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Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo/Arquivo.
Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo/Arquivo. | Foto:

Faz vinte e tantos anos que declararam mortas as utopias ideológicas. O fim da história tinha chegado, o capitalismo liberal venceu. Agora restava a cada quatro anos escolher alguém pra sentar na cadeira e pagar as contas do Estado (mínimo ou um pouquinho maior) e não deixar a coisa virar bagunça.

Supondo que a tese seja verdadeira, não nos contaram duas coisas: primeiro, que isso não queria dizer que a vida das pessoas ia realmente melhorar com isso; segundo, que a política ia se transformar numa coisa tão insuportavelmente chata quanto a que vivemos hoje.

Pegue, por exemplo, a eleição para o governo do Paraná. São três os candidatos de grandes coligações: Cida Borghetti (PP), Ratinho Jr. (PSD) e João Arruda (MDB). Agora faça o seguinte teste: tente dizer qual é a ideologia de cada um.

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Os três têm ideologia flex. Cida e Ratinho são mais claros nessa flexibilidade. Já estiveram com Lula e com Beto Richa (PSDB) – e acho que não é preciso dizer mais do que isso para mostrar o tamanho da flexibilidade. O que importa é estar com o governo.

De João Arruda, sobrinho de Roberto Requião (MDB), seria de se esperar outra atitude. Afinal, de Requião pode-se falar muito, menos que não tenha lado: é um nacionalista de quatro costados, desenvolvimentista e progressista. Goste-se ou não, sabe-se quem ele é. E João?

Arruda é sobrinho de Requião mas é também genro de Joel Malucelli. A pedido da esposa (ele mesmo admite) votou no impeachment de Dilma Rousseff (PT). Sabe-se lá por que, votou contra a investigação de Michel Temer (MDB). E chegou a aprovar parte da reforma trabalhista. O tio deve ter ficado furioso.

Mas não se trata nem de ter uma ideologia. Que pelo menos houvesse um princípio organizador por trás do (possível) governo. Nem isso. A impressão que se tem é de que não existe uma linha orientando o caminho. Trata-se apenas de prometer “obras”, “recursos” e “menos gastos”.

A eleição para o governo de um estado de 11 milhões habitantes, com mais de R$ 50 bilhões anuais de orçamento ganha cores de disputa de condomínio para eleição de síndico. Como se tanto fizesse a ideia de qual estado queremos, e bastasse prometer que seu Ary, do 1401, não vai mais ter mordomias, e que a janela de dona Ondina vai ser consertada.

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É um debate muito raso que não trata das questões de fundo do estado. Não se discute qual o papel das estatais no desenvolvimento da economia; não se fala sobre um princípio humanista que organize as ações policiais; não se discute qual é o verdadeiro papel da educação pública, muito menos qual o sentido do ensino médio na atual conjuntura educacional brasileira.

Tudo vira uma série de slogans que, para continuar na metáfora do prédio, parecem palavras vazias usadas por construtoras para vender um dois-quartos parecendo que se trata de grande novidade. “Moderno”, “novo”, “transformador”, “dinâmico”. Palavras bonitas que dizem pouco ou quase nada sobre qual deve ser o papel de um governador.

Por enquanto, temos candidatos a síndico. Ninguém à altura de governadores como os que já tivemos: pense na discussão sobre o centenário do estado com Bento Munhoz da Rocha; a política de industrialização de Jaime Lerner; ou a guinada à esquerda de Roberto Requião.

Goste-se deles ou não, esses homens foram bem mais do que síndicos. Foram gente que discutiu seu tempo e os valores de uma comunidade. Quem aí está à altura deste papel?

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