Michael Ryan, diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS).| Foto: OMS/Youtube
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"É importante colocar isso em cima da mesa: esse vírus pode se tornar apenas mais um vírus endêmico em nossas comunidades e nunca desaparecer.” A afirmação do diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, durante conferência de imprensa na quarta-feira (13), é um alerta a quem tenta neste momento prever quando o novo coronavírus desaparecerá.

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A avaliação sumária de Ryan veio poucas horas depois que a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, declarou ao jornal Financial Times que pode levar de "quatro a cinco" anos para "controlar" o coronavírus.  “Não há bola de cristal", acrescentou ao responder se as coisas vão melhorar ou pior neste surto.

Com as possibilidades de o novo coronavírus não ir mais embora, o cenário que se desenha é de grandes mudanças nas relações sociais e econômicas em todo o mundo. Muitos hábitos de lazer e consumo, formas de trabalho e produção, além de práticas de ensino teriam que passar por profundas readequações.

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O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, de 61 anos, prevê um mundo em “estado de guerra permanente”. Esse “novo mundo”, seria marcado pelo senso de sobrevivência e sacrifício do prazer. “Em uma sociedade de sobrevivência, todo o sentido da boa vida se perde. O prazer também será sacrificado para o propósito maior da saúde”, diz.

Em entrevista a Juan Zafra, professor do Departamento de Jornalismo e Comunicação Audiovisual da Universidade Carlos III (Espanha), o sociólogo norte-americano Jeremy Rifkin, que escreveu mais de 20 livros com propostas para garantir nossa sobrevivência no planeta, diz que nada voltará ao normal novamente. "Esta é uma chamada de alerta em todo o planeta. O que temos que fazer agora é construir as infraestruturas que nos permitam viver de uma maneira diferente. Devemos assumir que estamos em uma nova era", afirma Rifkin na entrevista publicada no site The Conversation.

Em sua coluna no Jornal da Universidade de São Paulo (USP), o professor Guilherme Wisnik, analisa os cenários para o mundo. Em seu texto, ele prevê “a possibilidade de o Ocidente ser varrido por uma crise sem precedentes, que abra espaço para invasão dos sistemas de monitoramento de controle, de vigilância orientais, que, de alguma maneira, derrubariam a nossa liberdade individual ocidental”.

Michael Ryan, da OMS, comentou que o novo coronavírus pode repetir o que ocorreu com o HIV, que até hoje está presente no planeta. "O HIV não desapareceu, mas chegamos a um acordo com o vírus", disse, se referindo ao controle da Aids no mundo.

Vacina pode não acabar com o novo coronavírus

Ao mesmo tempo em que fazem previsões preocupantes sobre o futuro do combate à pandemia, os especialistas das OMS demonstram esperança de que uma vacina contra o vírus seja produzida a médio prazo. A vacina é a "arma" que pode permitir a volta de uma certa normalidade.

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Porém, mesmo com a vacina, há possibilidade de que o vírus não vá embora. Ryan cita casos de outras doenças no mundo para as quais existem vacinas, mas que perduram entre nós. Doenças como o sarampo permanecem em decorrência da decisão de muitas pessoas de não se vacinarem e também de falhas nos sistemas de saúde pública e de autoridades de muitos países.

| Foto: European Pharmaceutical

Além da resistência de algumas pessoas às vacinas e da incapacidade de alguns países fazer a prevenção em 100% de sua população, outro problema é a dificuldade para fazer chegar rapidamente uma vacina contra o coronavírus a todas as partes do mundo. Atualmente, existem mais de 100 possíveis vacinas em desenvolvimento. Mesmo que uma fique pronta há um longo caminho a percorrer.

Muitas questões são levantadas hoje de como uma vacina será distribuída e quais serão as prioridades. Há barreiras políticas, financeiras, logísticas e em escala humana e de produção em grande escala.

A Sanofi, multinacional farmacêutica, causou indignação na comunidade internacional ao afirmar que, se conseguir a vacina, primeiro vai distribuir aos Estados Unidos, país que investe nas pesquisas. A União Europeia, outros países e a OMS defendem que o acesso à vacina seja universal. "A vacina contra a covid-19 deve ser um bem público global e seu acesso precisa ser equitativo e universal", disse a jornalistas nesta quinta-feira (14) o porta-voz da Comissão Europeia, Stefan de Keersmaecker.

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Nos EUA há grande resistência à uma possível vacina contra o coronavírus. Apenas metade (53%) dos adultos norte-americanos com idades entre 35 e 44 anos disseram definitivamente que "Sim, eu seria vacinado" contra a covid-19 se uma vacina estivesse disponível, de acordo com uma pesquisa da Morning Consult realizada no início deste mês.

Para o doutor Ryan, “a ciência pode inventar uma vacina, mas se alguém fizer isso, precisamos fazer o suficiente para que todos possam tomar uma dose dela, e precisamos ser capazes de entregar isso, e as pessoas precisam querer tomar a vacina”. “Cada uma dessas etapas está repleta de desafios", alertou.