Prefeito Rafael Greca. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.| Foto:

Rafael Greca adora contar a história de quando o presidente do Banco Mundial visitou Curitiba durante sua primeira (e até agora, única) gestão como prefeito. Depois de passar uma parte da noite conhecendo as obras sociais da primeira-dama, o sujeito estaria tão impressionado que terminou dizendo que aquilo já não era uma cidade, era uma ópera.

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Orgulhoso de suas origens italianas, expansivo e dramático por natureza, Greca é o estereótipo do amante de ópera. Infelizmente, na sua segunda gestão como prefeito, ainda não iniciada, decidiu que a música era algo “perverso” quando tirava recursos da saúde. Fechados os teatros para a Oficina, decidiu agora dedica-los a tristes espetáculos políticos, como o que a cidade acompanha neste início de semana.

Dono da Câmara – como todo prefeito tem sido em Curitiba – Greca retirou seus vereadores da Câmara, a Casa do Povo, e colocou-os sobre um palco. Lá, interpretam uma farsa, uma ópera-bufa. Um daqueles espetáculos em que, por mal escritos, já se sabe o final desde o começo. De certo ponto de vista, uma tragédia. Mas, mais propriamente, uma ópera-bufa.

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É típico da ópera-bufa (assim como da comédia de costumes em geral) que os personagens que se pretendem mais importantes, mais sérios, mais graves, sejam na verdade o motivo do riso – sejam patéticos. Os vereadores que se deram o direito de se colocar sobre um palco para votar um projeto distante dos olhos da população se colocam nessa situação, em que o feio não é percebido pelo personagem, só por quem o observa, e daí vem o riso.

Greca assumiu nessa ópera o papel de libretista. Decidiu o que os vereadores devem votar. As árias que devem cantar para justificar o arrocho. E estabeleceu o resultado final da votação ao construir muito bem a sua base, que terá cerca de três quartos da Câmara. E ficou irritadíssimo quando a plateia não gostou de seu espetáculo. Ao invés de mudá-lo, considerando-se, como todo pretenso gênio das artes, acima da crítica, achou que quem tinha de mudar era o público.

Na ausência e na impossibilidade de achar alguém que gostasse do que escreveu (até porque elegeu-se com proposta absolutamente oposta), decidiu que então faria seu espetáculo sem público nenhum. E colocou seus barítonos, contraltos e baixos no triste papel de cantarem diante de ninguém, numa ópera vazia, em que as únicas testemunhas tiveram de ser revistadas para se saber se não tinham intenção de cometer mais um ato desesperado para evitar o final previsível.

A crítica profissional, encarregada de registrar os fatos, também ficou a distância, providencialmente colocada num mezanino. O próprio libretista não achou por bem comparecer. Fez questão apenas que a polícia garantisse que seu espetáculo seja levado até o final. Depois, receberá os estanhos lucros desse processo e governará, se apresentando nos bairros como patrono de obras e esperando os aplausos.

Como se não fosse dele esse triste primeiro ato de um governo que até agora está apenas atrás da cortina. Esperando para fazer aquilo que, antes de contratado, o libretista, agora escondido na coxia, disse que faria com tremenda facilidade.

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