• Carregando...
Juros altos - protesto
Manifestação de trabalhadores organizada por centrais sindicais, na Avenida Paulista, em São Paulo, contra os juros e alta de preços.| Foto: Reprodução/CUT/Facebook

Com a nova alta de juros anunciada nesta quarta-feira (15) pelo Banco Central, de 12,75% para 13,25% ao ano, o Brasil reforça a 1ª colocação no ranking mundial de juros reais (descontada a inflação), acima de México, Colômbia, Chile e Indonésia, de acordo com o ranking da gestora Infinity Asset. O aumento dos juros no Brasil veio no mesmo dia em que o Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos, elevou as taxas do país para a faixa de 1,5% a 1,75% – alta histórica de 0,75 pontos percentuais.

A onda de elevação dos juros atinge países em todo o mundo, mas nem todos enfrentam problemas graves como o Brasil, com inflação acima de 11%, alto desemprego e crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB). Nos EUA, por exemplo, o desemprego ficou em 3,6% em maio, além do fato de que as taxas de juros praticadas lá são muito inferiores.

Ranking de tacas de juros reais
As maiores taxas de juro real praticadas atualmente no mundo. Fonte: Infinity Asset

Outro fator observado por economistas é que a maioria dos países pesquisados não elevou suas taxas de juros recentemente. “No computo geral, entre 167 países, 62,28% mantiveram os juros, 33,53% elevaram e 4,19% cortaram”, diz o relatório da Infinity Asset. Isso mostra que o Brasil está no grupo do 1/3 de países que elevaram juros.

Quando a comparação é feita pelas taxas nominais de juro, a situação do Brasil também é muito ruim. De acordo com o levantamento, em termos nominais, o Brasil fica na 3ª colocação, abaixo de Argentina e Turquia, mas acima de pares internacionais como Rússia, que cortou juros a 9,5%, Chile, México, Colômbia e Polônia.

Diversos setores da sociedade brasileira se posicionam contra o aumento de juros, de empresários a trabalhadores. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou como desnecessária a alta anunciada pelo BC nesta quarta-feira (15). Para a entidade empresarial, as elevações feitas neste ano já eram suficientes “para desacelerar a inflação nos meses seguintes” e o novo aumento trará efeitos negativos na economia, como “queda do consumo, da produção e do emprego”.

Países sem taxas de juro real ou com taxa negativa. Fonte: Infinity Asset.
Países sem taxas de juro real ou com taxa negativa. Fonte: Infinity Asset.

Um dia antes, na terça-feira (14), as principais centrais sindicais do país, CUT, Força Sindical, UGT, NCST e CTB, promoveram um protesto na Avenida Paulista, em frente ao Banco Central, contra as altas taxas dos juros no Brasil e contra a carestia. “Cada 1 ponto percentual que aumenta na taxa de juros, quase R$ 40 bilhões por ano são transferidos dos pobres para o sistema financeiro”, afirmou o presidente da CUT, Sérgio Nobre, durante a manifestação.

Considerada um dos poucos remédios que o BC tem para conter a inflação, a alta de juros pode provocar efeitos colaterais altamente danosos. Os dados mostram que juros altos encarecem o crédito, o que reduz investimentos, aumenta a inadimplência e, com isso, afeta o crescimento econômico. Juros “atrativos” também favorecem a especulação financeira: quem tem dinheiro, em vez de fazer investimento na economia real, faz aplicação no mercado, ampliando o chamado rentismo.

Outro agravante é que aumentos de taxas de juros em países desenvolvidos trarão sérios problemas para países em desenvolvimento, como o Brasil. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial alertam para possíveis dificuldades para estes países se as taxas do Fed (EUA) subirem muito rapidamente; e isso é o que aconteceu nesta quarta-feira (15). Com elevação das taxas de juro nos Estados Unidos ou em outras economias desenvolvidas, os investidores retiram fundos de mercados emergentes.

Embora o “remédio” da alta de juros para segurar a inflação tenha funcionado em grande parte dos países, há casos que não deu certo. O resultado foi estagflação, um fenômeno em que o país mergulha em recessão econômica ao mesmo tempo em que a inflação e o desemprego avançam. É este cenário que nenhum país hoje em condições semelhantes à do Brasil espera mergulhar, mas os riscos existem.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]