Mesmo que não fosse culpado de mais nada, Romero Jucá teria um grande crime a explicar nesta terça-feira, dia em que mais uma parte de seu plano para “delimitar tudo onde está” passa por mais uma fase essencial – a indicação de um ministro amigo para o STF, onde poderá ajudar a “delimitar tudo onde está”.
Nesta segunda, Jucá, líder de Michel Temer no Congresso, fez um longo discurso defendendo não só a si como a toda a classe política. Furioso, falou por quase uma hora sobre seu projeto de lei que blindava os presidentes da Câmara e do Congresso.
Jucá disse que há uma perseguição aos políticos no Brasil. Seria risível, não fossem as comparações que usou. Uma delas foi com a situação dos judeus no Holocausto promovido pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
“Querem colocar no peito de todos nós a estrela de Israel”, afirmou. Também fez comparações com a Inquisição e com a Revolução Francesa. Nenhuma das tentativas, obviamente, faz o menor sentido. Mas a comparação com os judeus é particularmente chocante.
Os seis milhões de judeus mortos pelo governo de Hitler são o símbolo maior de uma tragédia perpetrada contra inocentes no mundo contemporâneo. As pessoas que foram mortas nas câmara de gás de Auschwitz e dos demais campos de concentração não tinham cometido qualquer delito – eram punidas simplesmente por terem uma fé e uma origem étnica que passou a ser inaceitável.
Jucá e seus pares não estão sendo investigados por serem de Roraima, por terem algum credo religioso, por se filiarem ao PMDB nem por origem étnica. A acusação é de roubo.
A comparação com os judeus só torna as práticas de Jucá mais repugnantes. Acusado de crimes comuns, de enfiar a mão no jarro, de enriquecer com dinheiro dos impostos, de tirar dos mais pobres do país a chance de receber auxílio mínimo do estado que ele ajuda a pilhar, diz ser ele a vítima.
E não qualquer vítima. A vítima de um preconceito terrível, que levou populações inteiras a serem exterminadas como gado em campos industriais, escravizadas, humilhadas, numeradas com tatuagens perpétuas, desumanizadas.
Os judeus do Holocausto são o símbolo de tudo que deve ser respeitado: inocentes mortos por uma ideologia tétrica, em nome de um governo assassino. Jucá é um símbolo do que deve ser desprezado na política: um manipulador da verdade que abusa do direito de usar o cargo para manter ladrões e bandidos a salvo de investigações.
Ao fazer essa comparação, Jucá passou a acumular mais um motivo para ser desprezado. Impôs às vítimas um novo sofrimento: a comparação a criminosos comuns como os que ele defende.
Siga o blog no Twitter.
Curta a página do Caixa Zero no Facebook.
-
Estado brasileiro normaliza iniciativas para blindar autoridades de críticas
-
A história sendo escrita agora: nas universidades, impeachment de Dilma vira “golpe de 2016”
-
Senado debate inteligência artificial nas eleições, mas não considera riscos globais da tecnologia
-
Uma farsa eleitoral sem observadores, mas visível aos olhos de todos
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS