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Inflação e ameaça de recessão mergulham economia global em incertezas
| Foto: Reprodução/University of Pennsylvania

Com a paralisação e o baixo crescimento que atingem os principais motores da economia mundial – Estados Unidos, China e grandes países europeus –, ameaça de falta de alimentos e explosão dos preços do petróleo, o mundo corre risco de uma recessão global antes mesmo de ter saído completamente da crise provocada pela pandemia de Covid-19. As principais instituições internacionais de análise do comportamento econômico preveem incertezas e dificuldades no restante de 2022 e, pelo menos, durante o primeiro semestre de 2023.

Em sua última previsão, divulgada em 26 de julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) constatou que as perspectivas pioraram rapidamente a partir de abril. No novo estudo, o Fundo reduziu a estimativa de crescimento da economia global para 3,2% neste ano e 2,9% no próximo ano, um recuo de 0,4 e 0,7 ponto percentual em relação às previsões de abril.

Inflação e recessão - mundo

Antes do FMI, no início de junho, o Banco Mundial já previa uma queda na economia neste ano. De acordo com as projeções do banco, o crescimento global em 2022 não passará de 2,9%, muito abaixo dos 4,1% previstos em janeiro. E para 2023 o cenário deve se repetir.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne grande parte das principais economias do mundo, vai na mesma linha de análise. “O crescimento do PIB global deverá agora desacelerar acentuadamente este ano, para cerca de 3%, e permanecer em um ritmo semelhante em 2023. Isso está bem abaixo do ritmo de recuperação projetado em dezembro passado”, publicou a organização em seu boletim econômico de junho.

As causas da desaceleração após a recuperação de 2021 são muitas e não se resumem à guerra envolvendo Rússia e Ucrânia, apesar de o conflito bélico ser apontado como um dos principais fatores que impediram o mundo de ter superado definitivamente a crise da Covid-19. Interrupções na cadeia de suprimentos, descompasso entre demanda e oferta de produtos, elevação dos preços das commodities e estímulos fiscais e monetários feitos durante a pandemia estão entre outros fatores, na avaliação de grande parte dos economistas e instituições. Há ainda o problema do aumento das desigualdades sociais e maior concentração de renda após a pandemia, com elevação do contingente de pessoas em situação de miséria.

A paralisação mundial se intensificou em decorrência da estagnação nas três maiores economias do mundo — Estados Unidos, China e países da zona do euro.

O FMI aponta em seu relatório uma série de riscos que surgem no cenário atual:

O FMI avalia que, nos EUA, a redução do poder de compra das famílias e a política monetária mais apertada levarão o crescimento para 2,3% neste ano e 1% no próximo. Na China, a desaceleração foi pior do que o previsto em meio a surtos e bloqueios de Covid-19. Na Europa, o crescimento foi revisado para 2,6% neste ano e 1,2% em 2023.

  • A guerra na Ucrânia pode resultar no corte repentino do fluxo de gás da Rússia para a Europa;
  • A inflação pode se manter persistentemente alta;
  • Condições financeiras mundiais ainda mais restritivas podem deflagar uma onda de superendividamento nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento;
  • Novos surtos de Covid-19 e lockdowns podem reprimir ainda mais o crescimento da China;
  • A alta dos preços dos alimentos e da energia pode causar insegurança alimentar e agitação social generalizadas;
  • A fragmentação geopolítica pode impedir o comércio e a cooperação em escala mundial.

A previsões do Fundo é que a inflação global de 2022 chegue a 6,6% nas economias avançadas e 9,5% nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento – o que representa uma revisão para cima de 0,9 e 0,8 pontos percentuais, respectivamente.

O relatório do Banco Mundial, por sua vez, faz uma comparação das condições econômicas globais atuais com a estagflação da década de 1970. “A conjuntura atual se assemelha à década de 1970 em três aspectos principais: distúrbios persistentes do lado da oferta alimentando a inflação, precedidos por um período prolongado de política monetária altamente acomodatícia nas principais economias avançadas; perspectivas de enfraquecimento do crescimento; e vulnerabilidades que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento enfrentam em relação ao aperto da política monetária que será necessário para conter a inflação”, compara.

Apesar das semelhanças em vários pontos, o Banco Mundial constata que a crise atual também difere da década de 1970 em múltiplas dimensões. “O dólar está forte, um forte contraste com sua forte fraqueza na década de 1970; os aumentos percentuais nos preços das commodities são menores; e os balanços das principais instituições financeiras são geralmente fortes. Mais importante, ao contrário da década de 1970, os bancos centrais das economias avançadas e muitas economias em desenvolvimento agora têm mandatos claros para a estabilidade de preços e, nas últimas três décadas, estabeleceram um histórico confiável de cumprimento de suas metas de inflação”, descreve.

Ao mesmo tempo que as previsões do Banco para as economias avançadas são de desaceleração acentuada, com crescimento de apenas 2,6% em 2022 – 1,2 ponto percentual abaixo das projeções em janeiro –, para os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento a previsão de crescimento fica em 3,4%.

Para a América Latina, a previsão de recuperação da economia feita pelo Banco Mundial é pior que da média dos países em desenvolvimento: 2,5% em 2022 e apenas 1,9% em 2023. Esse cenário coloca grandes desafios aos governos que acabaram de assumir, como no Chile e na Colômbia, e de futuros governos, como do Brasil, que elege novo presidente em outubro. Os números são próximos aos do FMI: 3% de crescimento médio para a América Latina em 2022 e 2%, em 2023.

Nas contas do Banco Mundial, a situação do Brasil para 2023 é negativa. No próximo ano, segundo a estimativa da instituição, a economia brasileira só deve crescer mais que a do Haiti (-0,4%) e do Paraguai (0,7%), entre os países da América Latina e Caribe. A estimativa é que o PIB do Brasil cresça 1,5% em 2022 e apenas 0,8% no ano que vem. O FMI também coloca perspectiva ruim para o Brasil, com 1,7% em 2022, e pífio 1,1% em 2023.

Na América do Sul, a economia da Venezuela é uma das poucas apontadas com previsão de crescimento bem acima da média da região, mas o país socialista está afundado em uma das maiores inflações do mundo – disparadamente a maior entre sul-americanos, juntamente com a Argentina.

Em abril deste ano, o Credit Suisse estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela deve crescer 20% este ano, impactado pela combinação de aumento do preço internacional do petróleo e da produção nacional de óleo. O Observatório Venezuelano de Finanças (OVF) é mais cauteloso e prevê expansão em torno de 12%. De acordo com a instituição, a atividade econômica na Venezuela cresceu 12,3% no primeiro semestre.

Embora o governo venezuelano tente tirar proveito do momento, anunciando que Venezuela terá o maior crescimento do mundo em 2022, a realidade é que essa recuperação significa muito pouco para repor as perdas seguidas durante os últimos sete anos. O tamanho da economia da Venezuela hoje, segundo o OVF, representa pouco mais de 21% do registrado em 2012.

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