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Bolívia
Luis Arce foi ministro de Evo Morales e é apontado como responsável pelo sucesso econômico da Bolívia nos últimos 13 anos.| Foto: Divulgação/MAS/Facebook

A vitória em primeiro turno do ex-ministro da Economia Luis Arce nas eleições presidenciais da Bolívia, realizada neste domingo (18) – o resultado ainda precisa ser confirmado oficialmente, mas é dado como certa por todas as pesquisas de boca de urna –, traz uma série de mensagens aos políticos da América do Sul. Arce é aliado do ex-presidente progressista Evo Morales, do partido Movimento ao Socialismo (MAS) e que governou o país por três mandados consecutivos, durante 13 anos.

O triunfo de Arce – ainda não oficializado – foi reconhecido pela presidente do país, Jeanine Áñez, que felicitou os vencedores. Embora ressaltou que resta aguardar os dados oficiais, a presidente disse que "os resultados com que contamos mostra que o sr. Arce e o sr. Choquehuanca ( David Choquehuanca, candidato a vice) ganharam a eleição. Felicito os ganhadores e peço que governem pensando na Bolívia e na democracia".

O segundo colocado na votação, o centrista Carlos Mesa, também reconheceu a vitória de Arce. “É um resultado que aceitamos e é um resultado que consideramos que, dada a distância entre o primeiro e o segundo colocados, não vai mudar quando conhecermos os resultados finais e oficiais do Tribunal Supremo Eleitoral", declarou Mesa.

Eleições na Bolívia 2020
Pesquisa de boca de urna realizada pela Ciesmori, instituição privada de pesquisa da Bolívia.| Reprodução/Unitel

O virtual vencedor da corrida presidencial boliviana se construiu em meio a uma crise política que se arrasta há um ano. Em outubro do ano passado, Morales foi reeleito para um quarto mandato. Logo após a divulgação dos resultados, Mesa e outros opositores acusaram fraude. Partidários dos dois lados foram para as ruas. Houve tumulto. A Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou irregularidades na votação e as Forças Armadas “sugeriram” que Morales abrisse mão do mandato. Morales acusou golpe de Estado, mas, diante da pressão, renunciou e deixou o país.

Além de Morales, também renunciaram o então vice-presidente Álvaro García Linera, a presidente do Senado Adriana Salvatierra e o presidente da Câmara dos Deputados Víctor Borda. Com isso, o cargo de presidente acabou ficando com a advogada e apresentadora de televisão Jeanine Áñez, então segunda vice-presidente do Senado. Sua ascensão ao cargo foi formalmente legitimada pelo Tribunal Constitucional do país.

O resultado das eleições de domingo (18) dá sinais de que a força política de Evo Morales cresceu após o episódio que culminou com sua renúncia. As contagens rápidas dos institutos de pesquisa adiantam que seu ex-ministro da Economia terá mais de 50% dos votos, isto é, mais votos do que ele (Morales) teve no ano passado (47%).

Um dos recados das urnas na Bolívia é que os eleitores dão mostra de que estão mais preocupados com os resultados econômicos e sociais de um governo do que com a ideologia. Não por menos, Arce é apontado como responsável pelo êxito na economia boliviana, que foi a que mais cresceu na América Latina nos últimos 13 anos.

Luis Arce Catacora nasceu em La Paz e se formou em economia pela Universidade Mayor de San Andrés. Tem mestrado em Ciências Econômicas pela Universidade de Warwick, Inglaterra. Construiu sua carreira profissional no Banco Central da Bolívia, onde ingressou em 1987. Ao mesmo tempo que atuava no BC ministrava aulas em universidades públicas e privadas da Bolívia.

O virtual eleito presidente da Bolívia integrou ainda uma corrente econômica denominada “Chuquiago Boys”, em oposição ao grupo Chicago Boys, formado por economistas que fizeram pós-graduação na Universidade de Chicago, importante centro de estudos do liberalismo econômico do qual o atual ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, é seguidor. Um dos espelhos dos simpatizantes dos Chicago Boys é o Chile, que teve grande progresso econômico nas últimas décadas e hoje é o segundo país com melhor renda per capita da América do Sul, atrás apenas do Uruguai, que até o ano passado era governado pela centro-esquerda – hoje o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, é de centro-direita.

Os “Chuquiago Boys” de Arce apostam na tese de fortalecimento do Estado, com maior presença deste na economia e com forte investimento público em infraestrutura e programas sociais de redistribuição de renda.

Eleições na Bolívia
A presidente Jeanine Áñez, principal beneficiada com a crise política na Bolívia, reconheceu a vitória de Luis Arce.| Divulgação/Governo da Bolívia

Sob o comando de Arce, o PIB boliviano cresceu a uma taxa anual média acima de 4%. A renda per capta triplicou entre 2006 e 2018, passando de US$ 1.197 para US$ 3.660. A pobreza extrema foi reduzida de 38,2% em 2005 para 15,2% em 2018, segundo dados do Banco Mundial e do Ministério da Economia da Bolívia.

Após confirmada a vitória de Arce, o ex-ministro de Evo Morales ganhará o direito de ser presidente por cinco anos. Apesar do sucesso anterior, analistas apontam uma série de desafios para que Arce possa repetir os êxitos dos últimos 13 anos. A Bolívia continua a ser um dos países mais pobres da região e a avaliação é que a tendência de expansão econômica terminou em 2019, quando o PIB cresceu em torno de 2,8%.

A economia boliviana é amplamente suportada pelas exportações de gás natural. Com a redução na demanda da Argentina e do Brasil, o país terá menos recursos externos. De acordo com as últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas neste mês, devido à crise decorrente da epidemia de covid-19 o PIB boliviano deverá sofrer queda de 4,5% em 2020. Para 2021 a estimativa é que haverá recuperação, de 4,3%, inferior ao tombo deste ano.

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