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Bolhas bolsonaristas e lulistas
| Foto: Reprodução de imagem do Youtube com aplicação de efeito gráfico

"No meu entender, se depender do Fachin, ou do voto do Fachin, para ser educado aqui... Ele (Lula) será presidente da República", disse o presidente Jair Bolsonaro no último dia 11 de abril, se referindo ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin. A afirmação foi feita ao podcast Irmãos Dias.

"Se a gente pegasse e mapeasse o endereço de cada deputado e fosse 50 pessoas na cada do deputado, não para xingar, para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho, incomodar a tranquilidade dele, eu acho que surte muito mais efeito do que a gente vir fazer a manifestação em Brasília", sugeriu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo, em 4 de abril passado.

As duas declarações mostram uma prática comum de Lula e Bolsonaro nesses dias que antecedem a campanha oficial para as eleições de outubro próximo: o discurso dirigido a “bolhas” de militantes. A estratégia é mobilizar grupos de simpatizantes mais próximos para multiplicar suas mensagens nas redes sociais e outros canais da internet.

Ao insistir em criticar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE, Bolsonaro busca manter cheia a “bolha de militantes” que quer mudança, a qualquer preço, na Suprema Corte do país. É nesse contexto das bolhas que surgem outras declarações polêmicas do presidente, como a defesa da criminalização do comunismo, comparando-o ao nazismo.

Em alguns casos, os discursos dirigidos especificamente a grupos de militantes acabam causando estrago - tem efeito de tiro no próprio pé. Um exemplo ocorreu no dia 5 de abril, quando Lula declarou, em evento na Fundação Perseu, que o aborto “deveria ser transformado em uma questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não vergonha”.

A fala provocou forte reação em parcelas conservadoras da população a tal ponto que o ex-presidente procurou deixar claro, dois dias depois, que é contra o aborto. “A única coisa que eu deixei de falar, na fala que eu disse, é que eu sou contra o aborto. Eu tenho cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Eu sou contra o aborto. O que eu disse é que é preciso transformar essa questão do aborto numa questão de saúde pública”, retificou Lula em entrevista à BandNews de Fortaleza, no Ceará.

No caso de Bolsonaro, os discursos para “bolhas”, além de terem o poder de mobilizar uma multidão de seguidores fanatizados, tem também o objetivo de desviar as atenções dos  graves problemas do país. Inflação recorde, preços dos alimentos e dos combustíveis, alta dos juros e crescimento pífio da economia são temas que não podem aparecer na campanha à reeleição.

Do lado de Lula, muitos petistas começam a acender o alerta de que, ao se fechar nas “bolhas petistas”, o ex-presidente está se distanciando de setores da população que serão decisivos na eleição e que, no momento, ainda não decidiram em quem votar.

Nos últimos dias, alguns aliados chegaram a lembrar o episódio com o rapper Mano Brown, na campanha de Fernando Haddad à presidência, em 2018. Durante a disputa do segundo-turno, em evento no Rio de Janeiro com vários artistas, Mano Brown fez um alerta que retrata o sentido de bolha. Alerta esse que pode servir para a disputa agora de 2022:  “Falar bem do PT para torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que precisa ser conquistada ou vamos cair no precipício", disse em alto e bom som Mano Brown.

Fora das “bolhas” bolsonaristas e lulistas, o que grande parte da população espera são ações objetivas, não discursos para convertidos. Do lado de Bolsonaro, espera-se medidas do atual governo para resolver os problemas urgentes do país. De Lula, a expectativa é saber qual seu plano de governo para fazer o Brasil reentrar nos trilhos do crescimento sustentável e duradouro.

Os discursos para “bolhas” empobrecem a campanha eleitoral, tiram o foco dos principais problemas e afastam a maioria da população do debate sobre os rumos do país.

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