gustavo Fruet (PDT) quanto a Paulo Salamuni (PV), que lhe transmitiu o cargo na virada do ano. Nos bastidores, perderam o direito de indicar cargos comissionados na prefeitura.

Os dissidentes dizem que foi pura retaliação: vários deles viram aliados que estavam no Executivo serem destituídos pouco depois de terem enfrentado o favorito do prefeito na eleição interna. “Perdi três cargos em comissão”, diz Chico do Uberaba (PMN), que junto com Valdemir Soares (PRB), Tito Zeglin (PDT) e Zé Maria (SD) comandou a chapa que enfrentou Aílton Araújo (e perdeu, por 25 votos a 12).

Valdemir diz que também perdeu agentes comunitários. “Não tínhamos secretários, gente no primeiro escalão. Era o pessoal que faz política social, lá na ponta”, diz. Um dos vereadores teria perdido seis aliados, todos exonerados depois da rebelião na Câmara. Os dissidentes reclamam ainda que os cargos estariam sendo repassados para vereadores que ficaram ao lado de Fruet na disputa.

Na versão da prefeitura, não houve qualquer retaliação política. O que existiu foi meramente um “ajuste administrativo”. Ou seja: admite-se que pessoas saíram e entraram dos cargos, mas nessa versão a troca não teve qualquer relação com a disputa no Legislativo. Tudo não passaria de uma coincidência.

A reação dos vereadores deve vir em breve. O grupo de dissidentes deve se reunir dentro de duas semanas para decidir o que fazer. Uma possibilidade real é que todos passem formalmente para o quase inexistente bloco de oposição. Hoje, só Noêmia Rocha (PMDB) e Professor Galdino (PSDB), dos 38 vereadores, são oposição a Fruet. A coisa pode mudar, embora o prefeito, como sempre ocorre, ainda tenha maioria folgada para aprovar o que quiser.

No fundo, o surgimento de uma oposição mínima na Câmara é boa notícia. Nunca é bom que o Executivo fique sem fiscais. É salutar que alguém discorde, que não haja apenas um grupo homogêneo em que todos digam amém ao que a prefeitura quer. A parte ruim fica pelo modus operandi dos dois lados.

A eleição interna teve todos os horrores da guerra, doa mais aos menos democráticos. Acusações de parte a parte foram o menor dos problemas numa disputa que terminou com documentos rasgados e computadores tirados da tomada para que uma das chapas não pudesse ser registrada dentro do horário regimental. Por outro lado, a reação da prefeitura, no estilo do vote-comigo-e-terá-mais-cargos é política no modo bruto. Significa que acabou a encenação do “somos todos amigos” e que a disputa pelo poder na cidade ficou mais clara.

O próprio Fruet já tinha dado a entender anteriormente que não tinha interesse em ter uma base inchada como tinha e vereadores ligados a ele pareciam “torcer” para que alguém estivesse do outro lado, para que a Câmara deixasse de ser aquele marasmo em que as divergências eram jogadas para baixo do tapete em nome de sabe-se lá quais acordos ou sabe-se bem quais intenções. De algum modo, isso acabou acontecendo.

Os dissidentes acham que Fruet está num momento ruim, aparecendo com baixa popularidade e pouca intenção de votos em pesquisas. Pensam que têm a ganhar se criticarem o prefeito com mais frequência. A prefeitura parece não ter interesse em convencê-los do contrário. E, assim, nasce uma oposição em Curitiba.

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