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Distribuição de vacinas
| Foto: Divulgação

O comissário do Mercado Interno Europeu, Thierry Breton, disse neste domingo (09) que a União Europeia ainda não fez novos pedidos de vacinas Oxford/AstraZeneca para depois junho, quando o contrato atual termina. A revelação veio depois de a Comissão Europeia ter anunciado, na sexta-feira (07), que o bloco comprou 1,8 bilhão de doses do imunizante da Pifizer/BioNTech.

Mas não é só a União Europeia que tem opção de escolher vacina. Na maioria dos países ricos, imunizantes produzidos na China e na Rússia ainda não conseguiram entrar. Os EUA decidiram enviar para outros países seu estoque do imunizante Oxford/AstraZeneca, de 60 milhões de doses. A Dinamarca, depois de descontinuar o uso da AstraZeneca, anunciou também que não fará uso da fórmula da Janssen – empresa do conglomerado Johnson & Johnson – optando pela Moderna e Pfizer.

As posturas de muitos países desenvolvidos retratam uma dura realidade na distribuição de vacinas contra Covid-19 no mundo: enquanto países pobres e de renda média lutam desesperadamente para ter imunizantes, seja qual for a marca, nações ricas têm o privilégio até de escolher o que aplicar.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse no dia em que se comemorou o primeiro aniversário do programa Covax, das Nações Unidas, no mês passado, que quase 1 bilhão de doses de vacinas haviam sido distribuídas globalmente, mas que “81% foram para países de rendimentos médios/altos a altos, enquanto os países de baixos rendimentos receberam apenas 0,3%".

Vacinação contra Covid-19 concentra na América do Norte e na União Europeia.
Vacinação contra Covid-19 concentra na América do Norte e na União Europeia.

No último dia 2 de maio, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que é um “ultraje moral” a incapacidade de se assegurar igualdade no processo de vacinação no mundo. Guterres citou que “10 países administraram 75% de todas as vacinas da covid-19, enquanto que 130 países ainda não receberam uma única dose.”

A diferença na oferta de vacinas pode ser verificada nas decisões de vários países que deixaram de recomendar a aplicação da vacina da AstraZeneca em pessoas não idosas. O Reino Unido, por exemplo, anunciou que a maioria dos adultos com menos de 40 anos receberá uma alternativa à AstraZeneca. A Bélgica interrompeu o uso para pessoas de 18 a 55 anos, mas depois baixou para 40 anos. O comitê alemão recomendou que pessoas com menos de 60 anos que receberam uma injeção de AstraZeneca deveriam receber uma segunda dose de outra vacina, mas na semana passada reabriu o uso para todas as pessoas maiores de idade.

Houve limitação de idade também no Canadá, França, Finlândia, Holanda, Suécia, Portugal e Austrália, entre outros países. Em todos esses países – de economia desenvolvida –, a preferência para uso destinado ao público não idoso é pelo imunizante da Pfizer e da Moderna.

O mesmo acontece com a vacina da Janssen, a qual tem sofrido limitação em alguns países, como a Itália, por exemplo, que chegou a restringir o uso somente para idosos maiores de 60 anos de idade. Portugal recomenda a administração do imunizante da Janssen para as pessoas com mais de 50 anos, mas diz que as pessoas com menos idade podem decidir se querem tomar ou não.

Vacinas da Moderna e da Pfizer tornara=se preferidas de países ricos.
Vacinas da Moderna e da Pfizer tornara=se preferidas de países ricos.| Divulgação

Em 13 de abril, a Food and Drug Administration (FDA), autoridade sanitária dos EUA, decidiu

suspender a aplicação da vacina da farmacêutica que pertence à Johnson & Johnson. O motivo foi uma reação adversa rara em que a pessoa desenvolve coágulos de sangue. Dez dias depois, a FDA retirou a suspensão temporária e a vacina voltou a ser aplicada.

A sinalização de que a União Europeia deixou em segundo plano a vacina da Oxford/Astrazeneca e as restrições impostas por países trouxeram questionamentos. Recentemente, a agência reguladora de medicamentos da Europa (EMA) informou que estava revisando relatórios de efeitos adversos raros ocorridos com pessoas que receberam a vacina da AstraZeneca. A vacina foi associada a coágulos sanguíneos raros que também aparecem com níveis baixos no sangue, mas não há comprovação de que o imunizante tenha sido a causa desses eventos.

O representante Mercado Interno Europeu enfatizou que o imunizante da AstraZeneca é uma “vacina muito boa”. A EMA também afirma que os benefícios da vacina superam os riscos, assim como autoridades sanitárias em todo o mundo recomendam a continuidade do uso do imunizante.

A vacina Oxford/AstraZeneca foi fundamental para a campanha de imunização da Europa e um pilar na estratégia global para levar vacinas para países mais pobres, uma vez que é mais barata e mais fácil de usar do que a vacina Pfizer.  A Inglaterra, por exemplo, fez do imunizante da AstraZeneca a peça central de sua campanha de vacinação bem-sucedida.

O principal motivo da troca da preferência da União Europeia pela Pfizer seria os atrasos da AstraZeneca na entrega de lotes contratados. No último dia 26 de abril, a Comissão Europeia entrou com uma ação judicial contra a AstraZeneca por não ter respeitado o contrato de fornecimento de vacinas contra a Covid-19 e por não ter um plano confiável para garantir as entregas a tempo.

Breton garantiu que o bloco não está fechando as portas para a empresa britânico-sueca. Apesar dessa abertura, a realidade é que a União Europeia vai gastar mais para ter garantia de entrega da vacina BioNTech/Pfizer. "Pode haver um pequeno custo extra, mas vou deixar as autoridades competentes revelarem isso no momento oportuno", disse. Segundo o comissário, o aumento nos custos das vacinas de segunda geração foi devido à pesquisa extra necessária e possíveis mudanças nos equipamentos industriais.

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