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Assim como nós, os norte-americanos também vão às urnas nos próximos dias. No caso deles, para escolher parlamentares e governadores. O resultado mostrará a força que os principais partidos, o Republicano e o Democrata, terão em 2014, na sucessão de Barack Obama. Mostrará também a força dos radicais de direita do Tea Party. E cada grupo faz de tudo para passar por cima do outro.

Lá, como cá, a eleição virou um vale tudo. Os direitistas, principalmente, perderam a mão: pintam bigodes de Hitler em Obama, fa­­­zem cartazes em que o presidente aparece como o anjo da Morte e coisas do gênero. Baixaria total.

No meio da confusão, a voz mais sensata que apareceu foi a de um humorista. Jon Stewart, apresentador de um programa diário em que comenta notícias de política, convocou um comício para o próximo dia 30. Não para defender qualquer candidato. E, sim, para defender “os que não gostam de gritar” e os que acham que pintar bigode de Hitler só fica bem “no próprio Hitler, ou em Charles Cha­­­plin, em alguns papéis”.

Falta-nos um Jon Stewart. Al­­­guém que chame os hooligans dos dois lados às falas: ou melhor, à conversa democrática. Alguém que nos lembre de que discutir política é mais do que dizer que “Dilma é guerrilheira” e que “Serra é privatista”; que “Dilma dá bolsa-esmola” e que “Serra é um retorno ao passado”.

O caminho que escolhemos, apa­­­­rentemente, é o de jogar objetos nos candidatos. Não gosto de Serra? Bolinha de papel nele (ou o que quer que tenham jogado, afinal). Não vou com a cara da Dilma? Despejo uma bexiga de água e pron­­to. Está dado o meu recado. “Agora eles vão saber o que é bom para tosse!”

Mas o fato é que esse tipo de comportamento de torcida que petistas e tucanos assumem, simplesmente demonizando o outro lado, não dá recado a ninguém. Parece que estamos apenas repetindo aquele velho ditado sobre o comportamento estúpido machista: posso não saber porque estou batendo, mas eles sabem porque estão apanhando.

Mas ficamos nisso: impedimos que Serra entre na van, mostramos dedos a Dilma. Como bárbaros, gri­­­­tamos quando eles passam perto de nós. E esquecemos o principal: que o que devíamos era apoiar um projeto que nos empolgasse, e não dedicar nosso tempo a odiar o adversário.

Até porque não é construtivo. Há motivos que valem uma boa manifestação. Veja o caso dos franceses. Ok, eles se excederam. Mas mostraram nos últimos dias, ao provocar uma onda de protestos em várias partes do país, qual é o seu ponto: não concordam com a reforma da previdência que está sendo formulada para eles. O recado, nesse caso, é claro. Se eles estão certos é um outro problema.

Aqui, como uns tolos, deixamos que os candidatos à Presidên­­­cia passem meses na tevê xingando uns aos outros sem sequer apresentar quais são seus planos para nossa aposentadoria. Alguém aí lembra de alguma proposta de Dilma ou de Serra para a previdência? Como resolver o buraco e manter as contas do país sustentáveis? Claro que não vale simplesmente dizer que vai dar 10% de aumento. Isso é mero populismo.

Deixamos os dois sapatearem, gas­­tando tempo para provar que o adversário é o fim do mundo. E até incentivamos esse comportamento. Nos tornamos jagunços de PT e PSDB. “Se passar perto de mim, le­­­va bolinha de papel”. E a pre­­­vi­­dência? Ah, essa deixa para os franceses discutirem. Nós nos conten­­tamos em jogar bexigas nos outros.

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