Setores econômicos brasileiros sentiram alívio após a sinalização do governo Jair Bolsonaro de buscar melhor entendimento com a China. O novo ‘tom’ já resultou no comprometimento chinês de agilizar o envio de insumos de vacina contra Covid-19 ao Brasil. Na mesa das conversações está a não imposição de restrições à empresa Huawei no leilão da frequência de internet 5G, previsto para ocorrer neste ano. O caminho está aberto para ampliar as trocas, mas pode se fechar rapidamente, como ocorreu com a Austrália, com perdas para ambos os lados.
As relações da Austrália com a China, principal parceiro comercial dos australianos, começaram a se deteriorar a partir de 2018, quando o país da Oceania decidiu banir a Huawei de seu programa de implantação da rede 5G. Depois vieram acusações contra a China pela pandemia de coronavírus.
A reação chinesa foi uma série de medidas impostas às exportações australianas. As compras de carne bovina australiana, além de cevada, carvão, algodão e vinho foram atingidas em cheio. Com isso, a Austrália viu reduzidas as exportações desses produtos para a China, que passou a se abastecer em outros mercados.
A situação da Austrália no comércio com os chineses poderia ter se complicado ainda mais não fosse a continuidade da venda de minério de ferro. Esse mineral é o principal produto de exportação da Austrália. A China compra dos australianos cerca de 60% de suas importações de minério de ferro, mas os chineses vêm trabalhando para reduzir essa dependência.
Com os bloqueios chineses, por meio de imposições de aumento de tarifas, os produtores australianos enfrentaram dificuldades para exportar cevada, vinho, lagosta, carne, madeira e algodão para a China.
Em desvantagem, o governo australiano cogitou no mês passado levar as disputas para o âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), instituição da qual os dois países são integrantes. A “terra arrasada” foi o bloqueio imposto pela China com uma tarifa de 80% sobre as exportações de cevada, alegando que a Austrália estava "fazendo dumping" – quando os exportadores vendem a produção a um preço mais baixo no mercado externo em comparação com o mercado interno, o que a Austrália nega.
No caso do Brasil, uma crise no comércio com a China poderia causar grandes prejuízos a diversos setores da economia nacional. Os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil. Em 2020, os dois países comercializaram US$ 101,7 bilhões (cerca de R$ 550,5 bilhões). O lado brasileiro lucrou, obtendo um superávit de US$ 33,6 bilhões de dólares (R$ 181,9 bilhões).
Além das trocas comerciais, grande parte dos recursos estrangeiros que entram no Brasil hoje vem da China. O país asiático é responsável por 31% dos investimentos estrangeiros no Brasil.
O fator ideológico do governo Bolsonaro nas relações internacionais não tem demonstrado ser positivo economicamente para o Brasil. O país precisa ser pragmático. Para ter boas relações com os EUA, por exemplo, não é necessário romper com a China, e vice-versa. Basta habilidade nas relações internacionais.
Se for para vender produtos brasileiros apenas para países que têm governos com a mesma linha ideológica de Bolsonaro, o Brasil terá poucas opções comerciais e as exportações brasileiras ficarão encalhadas.
Com os EUA sob o governo de Donald Trump a estratégia ideológica fracassou em termos econômicos. O comércio entre Brasil e EUA não teve progressos. Além de ficarem praticamente estagnadas, as trocas comerciais entre brasileiros e americanos favoreceram mais os americanos.
Da mesma forma que deve evitar os ataques 'nonsense' à China, o governo Bolsonaro também precisa reconhecer o desafio de se aproximar do novo governo dos EUA. A aliança ideológica com Trump provocou um distanciamento sem precedentes entre o governo brasileiro e os democratas norte-americanos. Resta saber se já não é tarde demais para reverter o quadro de isolamento que se consolida a cada dia.
Plano do governo Lula para segurança tem 5 medidas que podem aumentar a criminalidade
Barroso ameaça banir as redes sociais no Brasil; acompanhe o Sem Rodeios
Justiça Eleitoral de São Paulo nega pedido de cassação de candidatura de Boulos
Carla Zambelli diz que foi proibida de assinar impeachment de Moraes
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião