• Carregando...
Aceno de Trump a Maduro embaralha jogo político na Venezuela
| Foto: Tia Dufour/Casa Branca e Marcelo Garcia/AFP

Em entrevista ao jornal digital Axios na última sexta-feira (19), o presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu ter dúvidas sobre sua decisão de reconhecer o líder oposicionista Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e disse estar aberto a um encontro com o presidente Nicolás Maduro.

Sobre o apoio a Guaidó, Trump declarou: “Acho que eu não era necessariamente a favor, mas eu declarei (apoio) – algumas pessoas gostaram, outras não”. Quanto ao possível encontro com Maduro, o presidente norte-americano foi mais claro: “Poderia pensar nisso. Maduro gostaria de se reunir. Sabe, raramente me oponho às reuniões”.

Trump com Guiadó na Casa Branca: presidente dos EUA deixou dúvida sobre apoio a oposicionista.
Trump com Guiadó na Casa Branca: presidente dos EUA deixou dúvida sobre apoio a oposicionista.| Reprodução Twitter/Juan Guiadó

Logo após a divulgação de trechos da entrevista, no domingo (21), o presidente venezuelano se apressou em declarar que aceita se reunir com Trump. “Estou disposto a conversar respeitosamente com o presidente Donald Trump. Da mesma forma que conversei com Biden (Joe Biden, ex-vice-presidente durante o governo de Barack Obama), poderia conversar com Trump, com base no respeito mútuo”, disse Maduro à Agência Venezuelana de Notícias.

O ensaio de aproximação, além de resgatar uma antiga relação de simpatia do governo Maduro a Trump, tem potencial para mudar o jogo político na Venezuela no momento em que o país se organiza para as eleições que vão escolher os novos deputados da Assembleia Nacional e grande parte da oposição debate um boicote.

A preferência de Maduro pelo republicano Trump na disputa política interna nos EUA ficou clara durante as eleições presidenciais de 2016, como também teve apoio financeiro do bolivarianismo. O governo do presidente da Venezuela doou US$ 500 mil (mais de R$ 2,5 milhões) para a cerimônia de posse Trump. A doação feita pela Citgo Petroleum, subsidiária americana da petroleira estatal venezuelana PDVSA, foi divulgada pela Comissão Federal Eleitoral. O valor doado pela Citgo superou o de algumas gigantes norte-americanas, como Pepsi (US$ 250 mil), Walmart (US$ 150 mil) e Verizon (US$ 100 mil).

Após a vitória de Trump, o governo de Nicolás Maduro parabenizou o presidente eleito, expressando que esperava uma nova fase nas relações com os americanos, baseada "na não-intervenção em assuntos internos". Durante a campanha eleitoral, Maduro deixou transparecer que preferia Trump por considerar a democrata Hillary Clinton mais intervencionista. As “boas relações” com o republicano, no entanto, azedaram nos anos seguintes em tal nível que chegou a ser colocada na mesa a hipótese de os EUA invadirem a Venezuela para derrubar Maduro.

Agora, a possibilidade de um encontro de Trump com Maduro deixa a oposição e o líder opositor Juan Guaidó, autodeclarado presidente e reconhecido por mais de 50 países, em dificuldade para a disputa das eleições à Assembleia Nacional, previstas para o final do ano. As chances de tirar Maduro do poder antes do pleito, que já haviam tornado pequenas devido a pandemia de coronavírus, seriam reduzidas a quase zero, segundo analistas da política venezuelana.

A oposição liderada por Guiadó entrou em baixa desde uma frustrada tentativa de invasão à Venezuela por mercenários, no início de maio, para sequestrar Maduro e entregá-lo às autoridades dos Estados Unidos, que oferecem recompensa de US$ 15 milhões (R$ 86 milhões) por informações que levem à prisão do presidente venezuelano. O plano, comandado pela empresa de segurança americana Silvercorp, teria ligações com a oposição venezuelana, o que Guaidó nega.

Maduro em reunião com oposicionistas
Maduro avança em negociação com minoria oposicionista para realizar eleições legislativas este ano.| Reprodução/VTV

Agora, Maduro aproveitou o ensaio de aproximação com Trump para impulsionar as conversas com setores da oposição que não apoiam Guaidó. O governo firmou seis acordos com esses setores oposicionistas para a instalação de uma mesa de negociações voltadas à realização das eleições legislativas.

Nos EUA, a reação dos oposicionistas e também de alguns aliados de Trump após a entrevista ao site Axios fez com que a Casa Branca tentasse consertar o estrago. Pelo Twitter, o Conselho de Segurança Nacional (NSC, na sigla em inglês) reiterou que o governo Trump continua reconhecendo Guaidó como o legítimo presidente da Venezuela. "O governo continua com seu apoio inabalável ao presidente interino Guaidó, à Assembléia Nacional democraticamente eleita e ao povo venezuelano", publicou o NSC.

Carlos Vecchio, embaixador da Venezuela nos Estados Unidos designado por Guiadó, também foi às redes sociais para tentar desfazer o imbróglio gerado pela entrevista de Trump. “Agradecemos ao presidente Trump pelo apoio irrestrito e consistente de sua administração e de todas as instituições dos EUA à luta do governo interino do presidente Guaidó”, escreveu no Twitter.

Apesar do remendo, o estrago já está feito também na disputa política interna dos EUA. Citado por Maduro por um encontro ocorrido em 2016, o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, disse que “Trump golpea a Venezuela, mas admira ditadores como Maduro”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]