Ilustração de matéria do jornalista Marcelo Auler sobre a ação judicial de delegados da PF.| Foto:
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O Juizado Especial Cível de Curitiba mandou retirar do ar textos publicados na internet pelo jornalista carioca Marcelo Auler, 60 anos, com críticas a condutas da Polícia Federal na Operação Lava Jato. De acordo com o blog do jornalista e reportagens de jornais, como a Folha de S. Paulo, dez textos foram retirados do ar. A defesa de Auler recorreu e diz que a decisão atenta contra a liberdade de imprensa.

As sentenças do juiz Nei Roberto Guimarães, 8º Juizado, e da juíza Vanessa Bassini, do 12º Juizado, atendem processo movido pelos delegados da Polícia Federal Erika Marena e Mauricio Moscardi Grillo, integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

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Em notas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) criticam a censura que atinge um direito constitucional dos brasileiros de terem acesso à livre informação.

A delegada Erika Marena foi a candidata mais votada para integrar a lista tríplice montada pela Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) para a indicação do próximo delegado-geral da PF, segundo reportagem do blog “Delações Não Premiadas” publicada na Gazeta do Povo. A delegada paranaense, de acordo com o blog, encabeça a lista com 1.065 votos.

Marena e Moscardi Grillo são citados nas reportagens de Auler. Com 42 anos de carreira, o jornalista tem passagens por alguns dos principais veículos de comunicação do país – como O Globo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo – e foi ganhador do prêmio Esso de Jornalismo em 1993 com uma reportagem publicada na revista Veja.

Em um dos textos tirados do ar por ordem da Justiça, Auler afirma que a delegada Erika Marena fez vazamentos seletivos de delações premiadas da Lava Jato.

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Ao jornal Folha de S. Paulo, o jornalista disse defender o direito democrático de pessoas que se sentirem atingidas pela imprensa de recorrer à Justiça, mas fez críticas à decisão judicial. “O absurdo é o juiz censurar, mais ainda sem pedir antes que se apresente provas. O absurdo é a censura, ela não pode existir”, disse Auler. A reportagem tentou repercutir a crítica com os dois magistrados, mas não houve resposta da assessoria do Tribunal de Justiça do Paraná.

A advogada que representa os dois delegados da PF, Márcia Marena, afirmou à Folha que “em nenhum momento foi determinado pelo Judiciário que se retirassem reportagens sobre a Lava Jato, mas sim que se retirasse conteúdo considerado ofensivo”.

Em nota, a defesa dos delegados afirma que os delegados “respeitam e admiram o jornalismo investigativo, sério e baseado em fatos, independentemente se positivos ou negativos à Operação Lava Jato”. Acrescenta, porém, que Auler, ” passou a, reiteradamente, acusá-los de crimes, sem que tenham, em momento algum de sua trajetória profissional, respondido procedimento disciplinar ou criminal”.

Erika Marena e Mauricio Moscardi Grillo não fizeram comentários públicos sobre a decisão judicial e as críticas do jornalista e de entidades de defesa da liberdade de imprensa.