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Fotos: Ministério Público Federal, Polícia Federal, Justiça Federal, Marangoni Leilões, Nogari Leilões e Rio Leilões.
Fotos: Ministério Público Federal, Polícia Federal, Justiça Federal, Marangoni Leilões, Nogari Leilões e Rio Leilões.| Foto:

Em pouco mais de cinco anos desde que a operação veio à tona, a Lava Jato já condenou mais de 150 pessoas em julgamentos da Justiça Federal em Curitiba e outras 40 no Rio de Janeiro. Só no braço das investigações no Paraná o valor total de ressarcimento pedido passa de R$ 40 bilhões, incluindo multas. No Rio chega a R$ 4,95 bilhões. Boa parte do dinheiro desviado que se pretende recuperar é referente a bens de pessoas acusadas e condenadas, muitas delas líderes políticos e operadores do esquema de corrupção.

Pelos últimos dados da Justiça Federal do Paraná, R$ 3,2 bilhões de bens dos réus já foram bloqueados. No Rio, o valor dos bens de pessoas envolvidas com o esquema que tem como principal acusado o ex-governador Sérgio Cabral – e que são alvo de recuperação – passa de R$ 2 bilhões. Muitas dessas propriedades adquiridas com dinheiro ilícito já foram a leilão e outras estão prestes a ser leiloadas. São bens variados, de imóveis a carros e iates de luxo até jatinhos e joias que estavam em poder dos criminosos.

Três leiloeiros foram responsáveis até agora pela maior parte dos leilões de bens de réus da Lava Jato. No Rio de Janeiro, Renato Guedes foi nomeado pelo juiz federal Marcelo Bretas – que no início deste mês revelou que a Lava Jato no Rio tem R$ 2 bilhões em dinheiro recuperado da corrupção. Guedes realizou leilões de todos os bens de réus do caso envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral, incluindo uma mansão arrematada por R$ 14,4 milhões.

Em Curitiba, os leiloeiros Luciano Marangoni, da Marangoni Leilões, e Jorge Nogari, da Nogari Leilões, estão à frente dos lances. Nogari atuou na última quinta-feira (25) no leilão de apartamentos do Edifício Hotel Villa Lobos (São Paulo), confiscados da doleira Nelma Kodama. Marangoni foi responsável pela venda do tríplex do Guarujá, atribuído a Lula.

“Fizemos leilões de bens do Yousseff, do José Dirceu e de outros condenados. Tem outros bens que em breve deverão ir a leilão, mas as informações estão sob sigilo de Justiça. Dentro de três ou quatro meses devem ser divulgados esses bens”, adianta Marangoni.

O leiloeiro de Curitiba diz que o interesse pelos bens oriundos da Lava Jato é muito grande:

“Esses bens têm liquidez muito rápida e a divulgação na imprensa contribui para isso. Um exemplo é o tríplex relacionado ao ex-presidente Lula, que foi vendido no primeiro leilão. Isso é incomum. Normalmente são realizados dois três leilões para vender um bem de alto valor agregado.”

Jorge Nogari destaca vantagens para quem arremata bens em leilões da Lava Jato. “Esses bens são entregues livres e desembaraçados de quaisquer débitos e ônus. Por ser da Lava Jato, são favoritos. Os arrematantes preferem esses bens porque têm a segurança de que os mesmos serão entregues na condição de aquisição originária”, acrescenta.

A segurança também é destacada por Marangoni. “Hoje, a compra em leilão judicial pode ser considerada a mais segura do Brasil. Isso porque você tem a garantia da Justiça de que vai receber o bem ou seu dinheiro será ressarcido. A possibilidade de perda é nula.”

Patrimônio da corrupção

Confira alguns dos bens que pertenciam a réus da Lava Jato colocados em leilão:

Jatinho do ‘Rei Arthur’

A aeronave Phenom 100, modelo EMB-500, de propriedade do empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, teve preço inicial de R$ 6,4 milhões. O avião foi arrematado em leilão no dia 16 de outubro de 2018, como parte de um lote de R$ 11 milhões, o qual incluía imóveis. O empresário foi denunciado no esquema do ex-governador Sérgio Cabral.

Hotel de Youssef

Em novembro de 2017, 73 apartamentos do Hotel San Diego Express, localizado na cidade de Aparecida (SP), a cerca de 170 quilômetros da capital paulista, foram leiloados por R$ 8,4 milhões. Os imóveis eram do doleiro Alberto Youssef, personagem que desencadeou a Lava Jato em Curitiba.

Lancha de Cabral

Depois de duas tentativas sem sucesso de leiloar a lancha do ex-governador Sérgio Cabral, a Justiça determinou que a embarcação seja reavaliada. Em outubro do ano passado ocorreu o primeiro leilão, quando o lance mínimo era de R$ 4 milhões. Uma semana depois, houve uma segunda tentativa, com um desconto de R$ 800 mil. No entanto, ninguém fez oferta. A embarcação, modelo Ferreti 80 Luxury Yachts, tem suíte, bar lounge, salas e bote com motor.

Iate de Eike Batista

O iate Pershing SPA, que pertencia ao empresário Eike Batista, foi vendido por R$ 14,4 milhões em dezembro último. A embarcação estava avaliada em R$ 18 milhões. O iate tem 4 quartos (duas suítes), sauna, closet, três cabines, cozinha e espaço para guardar dois jet skis. A capacidade é de 21 passageiros.

Mansão de Cabral

Uma mansão do ex-governador Sérgio Cabral, localizada em Mangaratiba (RJ), foi arrematada por R$ 6,4 milhões em setembro do ano passado. “A casa dos sonhos” foi cenário para festas da elite política e empresarial do Rio, na paradisíaca Praia São Braz. Tem 462 metros quadrados, onde estão distribuídas cinco suítes, sauna e churrasqueira, além de dois quartos de empregados. No quintal, há sala de ginástica, sauna com paredes de vidro, churrasqueira e duas piscinas.

Porsche da doleira

O Porsche Cayman que pertenceu à doleira Nelma Kodama, conhecida por cantar “Amada Amante”, de Roberto Carlos, durante depoimento à Lava Jato, foi um dos primeiros bens leiloados. O carro foi vendido em março de 2015 por R$ 206 mil, em Curitiba.

Tríplex do Guarujá

O apartamento tríplex atribuído ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Condomínio Solaris, no Guarujá, foi arrematado em 15 de maio do ano passado por R$ 2,2 milhões. Além dos R$ 2,2 milhões, ele teve de arcar com a comissão do leiloeiro, de R$ 110 mil, e mais R$ 47.204,28 de débitos condominiais. Os valores do imóvel foram revertidos para a Petrobras.

Lancha de Paulo Roberto

Em outubro de 2015 ocorreu o leilão de uma lancha adquirida pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa com recursos ilícitos. A embarcação, chamada Costazul I, teve avaliação de R$ 1,7 milhão e foi arrematada R$ 1,44 milhão.

Hotel de Nelma Kodama

Na quinta-feira (25) foi realizada mais uma rodada de leilão de apartamentos do Edifício Hotel Villa Lobos no Jaguaré que pertenciam a Nelma Kodama. As 37 unidades foram colocadas em leilão a R$ 114 mil cada uma.

Bens valiosos

O último leilão anunciado ocorreu na quinta-feira (25), quando foram colocados para arremate 37 apartamentos retidos pela Lava Jato do Paraná. Os imóveis estavam em nome da doleira Nelma Kodama, presa em março de 2014. Nelma chamou atenção na época ao cantar a canção ‘Amada Amante’, de Roberto Carlos, durante um interrogatório do juiz Sérgio Moro. Foi dessa forma que ela se referiu ao relacionamento que mantinha com o doleiro Alberto Youssef, personagem de Londrina que desencadeou a Lava Jato. Condenada a dezoito anos de prisão, a doleira está em prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica.

Os apartamentos são do Edifício Hotel Villa Lobos, no Jaguaré, na cidade de São Paulo. Esta foi a segunda vez que esses imóveis foram a leilão. Na primeira, o lance inicial era de R$ 190 mil por unidade. Na quinta-feira ficaram disponíveis por R$ 114 mil, com 50% entrada e saldo em até 12 vezes. No total, o lote teve avaliação de R$ 7,03 milhões.

Apesar da falta de balanço do que foi leiloado até na última semana, vários lotes anunciados movimentaram valores milionários. Em outubro do ano passado, apenas um leilão realizado sede da Justiça Federal do Rio de Janeiro arrecadou mais de R$ 11 milhões relacionados a bens apreendidos durante as investigações do esquema de desvios envolvendo Sérgio Cabral. O leilão foi determinado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

No lote estavam dois apartamentos da advogada Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, localizados no bairro nobre de Ipanema, zona sul do Rio, arrematados pelo valor de R$ 5,04 milhões. Os apartamentos, com 80 metros quadrados, vaga de garagem e vista para o mar foram adquiridos em lance único. Também foi leiloado um jatinho, modelo Phenom 100, ano 2009, e um carro Hyundai, modelo Tucson, ano 2018, no total de R$ 6,57 milhões. A aeronave e o carro pertenciam ao empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, acusado de fazer parte do grupo criminoso de Cabral.

Das investigações no Paraná, um dos bens de alto valor leiloados foi o apartamento tríplex atribuído ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A unidade do Condomínio Solaris, no Guarujá, foi arrematada em 15 de maio do ano passado por R$ 2,2 milhões. O tríplex do Guarujá levou à condenação de Lula pelo ex-juiz Sergio Moro – hoje ministro da Justiça no governo do presidente Já\ir Bolsonaro – a nove anos e meio de prisão. Em segunda instância, a 8ª turma do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, ampliou a pena para 12 anos e 1 mês. Finalmente, na última terça-feira (23), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reduziu o período de prisão do ex-presidente para 8 anos, 10 meses e 20 dias.

Um dos primeiros condenados no Paraná que tiveram bens leiloados foi o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Em outubro de 2016 foi leiloada uma lancha adquirida por ele com recursos ilícitos. A embarcação, chamada Costazul I, teve avaliação de R$ 1,7 milhão e foi arrematada R$ 1,44 milhão. Costa foi o primeiro investigado pela Lava Jato que fechou acordo de delação premiada. Preso em 2014, o ex-diretor chegou a ser condenado por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, mas atualmente cumpre pena em regime aberto, no Rio de Janeiro.

Outro lote de alto valor reuniu 73 apartamentos do Hotel San Diego Express, na cidade de Aparecida (SP), em novembro de 2017. Os imóveis estavam em nome do doleiro Alberto Youssef, personagem de Londrina (PR) que desencadeou a Lava Jato. Os apartamentos foram comprados por R$ 8,4 milhões.

Youssef foi preso em 2014 e condenado a 122 anos de prisão, mas teve a pena reduzida a três anos em razão da colaboração com a Justiça em sua delação premiada, considerada uma das mais importantes. O doleiro também devolveu aos cofres públicos R$ 50 milhões e hoje está fora da cadeia.

Personagem emblemático da Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu já viu alguns de seus bens irem embora. Em junho do ano passado, Moro determinou o leilão de três imóveis Dirceu. Juntos, os imóveis foram avaliados pela Justiça Federal em mais de R$ 8,5 milhões. Dos três imóveis, somente uma casa localizada no bairro da Saúde, em São Paulo, foi arrematada por R$ 465 mil. As outras duas propriedades são um imóvel comercial em Moema, na zona sul da capital paulista e uma chácara na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo.

Mansão de Cabral e iate de Eike são símbolos de luxo

Apesar das ações da Lava Jato em Curitiba terem maior repercussão desde o início dos escândalos, é no Rio de Janeiro que a operação recuperou bens que mais chamaram a atenção, tanto pelo seu valor como pelo luxo e até esbanjamento do dinheiro da corrupção. Os bens foram colocados em leilão pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.

Em setembro do ano passado, uma mansão do ex-governador Sérgio Cabral, localizada em Mangaratiba (RJ), foi arrematada por R$ 6,4 milhões. O lance demonstra ter sido um bom negócio para o comprador. O imóvel foi colocado à venda por R$ 8 milhões, mas no primeiro leilão ninguém se arriscou a pagar o lance mínimo. Na segunda vez, saiu com um desconto de R$ R$ 1,6 milhão.

A mansão de Sérgio Cabral pode ser considerada a casa dos sonhos para muitos que desejam uma casa na praia. O imóvel, que era cenário para festas da elite política e empresarial do Rio, fica na paradisíaca Praia São Braz. Tem um total de 462 metros quadrados, onde estão distribuídas cinco suítes, sauna e churrasqueira, além de dois quartos de empregados. No quintal, há sala de ginástica, sauna com paredes de vidro, churrasqueira e duas piscinas.

O valor milionário da casa de Cabral impressiona, mas não chega nem perto do iate do empresário Eike Natista, que chegou a ser considerado um dos homens mais rico do mundo e depois entrou em desgraça. A embarcação foi vendida em leilão realizado no mês de dezembro passado, pela ‘bagatela’ de R$ 14,4 milhões.

R$ 14,4 milhões

Esse foi o valor pago pelo iate do empresário Eike Batista.

O iate Pershing SPA, modelo 115, com capacidade para 21 passageiros, tem quatro quartos, sendo duas suítes, além de três cabines, cozinha e espaço para guardar dois jet skis. O comprador ganhou um desconto atrativo, de R$ 3,6 milhões. A embarcação estava avaliada em R$ 18 milhões.

De acordo com informações do leiloeiro Renato Guedes, nomeado pelo juiz Marcelo Bretas e responsável pela venda do iate de Eike, o comprador pagou uma entrada de 25% (R$ 3,6 milhões) do valor total e o restante foi dividido em 30 parcelas.

Os bens de alto valor não se resumem à mansão de Cabral e ao iate de Eike. No começo deste ano, após dois leilões sem oferta, a Justiça determinou a reavaliação da lancha “Manhattan Rio”, que pertencia ao ex-governador. O primeiro leilão foi realizado em outubro do ano passado, com lance mínimo de R$ 4 milhões. O segundo ocorreu uma semana depois. Mesmo com um desconto de R$ 800 mil, ninguém fez oferta. Com isso, o juiz Marcelo Bretas determinou uma reavaliação da embarcação.

Dos bens de envolvidos com Cabral também destacam vários imóveis dúplex, a maioria na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. Um deles, com 268 m² e 4 vagas na garagem, em um condomínio de alto padrão na avenida Lúcio Costa, foi avaliado em R$ 5,4 milhões. Outro dúplex, também na Barra, com 249m² e 2 vagas de garagem, localizado no condomínio de luxo Les Residences Saint Tropez, foi avaliado em R$ 4,27 milhões. Um terceiro duplex também fica na avenida Lúcio Costa, condomínio Atlântico Sul. Tem 289m², 2 vagas de garagem e piscina no terraço do prédio. O valor? R$ 3,5 milhões, mas foi colocado em leilão com lance mínimo de R$ 2,8 milhões.

A lista dos bens de Cabral leiloados é longa. Na ‘série veículos’ estão um Land Rover Discovery (R$ 251 mil), um Land Rover Freelander (R$ 156 mil) e um Hyundai Azera (R$ 78 mil). O Land Rover Discovery despertou interesse de um empresário do setor de saúde, que não quis se identificar, por ter blindagem nível 4, que suporta tiros de fuzil, o que raramente é permitida para o cidadão comum, mas que havia sido concedida a Cabral por ele ser governador.

Alguns bens demonstram o nível de esbanjamento com o dinheiro proveniente da corrupção. Um relógio Cartier, por exemplo, foi avaliado em R$ 14 mil, com lance mínimo de R$ 11,2 mil. Outro relógio, um Montblanc, teve avaliação de R$ 9 mil e lance mínimo de R$ 7,2 mil.

Também foram vendidos três apartamentos do operador de Cabral, Ary Filho, na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, de frente para o mar, por R$ 9 milhões.

Sérgio Cabral é carioca, tem 56 anos, foi deputado estadual, senador e governador do Rio por dois mandatos, entre 2007 e 2014. Não existe um cálculo exato do montante de recursos desviados pelo esquema que o ex-governador é acusado de liderar, mas segundo dados do Ministério Público Federal (MPF), somente a rede de doleiros que serviu a Cabral movimentou em cinco anos cerca de R$ 6,2 bilhões. Cabral já foi denunciado 29 vezes pelo MPF por suspeita em corrupção enquanto governava o Rio e está preso desde novembro de 2016. Até agora, somando todas penas, o ex-governador já foi condenado a mais de 200 anos de prisão na operação Lava Jato.

Eike Batista pegou pena menor. Foi condenado a 30 anos de prisão e ao pagamento de multa de R$ 53 milhões pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de pagar propina no valor de US$ 16,5 milhões (cerca de R$ 60 milhões) a Cabral. Atualmente, Eike se encontra em prisão domiciliar. (CM)

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