João Carlos Filla. Foto: Gerson Kleina/Gazeta do Povo.| Foto:

O guarda municipal João Carlos Filla trabalha há 25 anos no anonimato. Nesse período, recuperou carros, armas, fez a segurança do prefeito e da população. Mas o que o tornou famoso foi um dia sem farda. Na escadaria da Câmara de Curitiba, Filla protestava contra mudanças na aposentadoria e em outros benefícios de sua categoria. Acabou aparecendo em jornais do país em inteiro com a cabeça sangrando e o rosto coberto de gás de pimenta.

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Filla estava na primeira onda de servidores que tentaram entrar no plenário da Câmara para impedir os vereadores de votar o pacote de ajuste fiscal enviado pelo prefeito Rafael Greca. O grupo conseguiu entrar passando pela PM e levou a sessão a ser suspensa. Pela segunda vez, a Câmara teve de adiar a votação dos projetos. O prefeito reclamou furiosamente dos manifestantes e disse que não era possível que Filla tivesse sangrado por causa de pancadas da PM.

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“Não existe um cassetete de polícia que tenha tamanho pra bater na cabeça de uma pessoa. Não é um vara-pau de bambu que vá atingir a cabeça de quem está no topo de escada”, disse o prefeito em entrevista ao repórter Felippe Anibal. Greca também falou em público sobre o salário do servidor.

Filla , que vinha se mantendo em silêncio sobre o caso, diz achar um absurdo que Greca tenha falado de seu salário. E afirma que apanhou com um cassetete. “Alguém tem que contar para o prefeito que foi um bastão de 90 centímetros. Não é bambu, não. E não machuquei caindo, como ele disse. Só se acharem que caí plantando bananeira”, diz. O guarda conta que pensa em ir à Justiça pedir uma indenização pelo ferimento. “Não se bate na cabeça de ninguém.” Leia a entrevista abaixo.

Como o sr. está?
Graças a Deus não aconteceu nada mais sério. Tenho a cabeça dura. O Siate me levou para o Cajuru, fizeram raio-x da cabeça e do quadril, pelos chutes que levei. Teve um corte de dois, três centímetros. Mas estou trabalhando normal, trabalhei a noite passada. Faz oito meses que não estamos fazendo hora extra. E nesse mês que tem hora extra não posso deixar de trabalhar. Preciso do dinheiro.

Como aconteceu o ferimento?
Eu estava quase no último degrau da escadaria. Estavam empurrando e eu sou pesado. Fiquei pensando que se eu rolasse a escada ia cair em cima dos outros, machucar. Tinha mais um cara na minha frente, antes dos policiais, mas não sei como ele saiu dali. Acabei caindo de bunda. Aí enquanto eu estava no chão bateram em mim com um bastão de 90 centímetros. O prefeito andou falando que não existe isso, mas existe. A sorte é que a minha cabeça é muito dura. Não se bate na cabeça. A gente tem esse treinamento, a polícia certamente também tem. O certo é bater em x, no ombro. Demorei para levantar, porque sou pesado. Também jogaram gás de pimenta na ferida e me chutaram.

Andam dizendo que o sr. machucou a cabeça na queda.
De que jeito? Só se eu caísse plantando bananeira. já fui mais ágil, hoje eu nem conseguiria fazer isso. Caí de bunda. O corte foi da pancada com o bastão. Tem gente que fala sem saber, sem ter visto.

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Disseram que os guardas estavam armados.
A gente tem porte de arma. Isso não é proibido. Mas ninguém sacou arma. E quem que é idiota de atirar na polícia?

O prefeito passou a divulgar o seu nome e seu salário depois dos fatos. O que o sr. acha disso?
Eu acho um absurdo. Tenho meu salário porque é o que eu mereço. Tenho 25 anos de guarda, sou supervisor. Acho até que é pouco. Já fiz a guarda do sr prefeito, da primeira-dama. Se eu sou bandido como que me querem protegendo eles?

Por que o sr. decidiu participar do protesto?
Querem aumentar em 3% nossa cobrança de aposentadoria. Para eles não faz diferença, para mim faz. Mas não é só isso, é tudo. Tenho um casal de filhos, neta, tenho contas pra pagar. Não sou bandido. A gente nunca tem direito, engraçado. Para aumentar salário dos políticos é rapidinho, o nosso nunca dá. Tem que entender que isso não é contra o prefeito, o governador, é para a gente não ser massacrado.

Alguma autoridade ligou para o sr?
Não. Nem prefeito, nem alguém em nome dele, nem vereador. Nem a chefia da guarda. Só meus colegas de guarda mesmo.

O sr. pretende pedir indenização na Justiça?
Com certeza vou pensar a sério nisso. Não se bate na cabeça de ninguém. Foi um susto tremendo. Assustei a esposa e os filhos. Liguei pro meu pai, disse: “Não sei se o sr. viu, mas se viu não se preocupe.” E se dá um infarto no velhinho, na velhinha?

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O sr. pretende ir protestar de novo na próxima data de votação, na segunda?
Não sei se vou poder ir, mas gostaria.

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