| Foto: Reprodução/V-Dem
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Os países que mais sofreram processo de “autocratização” nos últimos 10 anos são Hungria, Turquia, Polônia, Sérvia, Brasil e Índia. É o que mostra o Relatório de Democracia 2020, amplo estudo elaborado pelo Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. O levantamento constata também que houve um declínio global das instituições democráticas no último ano. Pela primeira vez desde 2001, existem agora mais autocracias do que democracias no mundo.

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Entre os fatores usados pela instituição para medir o grau de democracia dos países destacam eleições multipartidárias livres, justas e pacíficas; existência de partidos de oposição autônomos; liberdade de discussão; liberdade de expressão acadêmica e cultural; censura à mídia e assédio a jornalistas; e repressão às organizações sociais civis (OSC).

De acordo com o relatório, o Brasil está no grupo de países que restringiram o escopo da imprensa e da sociedade civil, além de atacar a liberdade de expressão acadêmica e cultural. Os ataques do governo brasileiro à imprensa e a jornalistas são citados no documento. O estudo classifica o Brasil como uma “democracia eleitoral” e não como uma democracia plena. O país tem eleições multipartidárias livres e cumpre minimamente pré-requisitos institucionais, mas o estado de direito não é totalmente satisfeito.

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O Brasil se posiciona em 60º lugar no ranking das democracias, muito atrás de Uruguai, Chile e Argentina. O país mais democrático do mundo, segundo o relatório, é a Dinamarca, seguida de Estônia e Suécia. O pior colocado é a Eritreia, país africano que faz fronteira com Sudão, Etiópia e Djibuti.

Os autores do estudo verificaram que o desenvolvimento da autocratização segue um padrão comum. “A liberdade de imprensa e a sociedade civil são reprimidas primeiro. Somente bem depois que essas arenas de mobilização e informações compensatórias foram controladas, as instituições centrais da democracia – eleições livres e justas – se degradaram”, relatam.

O relatório cita a Hungria como o primeiro membro da União Europeia a sediar um regime autoritário setorial. Segundo dados do instituto, é o caso mais extremo de regressão democrática nos últimos tempos. Em 2010, o governo húngaro promulgou várias leis da mídia que reduziram substancialmente a liberdade de imprensa. Hoje, a grande mídia controlada pelo estado nem sequer tem permissão para reportar, por exemplo, questões de direitos humanos.

O Relatório de Democracia 2020 revela que quase 35% da população mundial vive em nações autocratizantes – cerca de 2,6 bilhões de pessoas. Apenas 8% vivem sob regimes que estão se tornando mais democráticos.

“A terceira onda de autocratização está se acelerando e se aprofundando. A democracia caiu em 26 países em 2019, ante 18 em 2017. Pela primeira vez desde 2001, as democracias não são mais maioria. De 55% (98 estados) em seu pico em 2010 para 48% dos países do mundo a partir de 2019, o planeta agora fica com 87 democracias eleitorais e liberais, que abrigam 46% da população mundial. A dramática perda de oito democracias no último ano estabelece um novo recorde na taxa de colapsos democráticos”, observam os autores do estudo.

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Mas o levantamento mostra também que há sinais positivos de respostas pró-democracia. O estudo contatou que os protestos pró-democracia atingiram um nível histórico em 2019. “As pessoas estão saindo às ruas para protestar contra a erosão das democracias. Protestos populares contribuíram para a democratização substancial em 22 países nos últimos dez anos – incluindo Armênia, Tunísia e Sri Lanka.”