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Fake News
| Foto: Reprodução/Uemasul

A popularização da internet permitiu maior acesso a informações e deu voz às pessoas – um avanço sem comparação na história da comunicação –, mas também trouxe problemas. Um deles é a chamada ‘indústria de fake news’. São inúmeros os levantamentos e relatórios nas mãos da Polícia Federal, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que comprovam ganhos milionários no Brasil obtidos por grupos e ativistas que atuam para espalhar a desinformação.

Os produtores e disseminadores de notícias falsas se multiplicam sustentados por pagamentos feitos por plataformas digitais que remuneram seus ‘influencers’ com base em audiência. Também tiveram, em muitos casos já comprovados, ajuda de autoridades do governo federal, de muitos estados e municípios, que permitem a esses agentes de desinformação facilidades e acesso exclusivo a dados e ações governamentais.

Um dos últimos levantamentos sobre a ‘indústria milionária de fake news’ foi feito pelo jornal O Globo em conjunto com as empresas Novelo Data e Bites, especializadas em análise de dados digitais. Os números publicados no domingo (29) mostram que vários canais identificados como propagadores de teses conspiratórias sobre o processo eleitoral brasileiro faturaram até R$ 1 milhão com a reprodução de 1.960 vídeos no YouTube, que renderam 57,9 milhões de visualizações.

O cálculo tem como base o valor estimado que o YouTube remunera seus usuários. Apesar de a plataforma não divulgar dados sobre monetização, empresas de análise de redes sociais estimam entre US$ 0,25 e US$ 4 para cada mil visualizações.

A constatação de que um grande número de ativistas ganha cifras milionárias com a disseminação de notícias falsas não é de agora. Em dezembro de 2020, levantamento do jornal O Estado de S. Paulo (Estadão) revelou um negócio altamente lucrativo envolvendo protestos contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. De acordo com informações fornecidas no inquérito dos atos antidemocráticos, blogueiros com privilégio de acesso a informações do governo federal chegavam a faturar mais de R$ 100 mil por mês.

Relatório da Polícia Federal, de julho de 2020, concluiu que "a propaganda de conteúdo extremista no campo digital culmina, de fato, em ações subsequentes: as manifestações reais contra o Estado Democrático de Direito, criando um ciclo que se realimenta, com a difusão das manifestações pelos canais de internet dos produtores, que, por sua vez, são alardeados e replicados em perfis pessoais de redes sociais de agentes do Estado, gerando mais visualizações (difusores)".

| Wikimedia Commons

Um trabalho da jornalista Tatiana Dias, publicado no site The Intercept Brasil em 8 de junho de 2021, fornece cifras pagas pelo Youtube a 12 canais investigados por envolvimento nos protestos contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. De acordo com a reportagem, com base dados do Google, foram R$ 6,87 milhões repassados a esses canais entre 2018 e 2020.

Em setembro de 2021 vieram a público outros dados que expõem as cifras da ‘indústria de fake news’. Relatório de investigações entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que apenas onze canais investigados sobre produção e disseminação de desinformação receberam mais de R$ 10 milhões do YouTube no período de janeiro de 2019 a agosto de 2021. O valor não inclui pagamentos feitos por outras redes sociais, como Facebook, Instagram e Tik Tok.

Ainda em 2021, o Google repassou à CPI da Covid uma lista de vídeos apagados do Youtube que continham informações falsas sobre a pandemia de coronavírus. Segundo reportagem da Agência O Globo, o Google forneceu dados de 34 canais identificados como disseminadores de notícias falsas no Brasil. Dos 385 vídeos removidos pelo YouTube ou deletados pelos próprios usuários, apenas 90 publicações não geraram renda aos administradores. No total, os usuários ganharam R$ 230 mil com a disseminação de informações não comprovadas cientificamente sobre Covid-19.

O foco sobre as fake news tem como alvo casos envolvendo ataques aos poderes e, mais especificamente, à pandemia de Covid-19. O problema, no entanto, é muito mais amplo. Há produtores e espalhadores de informações falsas relacionadas a diversos temas que afetam toda a população. São receitas de medicamentos mágicos e tratamentos de saúde sem eficácia comprovada, fórmulas de ganhar dinheiro fácil e por aí vai.

O desafio atual é como assegurar o direito de acesso a informações seguras, sem ferir a liberdade de expressão, um direito fundamental. As fake news, além de causarem danos individuais e coletivos, de atacarem a dignidade da pessoa humana, de levarem as pessoas a tomar decisões equivocadas, com base em dados falsos e colocar em risco a própria vida e a vida de terceiros, servem de manipulação e corroem os pilares da democracia.

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