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Crise institucional
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, se cumprimentam durante posse de novos ministros do Superior Tribunal do Trabalho (TST), em Brasília.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A crise institucional instalada entre o presidente Jair Bolsonaro e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tem servido para desviar o foco dos reais problemas do país. Os ataques espalhafatosos de Bolsonaro e a reação barulhenta – em algumas situações – de integrantes da Suprema Corte contribuem para criar uma “cortina de fumaça” e impedir o debate das questões que afetam diretamente a vida da grande maioria da população brasileira.

O resultado desse confronto desnecessário, que afeta as instituições e a democracia, tem sido favorável ao governo. Com o foco desviado de problemas como a disparada dos preços em todos os setores da economia – gás, combustíveis, alimentos, serviços –, além do aumento da pobreza, da desigualdade social e do desemprego, Bolsonaro consegue trazer para o centro do debate apenas temas que interessam à sua legião de seguidores e à sua reeleição. Ministros do STF dão uma ajudinha nessa estratégia bolsonarista ao adotarem retórica que, em muitos casos, promove os virais da crise nos meios digitais.

crise institucional
Canais de aliados na internet ajudam a propagar falas de Bolsonaro.| Reprodução/Facebook

Essa estratégia do chefe do Palácio do Planalto não é nova. Em abril de 2021, por exemplo, o então ministro do STF Marco Aurélio Mello afirmou que as declarações de Bolsonaro sobre impeachment de ministros da Suprema Corte configuravam uma “tentativa de desviar o foco”.

Entre os alvos preferenciais de Bolsonaro para criar ‘factoides’ estão também jornalistas. Um exemplo é o caso envolvendo a jornalista Patrícia Campos Mello, autora de reportagens na Folha de S. Paulo sobre o esquema de disparo de mensagens nas eleições de 2018. Em fevereiro de 2020, a profissional foi insultada pelo presidente por meio de frase de conotação sexual. Pouco mais de um ano depois do ocorrido, em março do ano passado, a juíza Inah de Lemos e Silva Machado, da 19ª Vara Civil de São Paulo, condenou o presidente a indenizar a jornalista em R$ 20 mil por danos morais.

Agora em 2022, o embate que está desviando o foco das questões sociais e econômicas do país envolve personagens de crises que se repetem desde 2019: ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes. Depois de ter apresentado à Suprema Corte notícia-crime contra Moraes por abuso de autoridade – pedido rejeitado por Dias Toffoli –, Bolsonaro recorreu à Procuradoria-Geral da República (PGR).

No Congresso Nacional, não são apenas políticos que integram a aliança do ex-presidente Lula que veem nas investidas do presidente da República uma ‘jogada’ para fugir do debate de questões reconhecidamente negativas ao governo. Avaliação nesse sentido vem de parlamentares de vários grandes partidos, a exemplo de integrantes do MDB, União Brasil e PSDB, entre outros.

Apesar de medidas como a tentativa de processar Alexandre de Moraes estarem dentro da regra do jogo – todo cidadão tem direito de buscar a Justiça –, as investidas do presidente são voltadas para mobilizar legiões de apoiadores radicais. Com isso, além de desviar o foco das mazelas do atual governo, o mandatário do Planalto joga firme para barrar as investigações sobre os esquemas de fake news, os quais envolvem financiadores e agentes produtores e propagadores de desinformação.

Faltando poucos meses para a escolha de quem será o encarregado de conduzir o governo no período de 2023 a 2026, o país perde grande oportunidade de estar debatendo soluções para debelar a grave crise e construir um plano capaz de tirar o Brasil da beira do abismo. O que a grande maioria da população espera são medidas que possam garantir melhorias na qualidade de vida de todos, e não factoides. Barrar a carestia, segurar a inflação e recuperar o poder aquisitivo, além da oportunidade de trabalho de qualidade e seguridades social, estão entre essas medidas.

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