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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

3.

É Ano Novo em BC.

16 minutos de fogos de artifício, um minuto a menos do que Fortaleza, vi no noticiário. Interessa-me tudo o que se passa em Fortaleza. Sei que teve/vai ter Paula Fernandes e xote. Também Wesley Safadão com a Banda Garota Safada, Ítalo & Renno, Simone & Simaria, Luís Marcelo & Gabriel, Banda Patrulha, Betinho & Thayná e Banda Acaiaca. [Eles têm um Batalhão de Polícia de Eventos. Nossa.]

É Ano Novo. Fogos: é bonito, mas não precisava fazer barulho. Abraçamos-nos, nos beijamos – calma, minha querida fortalezense, não beijei ninguém – e estouramos nossos espumantes. São os ventos dos novos tempos, os bons augúrios, as promessas, as resoluções. Comove-me, inclusive, prestigiar uma briga um pouco depois da meia-noite entre dois homens no meio da avenida. Parece que alguém mexeu com a mulher de alguém. O rapaz solteiro não gostou da acusação, afinal, ninguém quer começar o ano envolvido em pecado capital, e tratou logo de pegar uma garrafa vazia de Freixenet do chão e quebrar na cabeça do semelhante, que começou a se esvair em sangue como uma grande bica rubra e tonta. A mulher se abraçou a ele, chorando de dar dó.

[A Tribuna Catarinense, impresso de BC, de 20 de dezembro, noticiava a preocupação do PM Rodrigo Augusto Schmidt em relação aos vasilhames de vidro que costumam ser levados à praia no Revéillon. Para ele, representam um grande perigo pela possibilidade de ferirem as pessoas na beira-mar. “Pedimos que as pessoas não levem taças, garrafas ou outro recipiente de vidro. Coloquem as bebidas em garrafas de plástico e levem copos descartáveis”, lembrou.]

Estou na casa de amigos, todos de uma frequência tranquila e moderada. Alegra-me, sobretudo, o pouco apreço de nosso pequeno grupo às fotografias. Tenho comigo de modo cada dia mais pungente que as redes sociais estão reconfigurando a relação nossa com os momentos de lazer. Sem o registro fotográfico de nossa suposta felicidade é como se o próprio ato não existisse, a fotografia como registro incessante ao outro de nosso processo de ser feliz, para que possam, num âmbito maior, nos invejar e nos querer, uma espécie de paradoxo da privacidade, de queremos ser vítimas de nós mesmos, autoviolados em moto-contínuo.

De uns tempos pra cá, tenho até evitado analisar o que as mulheres que gosto escrevem em suas timelines e ver como se representam em imagem. As fotografias espelhadas são as mais denotativas deste processo predominantemente narcisista, embora eu confesse que quando a mulher é bonita eu tenho sensações ambíguas. Aliás, este livro da argentina Paula Sibilia chamado Show do Eu: a intimidade como espetáculo me parece ser bom. Vou ver se encontro em Curitiba. Mas isto é uma crônica ou é uma paródia de ensaio?

Ah, deixa eu te dizer. Defini três pequenas metas para 2014: 1) Ficar menos tempo online; 2) Evitar relacionamentos afetivos de potencial destrutivo. A segunda meta surgiu após um breve esporro existencial que presenciei num semáforo ontem de tarde. A moça ralhava com o moço de um jeito quase boxeador. “Por isso você ficou solteiro por tanto tempo… Ninguém te aguenta!”. O rapaz andava de cabeça baixa, enquanto a moça gesticulava, inteira em riste, e desaparecia de meu campo de visão. A terceira meta é expor menos meus relacionamentos amorosos. Quero ver.

Até 1h da manhã do dia 1º, o Juizado da Infância e da Juventude tinha registrado seis procedimentos de crianças perdidas em Fortaleza. Desculpe-me por isso, querida, mas não consegui evitar. Digam a Satã que o Recado foi Entendido. É Daniel Pellizzari. Se passa em Dublin. Que título!

 

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

4.

“Nós só queremos água”

De novo. Prefeituras não conseguem solucionar problema que se repete todos os anos

O Jornal de Santa Catarina noticia em sua edição de 31 de dezembro/1º de janeiro um problema recorrente nas praias do Litoral Norte – Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo, entre outras –: a falta de água. Ontem, no longínquo 2013, já não tinha mais água em alguns bairros de BC e diversos avisos de racionamento enfeitavam os portões dos prédios centrais. Impressionou-me também um episódio de 30 de dezembro, quando íamos à praia, por volta das 20h. Passávamos a ponte do Rio Podre, quando um transformador à nossa frente fez cosplay de réveillon e explodiu magistralmente, deixando mais de metade da cidade sem luz.

[Só pra você saber, o periódico também informou que no dia 30 Blumenau teve sensação de calor de 47°C. Apesar do calor intenso, a sensação térmica de segunda-feira não superou o recorde do ano passado. […] na última semana de 2012 foram registrados 51°C, com temperatura de 41,8°C.]

A Tribuna Catarinense dizia que BC possuía apenas dois pontos impróprios para banho, segundo apuração da Fundação do Meio Ambiente (FATMA). Creio que este apenas deveria vir entre aspas, mas “para o prefeito Edson Renato Dias, o Piriquito, os resultados refletem as ações que vêm sendo implantadas em prol do meio ambiente e da qualidade de vida”.

Sei.

Ah, como é lindo esse jornal Drop, de Florianópolis, ano 15 – Edição #117, distribuição bimestral. O mar e o surfe em diversos ângulos. Uma das matérias, de David Husadel, tem o título de “Quando o desejo morre, nasce o medo”. Acho bonito. É Baltasar Grácian. Talvez as fotografias dos backhands das moças surfistas gerem alguma especulação machista. Tentei aprender a nadar sozinho nesta temporada marítima em BC e realizei duas façanhas: dei quinze braçadas e ingeri dois quilos e meio de coliformes fecais.

E no mundo d’O Atlântico, diário de Itapema, a seção de Variedades: Aos 40 anos, Isabel Fillardis dá à luz terceiro filho. Saudades de Santa Catarina e de meus dois anos em Joinville. Quase hora de voltar pra casa.

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