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Chegada de lote da Coronavac em São Paulo, vacina que poderá começar a ser aplicada ainda em janeiro.
Chegada de lote da Coronavac em São Paulo, vacina que poderá começar a ser aplicada ainda em janeiro.| Foto: Divulgação/Governo de SP

Mais de 40 países que deram início à aplicação de vacinas contra covid-19 apostam na imunização em massa para livrar a população do vírus e, como isso, impulsionar o aquecimento das atividades econômicas. Do outro lado estão países com dificuldades para efetivar um plano de vacinação, os quais deverão ficar para trás no controle da pandemia e, consequentemente, em desvantagem na recuperação econômica, segundo avaliação de diversas instituições e economistas. O Brasil faz parte desse segundo grupo.

No primeiro dia de 2021, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou relatório em que aponta perspectivas mais otimistas para o PIB mundial em diversos países. “Pela primeira vez desde o início da pandemia, agora há esperança de um futuro melhor”, afirmou Laurence Boone, economista-chefe da OCDE, ao se referir às vacinas. Mas, segundo a organização, a recuperação será desigual entre os países.

Para a OCDE, países com uma política de vacinação implantada de forma rápida, além de sistemas eficazes de testagem e isolamento, terão desempenho superior a outros. “A recuperação seria mais forte se as vacinas fossem lançadas rapidamente, aumentando a confiança e reduzindo a incerteza”, ressalta a organização.

Dois dias depois da manifestação da OCDE, um relatório do Credit Suisse veio a público. O documento apresenta uma série de preocupações em relação ao Brasil. Na avaliação da instituição financeira, o cenário de evolução no contágio e do número de mortes por covid-19 aumenta os riscos para a economia brasileira nos próximos meses.

Economia brasileira - vacina
Laurence Boone, economista-chefe da OCDE, assina relatório em que prevê recuperação desigual da economia mundial.| Divulgação/OCDE

"Restrições de mobilidade prolongada tenderão a pressionar o governo federal e o Congresso a ampliar gastos fiscais de forma a minimizar os efeitos sobre a arrecadação tributária estadual e municipal e sobre o emprego e a renda", afirma documento assinado pela economista-chefe do banco, Solange Srour, e pelo economista Lucas Vilela. O conteúdo do relatório com projeções para a economia brasileira foi divulgado pela CNN, que teve acesso ao documento.

Assim como outras instituições, o Credit Suisse avalia que a vacinação rápida é a forma mais eficaz da economia brasileira sair rapidamente do atoleiro. Mas isso não deve acontecer. O banco prevê que o país só terá 70% de sua população imunizada — o que caracterizaria a chamada imunização de rebanho — apenas no quarto trimestre, ou seja, no fim do ano.  A estimativa considera acesso às vacinas AstraZeneca, Coronavac e Pfizer.

O Brasil será beneficiado com o aumento do consumo de produtos brasileiros no exterior, mas, sem controlar o vírus, não aproveitará plenamente as oportunidades que serão criadas com a recuperação econômica dos países ricos e, principalmente, da China. A previsão é que a economia chinesa deverá crescer em torno de 8% em 2021.

“A China, que começou a se recuperar mais cedo, deve crescer fortemente, respondendo por mais de um terço do crescimento econômico mundial em 2021″, afirma Boone, da OCDE. Ela destaca a importância de convênios para se produzir e o empenho dos governos para obter vacinas. “A produção e distribuição ampla, rápida e generosa de tratamentos médicos e vacinas eficazes deve ser organizada para todos os países”, diz.

A recuperação também deverá ser forte com o avanço da imunização nos EUA. Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008, prevê que a economia dos EUA desfrutará de uma recuperação forte e sustentada à medida que a vacinação for sendo ampliada e a ameaça de pandemia diminuir. Em artigo publicado no jornal The New York Times na virada do ano, Krugman escreveu que, assim que as vacinas forem lançadas em todo o país, uma combinação de demanda reprimida, aumento da economia doméstica, avanços tecnológicos e o apoio do governo de Joe Biden sustentará um boom de empregos.

"O investimento na vacina agora é mais barato do que prolongar transferências diretas."

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.

Há consenso sobre a importância de vacinar rapidamente a população para criar as condições de retomada da produção e da economia brasileira. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou recentemente que vacinar a população sairia mais barato do que prorrogar os programas emergenciais do governo.

"Eu acho que o investimento na vacina agora é mais barato do que prolongar transferências diretas", disse Campos Neto em evento GZERO Latam Forum 2020, promovido pela B3 e pela Eurasia. O problema é que não há, ainda, registro de alguma vacina no Brasil nem um cronograma com previsão real de número de vacinados em decorrência das trapalhadas do governo e da dificuldade do país em ter acesso aos imunizantes.

“A vacina é a única forma efetiva de resolver o problema. Só assim você consegue retomar a economia de forma contínua e não fica nesse abre e fecha das atividades, nessa incerteza, como estamos vivendo novamente com o aumento de casos”, avalia Joelson Sampaio, coordenador do curso de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, em reportagem do jornal El País. Para Sampaio, não há dúvida: os países que já conseguiram sair na frente na imunização da população serão os primeiros a sentirem os impactos na retomada da economia.

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