Ricardo Pozzo| Foto:

1 – Sente-se o desamparo da vida quando o carro tem uma pane elétrica na rodovia.

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2 – Guaratuba, quarta-feira. O mar em um dia comum é também um ato de se deslocar do tempo. A última vez que corri dez quilômetros tinha dez anos antes. Estou envelhecendo tanto que ando a ter vergonha de meu coração.
3 – Torcerei pela Ponte Preta amanhã, contra o Lanús, com a galhardia de um bebedor de absinto. Entretanto, se a moça quiser beber comigo depois de sua prova, que é antes do jogo, adeus futebol, adeus Campinas.
4 – Já quis ser caminhoneiro, a ilusão precária de conquistar territórios sem pisá-los na íntegra. Os caminhões passam ao lado de meu carro como se por cima dele, em estrondos que me assustam e maravilham. Placas do Brasil todo, uma de Chapada de Areia. Onde fica Chapada de Areia?
5 – Vivo o amor como farsa.
6 – “Sempre só / Eu vivo procurando alguém / Que sofra como eu também / Mas não consigo achar ninguém / Sempre só / E a vida vai seguindo assim / Não tenho quem tem dó de mim / Estou chegando ao fim”. Bardo Tatára, segunda-feira. Comento com esta moça encantadora sobre a comunicabilidade afetiva desta canção de Nelson Cavaquinho e ela diz, sem conhecer a canção, apenas de me ouvir citá-la, que é a narrativa geral de sua vida. A minha também. A nossa. Gostei dela e dessa espontaneidade trágica. Estou chegando ao fim.
7 – Quero transmitir a você as minhas lamentações sobre a crônica esportiva de domingo, a perplexidade geral diante da selvageria em Joinville. Não pretendo especular o que seria o melhor a fazer com os torcedores violentos, com os dois times, nem com o futuro do futebol brasileiro. Mas, assim, de passagem, eu te digo que se me dessem onipotência, eu rebaixava o Atlético Paranaense pra Segunda Divisão e o Vasco da Gama pra Série C. E impedia a convivência em sociedade de todos os torcedores envolvidos por tempo indeterminado.
8 – O guincho chegou.

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