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O Vencedor usa boxe para falar de vida em família
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Divulgação
Mark Wahlberg e Christian Bale: irmãos no ringue.

Cinema e boxe é uma mistura que historicamente tem dado certo em Holly­­wood. Tanto que ren­­deu dois vencedores do Oscar de melhor filme: Rocky, um Lutador (1976) e Menina de Ouro (2004). Indicado ao prêmio da Academia em sete categorias, incluindo melhor filme e diretor, O Vencedor , de David O. Russell (Três Reis), tem traços em comum tanto com um quanto com o outro.

É consenso que um bom longa-metragem sobre qualquer esporte fala tanto da modalidade em questão quanto a respeito dos dramas humanos vivenciados por quem os pratica e quem os cerca, como treinadores, amigos, parentes e cônjuges. O Vencedor não foge a essa regra e tira sua força justamente da complexidade dos personagens.

Como Rocky Balboa, imortalizado por Sylvester Stallone, o protagonista de O Vencedor, Micky Ward (Mark Wahlberg), conhecido pela alcunha de “o Irlandês”, é um rapaz da classe trabalhadora. Vive em um bairro da periferia de Boston e cresceu à sombra do meio-irmão, Dicky Eklund (o fa­­vorito ao Oscar de coadjuvante Chris­­tian Bale, em atuação ge­­nial), que teve seu lugar ao sol co­­mo pugilista, chegou a vencer o campeão Sugar Ray Leonard, mas se rendeu ao crack. Agora, tenta fazer de Micky um novo grande boxeador, mas mal dá conta de se manter de pé, sempre envolvido em brigas e consumido pelo vício.

O tom realista, sem firulas e excesso de heroísmo, direto e seco, aproxima o longa de Russell de Menina de Ouro. Embora o pugilismo tenha papel fundamental na trama, o roteiro está mais interessado em retratar o ambiente em que vivem Micky e Dicky: uma família gritalhona, que sonha em reviver as breves glórias do irmão mais velho, sob o pulso firme da matriarca Alice (Melissa Leo, em desempenho sensacional), dominadora, espalhafatosa e equivocada. Uma atração à parte é o time das muitas irmãs dos dois lutadores, todas solteiras, ruidosas e cúmplices da mãe, que mais parece a chefe de uma gangue.

O contraste entre o desempenho sensível porém contido de Wahlberg e o virtuosismo hiperativo de Bale dá o tom à narrativa, que abre espaço semelhante à tragédia pessoal de Dicky e ao eventual triunfo de Micky, relativizando um e outro. Embora tenha um desfecho feliz, não é uma ode ao sucesso, uma obra moldada com o objetivo de inspirar o público. E isso é uma grande qualidade do roteiro, que prefere focar na vida em família e nas negociações feitas para que todos continuem de alguma forma juntos.

Ah, e as cenas de boxe são ótimas.

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