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Corrupção no governo
Propaganda do governo e aliados sobre fim da corrupção.| Foto: Reprodução/Facebook

Um dos principais argumentos usados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores para rebater críticos é que não há corrupção no governo e entre seus aliados. A narrativa foi bem-sucedida no enfrentamento de denúncias envolvendo a chamada “rachadinha” – suposto esquema de desvio de recursos públicos do antigo gabinete de deputado estadual de Flávio Bolsonaro – e serviu para se contrapor às acusações de supostas irregularidades na aquisição de cloroquina e de desvios na liberação de madeira suspeita de irregularidade. Agora, com indícios de crime na compra bilionária (R$ 1,6 bilhão) da vacina indiana Covaxin, a tese de um “governo incorruptível” sofre seu mais forte abalo.

O Ministério Público Federal (MPF) elencou pelo menos cinco pontos que levaram a indícios de crime na compra da vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech: valor de R$ 80,70 por dose — quatro vezes o valor unitário da AstraZeneca; período de 97 dias de negociação para assinatura do contrato contra 330 dias da Pfizer; único contrato do governo federal que contou com um intermediário, a Precisa Medicamentos; relato do servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda de ter “sofrido pressão atípica” de superiores para garantir a importação do imunizante indiano; e a dívida de R$ 19,9 milhões que a Global Gestão em Saúde, sócia da Precisa Medicamentos, tem com o Ministério da Saúde.

A tese do “governo incorruptível” sofreu outro duro golpe, após a ação do MPF, com as afirmações do deputado Luis Miranda (DEM-DF) de que alertou o presidente Bolsonaro sobre indícios de irregularidade na negociação da Covaxin. Segundo o parlamentar, no dia 20 de março, ele foi pessoalmente com seu irmão, Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, levar toda a documentação para Bolsonaro sobre o negócio. O deputado diz que Bolsonaro prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o caso, mas que não recebeu retorno do presidente ou da PF.

Nesta quarta-feira (23), Luis Miranda repassou ao site Metrópoles mensagens que, segundo ele, teriam sido encaminhadas ao secretário de Bolsonaro com os alertas de uma possível corrupção na pasta.

Corrupção no governo

"Avise ao PR [presidente da República] que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Ministério da Saúde”, diz uma das mensagens que teriam sido encaminhadas pelo parlamentar ao governo, às 12h55 do dia 20 de março.

O caso Covaxin não só abala a já fragilizada tese do “governo sem corrupção” como também provoca uma crise que ainda não se sabe as consequências. Tanto que o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse nesta quarta-feira (23) que as denúncias de pressão para a liberação da importação do imunizante indiano e a possibilidade de que Bolsonaro tenha tido conhecimento da situação, é a denúncia mais grave recebida até agora pela comissão.

A única sustentação do governo neste momento é que os casos ainda estão no nível de denúncia e de investigação, as quais, sem comprovação, não tem validade. Independentemente do resultado das apurações, politicamente, o estrago está feito.

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