Hermes da Fonseca: proibição de jogar no "burro".| Foto:

O Brasil já teve pelo menos um presidente reconhecidamente erudito, Fernando Henrique Cardoso. Teve alguns que até tentavam uma incursão no mundo da intelectualidade, embora com resultados variados: o poeta Sarney, o jurista Temer. Teve um operário sem educação formal mas rápido de tirocínio. Teve uma presidente ruim de discurso mas que só por má vontade podia ser chamada de burra.

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Mas teve também alguns presidentes reconhecidamente burros. Dois deles entraram para o anedotário justamente por essa característica. Coincidência ou não, os dois eram militares, mas separados por meio século de diferença. Mais ou menos a diferença que separa o segundo deles de outro militar intelectualmente limitado a assumir a presidência em janeiro próximo.

Nos anos 1910, Hermes da Fonseca entrou, com justiça ou não, para o folclore da política nacional como um sujeito de poucas aptidões intelectuais. “Entregar a presidência para um sujeito que diz ‘Hão de verem’ não é possível”, queixava-se um contemporâneo. Mas a presidência lhe coube por quatro anos. Curiosamente depois de derrotar nas urnas um intelectual brilhante como Ruy Barbosa.

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O anedotário de Hermes é vasto. A população fazia troça dele, cantando marchinhas em que o presidente (apelidado de “Dudu”) sempre se dava mal pela burrice e pelo azar. Durante um Estado de Sítio na capital (e isso é verdade), a polícia aproveitou para proibir as apostas no burro. O jogo do bicho passou a correr com 24 animais, porque as apostas no burro podiam ser vistas como uma ofensa velada ao presidente.

Costa e Silva, nos anos 1960, tinha fama parecida. As piadas são muitas. Ariano Suassuna gostava de contar uma, disponível na Internet. O presidente, para mostrar cultura, ia a uma escola testar os alunos do fundamental. Para caso não soubesse a resposta, levava uma cola. Depois de algumas questões, disse que um aluno errou ao afirmar que a água fervia a 100º. A professora, tímida, interveio, confirmando. Costa e Silva teria olhado de novo a colinha: “É verdade, quem ferve a 90º é o ângulo reto”.

Bolsonaro, durante a campanha, além da fama de autoritário, pegou fama também de burro. Ao ser questionado sobre mortalidade infantil, respondeu falando sobre cuidados com os dentes da mãe. Não soube responder qual é o tripé macroeconômico do país e levou um puxão de orelha público de uma entrevistadora ao dizer que os militares tiveram os melhores resultados econômicos do país.

O capitão também por vezes parece fazer questão de parecer propositadamente inculto, dizendo não ler livros ou respondendo que seu livro favorito é o do coronel Ustra. Ao longo do tempo, o novo presidente já foi chamado de burro por intelectuais da própria direita, como Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Arnaldo Jabor.

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Mas se sobrevivemos a Hermes e a Costa e Silva, não será Bolsonaro que acabará com o país. No fim, acabará enriquecendo nosso anedotário.