Violência policial: cada vez maior. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo.| Foto:

É impressionante e assustador ver como qualquer notícia que tenha a ver com violência policial repercute – e como a maioria absoluta dos comentários tende a ser a favor de mais violência por parte da PM. Foi o que aconteceu por esses dias aqui no blog.

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Na semana passada, o Caixa Zero mostrou que, mais uma vez, a polícia paranaense matou mais pessoas do que qualquer polícia norte-americana. Isso apesar de o Paraná ter pouco mais de um quarto da população da Califórnia, por exemplo.

O texto nem chegava a criticar a polícia diretamente: apenas mostrava o número. Em 2017, no primeiro semestre a polícia teve confrontos que terminaram em 144 mortes de civis. Em 2016, contando o ano todo foram 253 mortes em confrontos do gênero.

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Comparação

Ninguém questiona que o número é alto. Também ninguém quer comparar o Brasil com países muito diferentes. Digamos: seria um absurdo comparar o país com a Islândia, que só teve uma morte causada pela polícia até hoje: mas a Islândia tem a população de Guarapuava…

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Os Estados Unidos, assim como o Brasil, são um país continental. Temos 200 milhões de pessoas, eles têm 300 milhões. Lógico que eles são um país mais rico. Mas a polícia americana é vista como bastante violenta: aliás, esse é um tema fundamental do jornalismo dos EUA não só hoje, como há muito tempo.

Assim como os EUA, temos uma formação social, econômica e étnica muito diversa. E diferenças sociais gritantes, com guetos, favelas, violência.

O que isso revela?

Mas esqueçamos os EUA. O fato é que o Brasil tem um número altíssimo de mortes em confronto com a polícia. Mesmo imaginando que em nenhum caso tivesse havido excesso da parte dos PMs (ou seja, que em todos ois casos tenha havido legítima defesa, que tudo tenha sido feito dentro da lei), seria um número assustador.

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Que revelaria nossa trágica realidade social.

Que mostraria inclusive o drama da polícia que precisa enfrentar gente armada e disposta a atirar nos PMs.

O que também, claro, é uma enorme preocupação.

Mas o que a maior parte dos comentários críticos a matérias do gênero não tem nada a ver com isso. A discussão tende a ir sempre para o mesmo lado: para um debate sobre a possível conivência da imprensa, de certos setores da sociedade e dos “direitos humanos” com os criminosos.

Antes eles do que nós

O discurso basicamente é: essas pessoas morreram porque mereceram morrer. E quem não vê isso não entende nada da vida e do mundo.

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É claro que esse é um discurso de uma sociedade doente. Uma sociedade sã compreende que não se pode matar alguém assim, em julgamento sumário. É por isso que em todas as democracias, em todo país civilizado, os policiais só têm autorização para atirar quando a vida do próprio policial ou de outra pessoa está em risco imediato.

Os comentários normalmente são: mataram foi pouco; os que mataram estão de parabéns; antes eles do que nós. Como se só houvesse essa possibilidade.

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É como se essas pessoas tivessem abandonado qualquer possibilidade de viver numa civilização. E tivessem decidido que é preciso voltar ao olho por olho.

Que, claro, deixa cegos muitos inocentes.

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Ou será que os policiais JAMAIS matam um inocente? Caco Barcellos, em Rota 66, conta a história de um fã do Choque da PM paulista que acabou sendo assassinado, injustamente, pela própria Rota. Os casos estão aí para quem quer ver. Mas há muita gente que, por um ou outro motivo, não quer ver.

Abutres

Mas o que é pior é que há quem saia ganhando com isso. Ganhando politicamente, esse é o principal. Gente que lucra com o medo dessas pessoas e com a violência da PM. Que vive disso para ter ibope na tevê. E para depois conseguir votos para deputado. São verdadeiros abutres da violência da PM.

Para essas pessoas, não interessa resolver problema algum. Quanto maior a insegurança, maior o lucro. E a eles, claro, cabe atacar quem mostra o tamanho do problema.

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