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centro - eleições 2022
Huck, Doria, Moro e Ciro: polarização Bolsonaro-Lula é complicador para consolidação de um nome de centro.| Foto: Fotos Públicas/Agência Brasil/Facebook

Quem esperava um Lula radicalizado no primeiro discurso após ter seus processos na Lava Jato anulados, teve uma surpresa. Entre os diversos alvos da fala do ex-presidente, em tom de moderação, um ficou bem claro: setores considerados de centro e centro-direita do espectro político brasileiro. Disse que precisa conversar com os empresários, com outros partidos que não compõem a esquerda e com governantes de todos os países, independentemente da cor partidária.

Com reservas e algumas críticas – especialmente direcionadas à divulgação de delações premiadas da Lava Jato –, o ex-presidente elogiou a imprensa e reconheceu o papel fundamental dos veículos jornalísticos à democracia. Lula também criticou a política do ódio e disse que tem adversários políticos, mas não inimigos.

Eu quero conversar com a classe política. Porque muitas vezes a gente se recusa a conversar com determinados políticos. Eu gostaria que no Congresso Nacional só tivesse gente boa, de esquerda, progressista, mas não é assim. O povo elegeu quem ele quis eleger. Então nós temos que conversar com quem está lá para ver se consertamos este País.

Lula, no primeiro discurso após ter suas condenações na Lava Jato anuladas.

Mesmo com ataques à atuação de integrantes da Lava Jato em Curitiba e do juiz Sérgio Moro, o ex-presidente foi hábil ao destacar a importância do Ministério Público, como instituição fundamental ao país, e do Poder Judiciário.

Os acenos de Lula a setores do centro e da centro-direita atingem não só as pretensões do presidente Jair Bolsonaro à reeleição, mas principalmente a consolidação de um nome competitivo do que se convencionou chamar 'centro democrático'. Sem um candidato forte, que possa se contrapor à polarização Bolsonaro-Lula, o centro tem poucas chances de chegar ao segundo turno.

Um dos postulantes do centro que vinham se consolidando como principal opositor a Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria, agora corre para acelerar a escolha do nome do PSDB para a eleição presidencial. Ele disputa com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a indicação do partido, o que deve ocorrer em outubro. Doria ganhou campo na “briga” da vacina com Bolsonaro, mas vê risco de perder terreno com a polarização, principalmente por contar com forte apoio de ex-aliados de Bolsonaro, como ele próprio foi.

Outro nome que compete pelo centro é do apresentador Luciano Huck (sem partido). Apesar de baixa rejeição e perfil ‘outsider’ da política convencional, Huck tem demonstrado pouca habilidade na articulação e atitudes titubeantes. Ora é candidato, ora não. Os interesses profissionais parecem falar mais alto, como agora em que se divulga que ele teria que decidir entre assumir o posto de Fausto Silva, o Faustão, como principal apresentador da Rede Globo ou ser candidato.

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro, que perdeu apoio ultimamente e vem encolhendo a cada dia - mas ainda tem altos índices de intenção de voto nas pesquisas eleitorais e angaria simpatia dos eleitores que demonstram frustração com Bolsonaro - é o outro nome no jogo. O problema de Moro, além da resistência de alguns setores do centro, é que, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) considere, em julgamento, que ele foi parcial nas condenações de Lula quando era juiz da Lava Jato, sua cotação poderá cair ainda mais diante do eleitor que clama por uma justiça imparcial, isenta.

Em um cenário com previsão de polarização crescente entre lulistas e bolsonaristas nos próximos meses, os nomes de centro enfrentam um dilema: se avançam sobre o eleitorado da direita, descontente com os rumos do governo Bolsonaro, podem perder simpatizantes do centro e aumentar rejeição na centro-esquerda; se buscam se aproximar mais da centro-esquerda, afastam os eleitores de direita descontentes com Bolsonaro.

Considerado um dos maiores estrategistas políticos brasileiros – isso ficou demonstrado em várias ocasiões, como em 2002, com a Carta ao Povo Brasileiro – Lula aposta que sua força eleitoral tem condições de levar o PT ao segundo turno em 2022 em diversos cenários, mas também entende que o partido precisa de apoio do centro para vencer no segundo turno.

Por fim, na centro-esquerda, está Ciro Gomes (PDT). O pedetista tem criticado Lula, Dilma e o PT, acenando para a centro-direita, mas não parece preocupar o ex-presidente. Lula está convencido de que em um eventual segundo turno contra um candidato de direita, Ciro terá que vir com o nome petista para não repetir 2018, quando foi acusado de fugir e abrir espaço para Bolsonaro. Seja Lula o candidato ou Fernando Haddad.

Aliás, essa é uma pergunta que não está respondida no momento e não deverá ser respondida tão já: o candidato do PT será mesmo Lula? O ex-presidente prefere cautela na resposta, como demonstrou até agora. Será respondida somente no 'time' que o articulista Lula considerar ideal.

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