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O escritor norte-americano Dan Brown tem fixação na Igreja Católica. Em O Código Da Vinci criou uma trama rocambolesca desencadeada por uma hipótese intrigante para alguns e blasfema para outros: a união entre Jesus Cristo e Maria Madalena teria gerado uma linhagem de descendentes. Levada ao cinema por Ron Howard (de Uma Mente Brilhante), a história fez tanto sucesso que a adaptação de Anjos e Demônios, romance anterior do autor, foi autorizada pela Sony Pictures e agora chega às salas de exibição brasileiras.

Tanto O Código Da Vinci quanto Anjos e Demônios são protagonizados pelo simbologista Robert Langdon (Tom Hanks), professor da Universidade de Harvard e especialista em decifração de signos. Numa licença poética, o enredo é deslocado cronologicamente para depois da ação do filme anterior. Nessa nova aventura, Langdon é chamado a Roma para ajudar na investigação do sequestro, seguido de ameaça de morte, de quatro cardeais considerados favoritos em um conclave que está prestes a se iniciar depois da morte do Papa. O rapto tem caráter teológico e teria sido praticado por uma organização denominada Illuminati, composta, originalmente, por homens de ciência que buscavam se defender do obscurantismo da Igreja Católica.

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Séculos atrás, o secto teria sido vítima de feroz perseguição e de um massacre. Para Langdon, os atentados seriam uma espécie de vingança fermentada há séculos. Esse ponto de partida é até interessante, mas, ao misturar-se a uma sucessão de informações desencontradas, que envolvem desde os rituais dos conclaves até a produção da antimatéria, o filme começa a adentrar o território do absurdo e do inverossímil até nele afundar impiedosamente.

Ao lado de Langdon na busca de uma solução para o sequestro está a cientista Vittoria Vetra (Ayelet Zurer), pesquisadora da tal antimatéria que, pelo menos no filme, é capaz de mandar pelos ares o Vaticano e todos os seus tesouros. E é claro que os Illuminati, que parecem vilões saídos dos filmes de James Bond, dela se apossam.

Como a trama se desenrola em Roma, cidade abarrotada de símbolos religiosos por todos os lados, Langdon parece pinto no lixo, orgástico, ainda que às custas de quase ser morto várias vezes, por sufocamento inclusive. O personagem – defendido por um Hanks não mais do que burocrático – se entrega à solução do enigma com entusiasmo colegial. Mas, no Vaticano, ele só tem como aliado o substituto do Papa, dito camerlengo (Ewan McGregor, na melhor atuação do longa).

Mais bem-resolvido e menos tolo do que O Código Da Vinci, Anjos e Demônios peca (ops!) por misturar fato e ficção, fantasia e realidade de forma um tanto quanto leviana. Como lida com temas que fascinam e interessam muita gente, acaba por prestar um desserviço educativo, fornecendo ao grande público, como se fossem verdades, informações históricas, teológicas e científicas equivocadas, truncadas ou inventadas. É claro que a alegação de que se trata apenas de um filme ficcional, de entretenimento, e não de um documentário, pode absolver tanto Brown quanto Howard desse exercício de má fé. Mas não tira da superprodução, em alguns momentos até envolvente do ponto de vista narrativo, um quase intragável paladar de engodo, cuja missão é fazer com que pessoas mal informadas se sintam cultas.