O impasse entre governo Temer, governo Richa e estudantes das ocupações começa a ganhar novos contornos. A cada dia que passa, a chance de radicalização dos dois lados parece aumentar. Por outro lado, não parece haver qualquer horizonte de que os estudantes tenham sua principal reivindicação atendida.
Os alunos ocuparam escolas e outros prédios públicos com um objetivo bastante claro (e nobre): fazer com que o governo federal recue da ideia de fazer uma reforma do ensino médio sem conversar com as partes interessadas – por Medida Provisória, o que é quase o mesmo que fazer por decreto.
A movimentação dos estudantes ganhou corpo e ganhou adesão da própria sociedade. Insatisfeita com a educação pública e com os políticos, a população parece ter visto com bons olhos a ação contra o governo. Exceto por militantes radicais de movimentos de direita, de início quase ninguém protestava contra os protestos.
Quando a ocupação atingiu seu pico, com mais de 850 escolas tomadas no Paraná, começou a haver críticas. A morte de um aluno em Santa Felicidade fez eclodir as primeiras manifestações fortes contra o movimento estudantil. O MBL, com táticas de guerrilha, começou a minar o movimento. Pais e alunos contrários às ocupações começaram a dar as caras.
Até aí, a resistência dos alunos ainda continuava parecendo ter simpatia de muita gente. Mas a guerra de comunicação começou a trazer problemas para o movimento: principalmente por erros dos próprios estudantes, como a tomada do Núcleo de Educação por gente mascarada: até ali, ficava evidente que eram estudantes, e dispostos a dar a cara.
Se Ana Júlia se transformou em um símbolo da juventude que mostra o rosto e discursa em favor da causa, os mascarados do NRE viraram o símbolo de um movimento que parece estar tomando outros rumos.
Ao mesmo tempo, toda a esquerda do país começou a jogar sobre os alunos uma carga política que eles não merecem ter de carregar. Apanhando nas urnas, expulsa do cenário político-partidário momentaneamente, a esquerda viu nos estudantes das ocupações sua redenção. Viu nos alunos seus porta-vozes. E começou a criar expectativas com o movimento.
Mas os alunos são apenas e simplesmente meninos e meninas de 14, 15 anos que não podem servir de válvula de escape para os partidos que momentaneamente estão nocauteados. Não é bom que sindicatos e partidos vejam no movimento algo que tenha obrigações maiores do que a de defender a própria pauta.
Há mais: o governo do estado também mudou de postura. Antes das eleições, Beto Richa teve um papel de democrata: prometeu não usar força policial e cumpriu. Bastou acabar a votação, e o governador começou a falar em botar os militares para tirar a meninada à força das escolas. Agora, cercou um prédio ocupado e, sem mandado, cortou água, luz e comida dos manifestantes.
A todas essas, Temer e o ministro da Educação não mostraram um pingo de boa vontade em mudar de estratégia. Jamais cederam. Ignoraram solenemente um movimento que, por seu apelo, praticamente parou a educação pública de um dos maiores estados da federação.
E eis o principal impasse: os alunos precisam decidir até onde estão dispostos a ir quando o “outro lado” parece irredutível. E, agora, falando em usar a força. A tensão só vai começar a reduzir se um dos lados perceber que precisa ceder.
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